Juros: a única coisa em que não querem que o Brasil imite o mundo

O Brasil  vive ainda sob um império colonial.

Onde o capital rentista é a metrópole que não se contesta.

O país avança, progride, enriquece mas, como quando do “quinto” da Coroa portuguesa, vive sob o tacão de uma apropriação feroz de suas riquezas feita pela via dos juros.

A rigor, é até inacreditável que o país continue crescendo com taxas de juros públicas que, em qualquer parte do mundo, estariam levando uma nação à recessão.

Não levaram, mas  certamente levaram à capitulação a política desenvolvimentista que visava a normalizar estas relações financeiras.

E mais inacreditável ainda que a oposição política a este modelo não seja a que quer reduzi-las, mas a que quer aumentá-las ainda mais.

O quadro acima (você pode vê-lo completo aqui e aqui) dispensa explicações.

Os juros, no Brasil, estão distantes de serem uma questão econômica: são caso de política, para não dizer de polícia, pelo assalto continuado que nos representam.

Por muito menos os norte-americanos jogaram ao mar as caixas de chá.

Mas eles, claro, pretendiam ser uma nação e contavam com uma elite que desejava isso, ardentemente.

Sem mais, ao texto cheio de lucidez de Saul Leblon, hoje, na Carta Maior.

O Vesúvio rentista

Saul Leblon

Há um vulcão fumegando nas entranhas da economia brasileira.

Avisos de lava  em ebulição são  emitidos aqui e ali desde abril passado.

Na última 4ª feira, ele cuspiu pela sétima vez na cabeça da Nação.

A nova elevação de  0,5 ponto  na taxa de juro reafirma  um  desarranjo  em  profundezas intestinas.  

Vozes  tranquilizadoras  adiantam que uma 8ª, quem sabe  9ª, irrupção do Vesúvio rentista é inevitável –benéfica, de fato.

O que se passa de fato no interior da cratera  que ora urra, ora faísca e ameaça explodir tudo, é de qualquer forma sonegado à população.

Explicações sumárias, supostamente técnicas, ofuscam mais do que esclarecem.

Os juros sobem porque  é preciso conter a inflação, explica o coral que convida para o grande baile da restauração ortodoxa.

Mas ao subir não  inibiriam eles  o investimento produtivo que se persegue como crucial?

E não atrairiam fluxos especulativos de capitais, que valorizam o Real e barateiam as importações  –com efeitos dissolventes na estrutura industrial, além de inibir as exportações?

Ademais de reduzir o nível de atividade , não penalizariam  a relação dívida/PIB  estreitando  a margem de manobra fiscal do governo –antessala de cortes ou protelações de investimentos públicos  inadiáveis? (Leia  a coluna da economista  Jaciara Itaim)

Desse nó nas tripas  o distinto público toma conhecimento apenas pelas  irrupções intermitentes.

Copiosas considerações de vulgarizadores  asseveram a pertinência da purga incandescente. O Vesúvio, antes de ser ameaça, é benção.
Toca o baile!  — aconselham  especialistas em convencer nações inteiras  a dançar  no ritmo das lavas fumegante, com resultados que não deixam Pompéia sozinha no museu das catástrofes.

O  nonsense  aparente  não é aleatório –faz parte da crise.

Entorpecer a agenda do país  é um recurso constitutivo da luta pela repartição da riqueza,  que só terá  desenlace progressista se a sociedade conquistar  o discernimento  histórico do que está em jogo nesse baile de máscaras.

Distinguir  a natureza dos interesses em confronto no salão, ademais das escolhas que eles encerram  –e as suas implicações, não é café pequeno.

Requer, por exemplo,  libertar-se da hipnótica orquestração comandada a partir  do Jornal Nacional.

E adquirir imunidade aos esporões liberados pelos  vulgarizadores, que alardeiam os interesses dos endinheirados como se fossem os de toda a nação.

Interditar o debate político da encruzilhada  brasileira  é uma forma de circunscrever as opções  do país  aos estritos limites da boca do vulcão rentista.

As eleições presidenciais de 2014 se oferecem como a oportunidade concreta de ir além das lamúrias e da rendição.

Vence-las, sem dúvida é o imperativo.

O que se deve perguntar  é como essa vitória deve ser construída para que não seja apenas inercial, mas erga pontes ao passo seguinte da luta pela construção da democracia social brasileira.

A barragem de votos pode  alterar as bases de um diálogo do qual a sociedade hoje sai invariavelmente chamuscada?

Quando o  Vesúvio  expele sua lava incandescente é como se dissesse não: 
‘O Estado pode flertar com o pleno emprego, mas o estoque da riqueza financeira não deve ser depreciado; e a fatia que ele detém no  fluxo da renda é intocável’.

Ou seja, ‘mãos ao alto, isso é um assalto: passe para cá os  3% do PIB  para pagar os juros da dívida pública e garanta uma  Selic com ganho real  acima da inflação que  nada lhe acontecerá’.

É tautológico dizer que o ‘governo petista  aceita’  as condições impostas  pelo mercado.

O governo se mexe na pinguela estreita que  a atual correlação de forças reserva  à mobilidade social brasileira.

Correlações de forças, a exemplo das vantagens comparativas na esfera econômica,  são uma construção histórica de cada povo e de cada época, não uma fatalidade da natureza.

Mas  existem. E tem peso objetivo não apenas no plano interno.

Um governo que entre em choque   com a tríade rentista (FMI, agencias de risco, grandes bancos) simplesmente não encontra  um guichê internacional para se abrigar dos caças bombardeiros  e assegurar um fluxo alternativo  da ordem de dezenas de bilhões de dólares .

