Gostei muito desse artigo, de Ignacio Godinho Delgado, professor de história da Universidade Federal de Juiz de Fora, que reproduzo abaixo.
O seu texto prova algumas coisas.
Que os autoritários guardam semelhanças em toda parte, na esquerda e na direita. Suprema ironia: os coxinhas que saíram às ruas protestando delirantemente contra um comunismo que não existe no Brasil, apoiam táticas judiciais arbitrárias que apenas se viram nos piores e mais brutais momentos do comunismo histórico.
O texto prova também que a mídia, desta vez, não conseguiu promover a lavagem cerebral de todo mundo.
Com suas técnicas de manipulação, sua psicologia de massa, prendendo “ricos e poderosos”, a mídia conseguiu enganar uma relativa e temporária maioria.
Mas não todos.
Há um núcleo antifascista que já percebeu a manobra. É a partir deste núcleo que se estruturá a resistência democrática ao ataque golpista das corporações midiáticas e seus interesses escusos.
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No Conversa Afiada.
OS PROCESSOS DE MOSCOU, O JUIZ (?) MORO E A MÍDIA BRASILEIRA: TRAÇOS TOTALITÁRIOS DE UMA EMPREITADA GOLPISTA.
Por Ignacio Godinho Delgado
A leitura recente de O homem que amava os cachorros, magnífico romance do cubano Leonardo Padura, trouxe-me de volta à mente as farsas judiciais montadas por Stalin na antiga URSS. Através do isolamento, chantagens, torturas físicas e psicológicas, dirigentes comunistas, militares, chefes de polícia, cientistas…, todos que representassem obstáculos ao processo de concentração do poder nas mãos de Stalin, confessavam crimes espetaculares e delatavam antigos companheiros por atividades anti-soviéticas. Antes e depois, o opróbio, a execração pública, por via de orquestrada campanha na imprensa e nos meios de comunicação.
Naturalmente que não vivemos estes tempos, embora certa direita, por ignorância ou má fé, pretenda ver riscos de comunização e bolivarianismo (seja lá o que isso for) em governos que, desde 2003, a par de promoverem medidas singelas, mas efetivas, de inclusão social, colocaram sempre em posições chave do Executivo representantes do agronegócio, do empresariado urbano e do capital financeiro, além de conduzirem uma política macroeconômica rigorosamente conservadora. Os elementos totalitários da situação brasileira não estão do lado do espectro político que tem o PT como principal expressão. Delações derivadas de isolamento e chantagem, antecipadas e seguidas de espetacular campanha para execração pública das pessoas supostamente atingidas (desde que ligadas ao PT e aos governos que lidera), partem sabidamente da articulação que reúne segmentos golpistas da oposição e a nossa velha mídia, sob controle das mesmas famílias que cumpriram triste papel em episódios cruciais da história brasileira, a exemplo de 1954, com a ação contra Vargas, e em 1964, com o apoio ao golpe.
Moro não é Stalin, nem Youssef, Roberto Costa e Ricardo Pessoa têm qualquer semelhança com Bukharin, Kamenev e Yagoda, para nomear alguns delatores nas duas situações apontadas acima. Stalin era o dirigente máximo de um regime totalitário. Moro é um apenas um peão no jogo da oposição. Seus métodos, contudo, obviamente em escala e intensidade infinitamente menor, são os mesmos, para propósitos diversos. Para Stálin, a preservação, a ferro e a fogo, de uma situação tirânica. Para Moro, o desgaste de um governo eleito legitimamente. Nos dois casos, contudo, procedimentos insustentáveis para qualquer abordagem jurídica civilizada, como o atesta o insuspeito Marco Aurélio Melo. Nos dois casos, a instrumentalização do Estado (para usar uma expressão cara à oposição), com organismos de investigação e personagens do Ministério Público (no Brasil alguns jovens e intocáveis procuradores, que não se constrangem de revelar simpatias oposicionistas), cumprindo um papel descaradamente político.
