Justiça Eleitoral: “não mexam no meu, dane-se a lei”

A esdrúxula portaria da Justiça Eleitoral dizendo que não pode realizar as eleições municipais de 2016 se no contingenciamento  a que está sendo obrigado o Governo eleitoral – obrigado, sim, porque há dinheiro, mas não Orçamento e a Presidenta se expõe a ser enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal – se o Executivo não lhe der, já e já, os R$ 200 milhões para comprar urnas eletrônicas é uma das maiores demonstrações de cinismo que já assisti na vida.

“A demora ou a não conclusão do procedimento licitatório causará dano irreversível e irreparável à Justiça Eleitoral. As urnas que estão sendo licitadas tem prazo certo e improrrogável para que estejam em produção nos cartórios eleitorais. Na espécie, não há dúvida que o interesse público envolvido há que prevalecer, ante a iminente ameaça de grave lesão à ordem, por comprometer as Eleições Eletrônicas Municipais de 2016”, diz o texto.

Mas porque as eleições não podem ser feitas com as mesmas urnas que usamos no ano passado?

Ah, porque precisam ser colocadas novas urnas que aceitem a identificação biométrica, complicada e, pior, inócua.

Não se tem notícia de fraude fazendo uma pessoa votar em lugar de várias outras. Montar uma fraude assim é antes de tudo, burro: para obter 300 votos, seria necessário mobilizar 30 pessoas, cada uma delas votando 11 vezes (as 10 falsas e a sua, verdadeira), com 300 identidades ou títulos eleitorais falsos e acesso aos arquivos do TSE, pois não daria certo se o eleitor “clonado” já tivesse aparecido para votar. O “esperto” se arriscava a ser detido num piscar de olhes e a fraude na identidade verificada.

E isso para conseguir uma quantidade de sufrágios que só é garantia de eleição em municípios muito pequenos.

No municipio onde moro, a introdução das urnas eletrônicas causou uma confusão, com atrasos e filas fenomenais e mereceu um comentário deliciosamente mortal do presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Bernardo Garcez, que definiu: “as urnas biométricas foram uma solução para um problema inexistente”.

Em dúzias de países, onde se acha necessário cuidar que um eleitor não vote mais de uma vez, faz-se um tracinho com tinta que não sai por 24 horas e ninguém acha absurdo. As jovens da Índia, aí na foto, não parecem nada aborrecidas com a marquinha na ponta do dedo, assinalando que já votaram. A Índia, como se sabe, tem tecnologia para fazer foguetes orbitais e até uma bomba atômica, será que não saberia fazer um “bota-dedão” biométrico?

Mas no Brasil o dinheiro está sobrando, não é?

Nunca vi ou imaginei que um tribunal pudesse dizer a um governante: “descumpra a lei, mas não mexa no meu dinheiro”.

Ou será que já vi, não com o dinheiro, mas com a reputação, nas prisões da semana passada?

Só faltou suas excelências mandarem cortar nos remédios, na merenda, no Bolsa-Família, mas não, nunca, jamais, em tempo algum, na sua compra de “urninhas pra dedão”.

 

Fernando Brito:

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  • A corrupção está em todos os 3 poderes da republica . Aí tem , quem são os fornecedores multinacionais e grandes empresas nacionais cooptadoras dos compradores de grandes projetos como esse. Quem se arrisca a tirar a raposa do galinheiro ?

  • A corrupção está nos 3 poderes mas o judiciário (com o auxilio luxuoso do MP) ganha disparado o troféu corrupção.

  • Em tudo sempre há no mínimo dois sentidos: há o “tarja preta” cuja única solução é a cadeia; há também a tarja preta que é eliminada por um banhinho no dia seguinte. O problema, no Brasil, é que os de toga preta são chegadinhos no “tarja preta”, pois boi branco conhece boi branco mesmo fantasiado de preto… Por isso os respectivos dedinhos dos toga preta, que são brancos, estão sempre sujinhos – não importa se de ontem, de hoje ou de amanhã. Tudo é uma questão de cinismo com todos os sentidos possíveis.

  • Querem acabar com a urna eletrônica.
    Quem sabe se voltando o voto em papel, e tendo que escrever o nome completo do candidato em letra legível, o número do candidato multiplicado por 9 e proibindo levar cola o eleitorado não fica mais elegante.
    Melhor, quem sabe se proibir novamente o analfabeto de votar e o voto de cada eleitor da classe média passe a valer 2 votos...
    Meu Deus, essa urna eletrônica é democrática demais... assim não dá, assim não pode.

    • Stan, como demonstram aqui os nossos trolls de estimação, o Brasil corre o risco de voltar à Idade Média... Não respeitam sequer o único espaço na rede no qual poderiam exercer efetivamente a liberdade do contraponto sadio da oposição... Não tem jeito, são colossais estúpidos morais já derrotados politicamente, muito antes de 2018. Não percebem que não temos medo... Fala Delcídio! Fala!!!!! Arreganha o bico deles...

  • Sinceramente, tem sujeito a serviço de outrem pra merdar aqui!....Ou então são mentecaptos mesmo!....

  • Se não fossem moças tão delicadas e educadas, eu pensaria que estes dedinhos em riste tivessem endereço certo, lá para o lado do TSE...

  • A urna eletrônica com identificação biométrica foi tão somente para se fazer novas urnas e gastar mais dinheiro. Agora com a obrigatoriedade do comprovante em papel, nós teremos uma votação confiável, pois aleatoriamente com a presença de representantes dos partidos, poderemos aferir os votos. Ainda bem que não tem dinheiro para urna biométrica senão teríamos um gasto a mais desnecessário.

  • Um problema profundo para a justiça eleitoral, profundo como uma poça d'água em meio ao caos que não cessa de ser provocado por uma oposição sem rumos para minar as forças de um país.

  • Pode-se dizer que com essa portaria o escarnio venceu o cinismo...

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