 A inexistência desse contraponto  diz muito do aparente paradoxo entre a anemia eleitoral do conservadorismo  nativo e a sua força de sabotagem vocalizada pela mídia. 

Doze  anos de governos progressistas  elevaram a participação do salário no PIB para algo em torno de 51% no Brasil ( o dado disponível do IBGE é de 2009; estima-se que tenha se mantido assim até 2012).

No ciclo tucano (1995/2003) essa fatia  oscilou entre 49% e 46%.

Estamos falando, portanto,  de uma reversão na luta pela riqueza,  que até 2003 premiava invariavelmente   as rendas do capital.

O que o vulcão rentista passou a urrar, e cada vez mais alto, é que essa espiral  bateu no teto.

‘No passara’, avisa.

O interdito afeta todo o metabolismo econômico  e contribui significativamente para agravar os impasses  em curso.

A saber: descasamento entre demanda e infraestrutura, desequilíbrio cambial, desindustrialização dissolvente  e déficit preocupante  em contas correntes.

Não é uma questão de ‘inconsistência do modelo petista’, como alardeiam os zeladores do dinheiro grosso alocados nas editorias de economia.

É uma questão de conflito de interesses.

A macroeconomia não opera em uma  dimensões celestial onde vigem os mercados autorreguláveis, os agentes racionais e seus querubins  midiáticos.

O chão da macroeconomia é a correlação de forças e os sinais são de que ela mudou o patamar de sua tensão no país.

Elevar o discernimento social sobre essa encruzilhada e se preparar para superá-la, erguendo linhas de passagem entre as eleições de outubro e o futuro, é a opção concreta que se coloca à frente progressista brasileira.

Lamúrias radicais diante de um vulcão não logram vantagem nem no quesito decibéis.

Mas tampouco aquiescer aos seus ditames garantirá a indulgência das lavas, como parece crer um certo economicismo  que aconselha ir às urnas vestido de estátua de cinzas.

Fernando Brito:

View Comments (11)

  • Quando o BC aumenta os juros isso me lembra daquele médico incompetente que receita sempre o mesmo remédio, que vai debilitar o paciente e nem se sabe se vai resolver o problema do paciente. Só que isso atende aos interesses da indústria de medicamentos (no caso, os banqueiros).

    Obs. a dívida pública (incluindo juros) absorve 43,98% do orçamento federal. Para a saúde restam somente 4,17% desses recursos; 3,34% à educação; 0,7 aos transportes; 0,39% à segurança e 0,01% à habitação. Parabéns ao BC, parabéns aos banqueiros!

  • A inflação, é certo, vai baixar, e aí os arautos dos juros altos dirão que estavam certos. É de lascar. Mas a grande reforma política a ser feita é a da mídia. Aliás, quem deveria dar explicações sobre juros altos era o Bernardo, o ministro mais poderoso do governo Dilma.

  • Se a cada notícia de aumento de juros, viesse uma nota explicativa mostrando o quanto isso representa em Reais (se não for pedir muito, usar ainda as tabelas, demonstrando o quanto é gasto com saude, segurança e educaçao - pauta de qualquer candidato), o povo começaria uma revolução!

  • Aumentam os juros para que a inflação não dispare, mas Já viram os preços do produtos como estão altos? Por ex: O arroz, o feijão, o achocolatado, a carne, a gasolina, a gasolina em um posto próximo a minha casa, antes do aumento custava R$ 2,89 agora está R$ 3,20. Os juros então deveria voltar para 45% como era na época de FHC.

  • Dilma prometeu juros no Brasil no patamar internacional, disse que os juros iriam cair. As manifestações de junho de 2013 reverteram a tendencia e os juros maiores foram a resposta do governo à crise, ou seja, ao Itaú.

  • Aumentar os juros não barra inflação PORRA NENHUMA. Isso é conversa mole para boi dormir. Aumentar o COMPULSÓRIO DOS BANCOS dá resultados muito melhores pois reduz o crédito para o consumo. O que ocorre é que os BANCOS ganharam mais uma do governo. Que parece não ter muita gana de enfrentar os PULHAS RENTISTAS.

    ANOS tuKKKânus LEWINSKYânus NUNCA MAIS !!! NO PASSARÁN !! VIVA GENOÍNO !! VIVA ZÈ DIRCEU !! VIVA A LIBERDADE, A DEMOCRACIA E A LEGALIDADE !! VIVA LULA !! VIVA DILMA !! VIVA O PT !! VIVA O BRASIL SOBERANO !! LIBERDADE PARA JULIAN ASSANGE, BRADLEY MANNING E EDWARD SNOWDEN JÁ !! FORA YOANI e MÉDICOS COXINHAS !! ABAIXO A DITADURA DO STF DE 4 PARA A GLOBO !! ABAIXO A GRANDE MÍDIA CORPORATIVA, SEU DEUS 'MERCADO', LACAIOS & ASSECLAS !! CPI DA PRIVATARIA TUCANA, JÁ !! LEI DE MÍDIAS, JÁ !! "O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO - O que passa SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"

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  • Bom.
    Quem não quer, parece estar conseguindo e não com
    muita dificuldade....
    A Dilma esta sabendo...???

  • Os juros não vão abaixar enquanto a taxa de poupança for baixa. Os impostos perto de 40% não dão espaço para a formação de poupança. E o PIB não cresceu como esperado mesmo com os juros em torno de 7%, infelizmente.

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