Os elementos totalitários da situação brasileira complementam-se com a identificação do inimigo do povo, que reuniria em si a capacidade de produzir todo o mal existente na sociedade. É o petista. Ele é o trotskista da URSS stalinista; o comunista, o judeu, o cigano, da Alemanha nazi. A corrupção é apontada como inerente à condição petista e só pode ser extirpada se seu hospedeiro também o for. Não importa que nos últimos anos tenha sido criado o Portal da Transparência, a Controladoria Geral da União, reequipada a Polícia Federal e acentuada sua autonomia e a do Ministério Público. Não importa que os delatores assinalem que alguns esquemas investigados tenham nascido antes da ascensão do PT ao governo federal (quando finalmente começam a ser investigados) e que um empresário tucano, relatando suas desventuras em licitações desde a ditadura militar, alerte que nunca se roubou tão pouco no Brasil, porque finalmente a corrupção está sendo investigada e punida (http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/11/1551226-ricardo-semler-nunca-se-roubou-tao-pouco.shtml). Não interessa debater as raízes institucionais da corrupção e fazer as reformas que possam debelá-las. Importa é execrar, submeter o petista ao opróbio, ensejando as manifestações fascistas que têm atingido diversos personagens ligados ao partido. Quando virá a primeira morte?
A direita brasileira sempre se valeu das denúncias de corrupção para atacar seus adversários trabalhistas, do PTB ao PT, dada a dificuldade de obter êxito eleitoral com suas propostas reais. Imaculados Aloysio Nunes, Aécio Neves, Ronaldo Caiado… Apenas com FHC, por conta do êxito do Plano Real na contenção da hiperinflação, as forças políticas cuja linhagem remonta à velha UDN venceram diretamente as eleições presidenciais. Jânio e Collor eram outsiders e nuclearam seu discurso eleitoral na abordagem moralista do tema da corrupção. Nenhum dos três enfatizou as disposições de acentuação da subordinação externa da economia brasileira e de dissolução do legado trabalhista, centrais à visão de mundo udenista e peessedebista. Nos últimos tempos, após três derrotas seguidas, tais forças têm dado vezo a atitudes intolerantes, o ovo da serpente do totalitarismo, estimuladas por uma mídia, cujos elos com o capital financeiro foram desvendados por estudo seminal de Francisco Fonseca (2005), e que, hoje, precisa mais que nunca do golpe, para salvar-se da insolvência anunciada, através de contratos polpudos com o governo, a exemplo do que ocorre em São Paulo (http://www.viomundo.com.br/denuncias/namarianews-governo-paulista-desova-mais-de-r-155-mi-na-abril-folha-estadao-istoe-epoca-e-panini.html).
O acirramento da última campanha eleitoral, o atropelo na condução da política de ajuste fiscal e a tragédia que é a comunicação do governo Dilma favoreceram o cenário de intolerância que hoje vivemos. Todavia, nos próximos meses não há coisa mais importante a fazer do que resistir ao golpe. Vitorioso, vai-se o Pré-Sal, o que nos resta de soberania nacional e parecerão suaves as dificuldades que hoje atingem o mundo do trabalho.
FONSECA, F. (2005) O Consenso Forjado – a grande imprensa e a formação da agenda ultraliberal no Brasil. São Paulo: Hucitec
Ignacio Godinho Delgado é professor de História e Ciência Política na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED). Doutorou-se em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1999, e foi Visiting Senior Fellow na London School of Economics and Political Science (LSE), entre 2011 e 2012.
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O governo Dilma tem que colocar uma Placa na entrada do Palácio do Planalto com a frase do Chacrinha. " QUEM NÃO SE COMUNICA SE TRUMBICA". Por ser sabotado pela imprensa é imperioso encontrar uma saída e se comunicar com a população, pois se não o fizer estará sendo conveniente com o golpistas velhos conhecidos nesse país.
PRECISAMOS CLAMAR POR MINISTROS E ASSESSORES DE PESO... NÃO VAMOS AGUENTAR COM ESTA CAMBADA DE INCOMPETENTE. CYRO GOMES, pelo amor de Deus, caso contrário, vamos ruir... de tanta inércia e incapacidade de combater 4 PIGs - que mandam e desmandam no Brasil, apoiados por Caiado e Tucanos gordos. A Polícia precisa investigar este povo - doa a quem doer, acabem com propagandas do governo nestes PIGS indecentes e busquem uma TV alternativa que apoie o Governo - Tipo RECORD, é urgente.... Precisamos falar e investigar rapidamente - Furnas, saúde em minas, aeroporto do aécio, Lista do HSBC... outros e outros... não dá para toda esta máfia nos atacarem diariamente... somente o PT, Lula e dilma?... e se colocarem como salvadores do Brasil em tudo que é mídia(Caiado nos salvar - é brincadeira de mal gosto)... Não dá para aceitarmos isto... é muita desilusão.
Caro Fernando, nada a ver esse artigo. infeliz comparação.
Leia esse insuspeito depoimento:
JOSEPH E. DAVIES
Passando por Chicago, a caminho do lar, em princípios do mês de junho, fui convidado pela minha antiga Universidade para falar no Clube Universitário, em combinação com as sociedades de Wisconsin. Era justamente três dias depois de Hitler ter invadido a Rússia. Alguém na reunião perguntou: “Que há sobre a ‘quinta-coluna’ na Rússia?”. Imediatamente respondi: “Não existe, seus membros foram todos fuzilados”.
No trem, esse dia, aquele pensamento permaneceu patente em meu cérebro. É alguma coisa extraordinária, quando se começa a pensar sobre isso, que, nesta última invasão nazista, nenhuma palavra tenha aparecido por trás das linhas russas, sobre o “trabalho interno”. Não houve e não se produziu a tão esperada “agressão interna” na Rússia em cooperação com ao Alto Comando Germânico. A marcha de Hitler sobre Praga, em 1939, foi acompanhada de ativo apoio militar prestado pelas organizações de Henlein na Tchecoslováquia. Da mesma maneira foi invadida a Noruega. Na vida interna da Rússia não houve Henleins sudetos, Tisos eslovacos, nem Degrelles belgas, nem Quislings noruegueses.
TÉCNICA NAZISTA
Pensando sobre essas coisas, iluminou-se repentinamente meu espírito e deduzi novos esclarecimentos sobre os sucessos ocorridos na Rússia durante a minha estada naquele país. Ao chegar em Washington, apressei-me a ler meus velhos apontamentos e, com licença do Departamento de Estado, li algumas das minhas informações oficiais.
Nenhum de nós, na Rússia, em 1937 e 1938, pensava sobre a significação das atividades da “quinta-coluna”. A frase não era corrente. É relativamente recente o emprego em nosso idioma de frases descritivas da técnica nazista, tais como “quinta-coluna”, “agressão interna”, etc.
Em geral, os mais bem informados duvidavam que tais métodos pudessem ser empregados por Hitler; era uma dessas coisas que muitos acreditavam não ser possível realmente de acontecer. Unicamente nos dois últimos anos, quando, graças ao Comitê Dies e à A.F.I., foram descobertas atividades de organizações alemãs nos Estados Unidos e na América do Sul, é que vimos a atual manobra dos agentes alemães operando em colaboração com elementos locais, com os traidores da Noruega, Tchecoslováquia e Áustria, os quais traiam os seus países internamente, executando fielmente os planos de ataque de Hitler. Essas atividades e métodos, aparentemente, existiram na Rússia, como parte do plano alemão contra os Soviets, desde 1935.
Foi em 1936 que Hitler pronunciou seu famoso discurso em Nuremberg, no qual assinalava patentemente seus desígnios com relação à Ucrânia.
O Governo Soviético, vê-se agora, já estava, então, sutilmente atento em relação aos planos dos principais militares alemães e de seus comandos políticos, assim como do “trabalho interno” que se vinha desenvolvendo na Rússia, como preparativo para o futuro ataque germânico.
Enquanto pensava sobre esta situação, vi, de súbito, o quadro que devia ter visto nessa época, como devia tê-lo visto anteriormente. Os acontecimentos tinham sido revelados na tão falada traição ou processos de expurgo de 1937 e 1938, que eu assisti e ouvi. Ao reexaminar os arquivos desses assuntos e também o que eu tinha escrito naquela ocasião, deste novo ângulo, achei que, praticamente, todos os estratagemas de atividades da “quinta coluna” alemã, agora conhecidos, foram descobertos e postos a nu pelas confissões e testemunhos extraídos desses processos pela própria confissão dos que se propunham a ser os “Quislings” russos.
Outro fato, que era difícil de compreender naquele tempo, porém que toma uma nova significação em vista dos acontecimentos, era a maneira pela qual o Governo Soviético estava suprimindo as agências consulares da Alemanha e da Itália, em 1937 e 1938. Isso era feito de maneira despótica.
Houve um proposital e brutal desprezo pela sensibilidade dos países implicados. A razão dada pelo governo soviético foi a de estarem esses consulados empenhados em atividades subversivas, referentes à ordem interna e política do país, e que, baseada nesses fatos, os havia fechado. Os comunicados do processo da execução (expurgo), sobre toda a Rússia durante esse ano, imputavam invariavelmente aos acusados a responsabilidade de uma atividade desleal e subversiva, em prol de uma “potência estrangeira” que desejava a queda do Estado Soviético.
Todas as noites, depois do julgamento, os jornalistas norte-americanos vinham à Embaixada para comer e beber um pouco durante prolongadas sessões noturnas, para se inteirarem dos acontecimentos do dia que o processo lhes vedava conhecer. Entre esses estavam Walter Duranty e Harold Denny, do “The New York Times”, Joe Barnes e Joe Phillips, do “New York Herald Tribuni”, Charlie Nutter ou Dick Massock, da “Associated Press”, Norman Deuel e Henry Shapiro, da “United Press”, Jim Brown, da “International News” e Spencer Williams, representante do “Manchester Guardian”. Formavam um grupo excepcionalmente brilhante de homens. Cheguei a fazer-me amigo deles. Eram de inestimável valor para mim na apreciação e formavam um grupo excepcionalmente brilhante de homens. Eu mesmo tive de encarregar-me da defesa de indivíduos acusados de crimes, muitas vezes, durante minha vida profissional. Shapiro também era advogado, formado pelo Colégio de Jurisprudência de Moscou. Seu conhecimento das leis soviéticas me era muito útil. Os outros estavam, todos, familiarizados com as condições e as personalidades soviéticas e com a psicologia russa. Mantínhamos interessantes discussões que se prolongavam até altas horas da noite.
TRAIÇÃO
Todos os que estávamos em Moscou naquela época, comparativamente, prestávamos pouca atenção a esses aspectos do julgamento. Alguns de nós, parecia “que tínhamos chegado tarde”. Eu, certamente, cheguei tarde. Não há dúvida de que, em geral, concentrávamos nossa atenção na dramática luta pelo poder entre os de “dentro” e os de “fora” – entre Stalin e Trotsky – e o choque de personalidades e políticos do Governo dos Soviets, mais do que sobre algumas possíveis atividades da “quinta-coluna” germânica, que todos estávamos dispostos a subestimar naquele tempo. Em meu próprio caso, eu devia saber mais, pois dois fatos me colocaram de sobreaviso e chegaram ao meu conhecimento sem serem conhecidos pelos demais. Um deles, durante uma breve entrevista que mantive, pouco após minha chegada a Moscou, com um funcionário do Ministério de Assuntos Estrangeiros dos Soviet; o outro, verificou-se antes da minha chegada a Moscou, no Ministério das Relações Exteriores em Berlim, em janeiro de 1937, durante uma entrevista com o subsecretário do Estado alemão.
A informação revelada por estes julgamentos, descobriu a existência de atividades subversivas da “quinta-coluna” na Rússia, sob a forma de uma conspiração em conivência com os Governos do Japão e da Alemanha, de grande extensão. O texto do depoimento, que ficou arquivado a respeito do caso, é o seguinte:
“Os principais acusados tinham entrado numa conspiração de acordo com o Japão e a Alemanha, para ajudar esses Governos a atacarem o Estado Soviético. Concordaram em estar presentemente cooperando num plano para assassinar Stalin e Molotov, facilitando um levantamento militar contra o Kremlin, que seria dirigido pelo General Tukhatchevsky, segundo chefe do Exército Vermelho. Combinaram em executar, com o objetivo de entorpecer a indústria, a explosão dos laboratórios de química, a destruição das minas de carvão, a inutilização dos meios de transporte e praticarem outras atividades subversivas. Concordaram em executar e executaram tudo o que o Estado Maior Alemão solicitou por meio de instruções, que receberam do mencionado Estado Maior. Combinaram conspirar e, com efeito, assim o fizeram, em colaboração com o Serviço de Espionagem dos Governos germânico e nipônico. Combinaram cooperar, e de fato cooperaram, com os representantes consulares alemães nos assuntos relacionados com a espionagem e a sabotagem. Combinaram transmitir, e de fato transmitiram, à Alemanha e ao Japão informações vitais para a defesa da União Soviética. Combinaram entre eles mesmos e com os governos nipônico e germânico, cooperar com eles numa guerra contra o Estado Soviético e formar um Estado Soviético independente menor, o qual cederia grandes extensões da União Soviética: a Ucrânia e a Rússia Branca, a oeste, para a Alemanha; e as Províncias Marítimas de leste, para o Japão.
Concordaram em que, depois da conquista da Rússia pela Alemanha, as firmas alemãs obteriam concessões e receberiam vantagens em relação à exploração dos minérios de ferro, manganês, petróleo, carvão, madeira e os outros grandes recursos da União Soviética”.
Para apreciar perfeitamente o caráter e a significação desse testemunho, que ouvi pessoalmente, deve-se considerar que os fatos desta conspiração foram confirmados pelos depoimentos de dois membros do Gabinete, pelo Comissário do Tesouro e pelo Comissário do Comércio Exterior, por um ex-Primeiro Ministro do Governo; por dois ex-Embaixadores soviéticos que serviram em Londres, Paris e Japão; por um ex-subsecretário de Estado e pelo Secretário de Estado do Governo, assim como também por dois dos principais publicistas e editores dos mais importantes jornais da União Soviética.
Para se ter uma idéia mais exata, é como se o Secretário do Tesouro, Morgenthau; o Secretário do Comércio, Jones; o subsecretário de Estado, Walles; o Embaixador Bullit; o Embaixador Kennedy e o Secretário da Presidência deste país, Early, confessassem conspirar com a Alemanha para facilitar uma invasão dos Estados Unidos.
Eis aqui alguns trechos desses depoimentos:
Krestinsky, subsecretário de Estado, disse: “Chegamos a um entendimento com o general Seeckt e com Hess, para fazer o que permitisse à Reichswehr criar numerosos focos de espionagem no território da URSS. Em atribuição a isto, o Reich comprometeria-se a pagar 250.000 marcos, anualmente, como subsídio”.
Grinko, Secretário do Tesouro, afirmou: “Eu sabia e estava em ligação com agentes das organizações ucranianas, como também do Exército Vermelho, que estavam preparando para abrir as fronteiras ao inimigo. Eu operava particularmente na Ucrânia, isto é, na principal porta pela qual a Alemanha entraria com seus Exércitos para arrasar a União Soviética”.
Rosengoltz, Secretário do Comércio, declarou: “Eu conduzia várias informações secretas ao Comandante em Chefe da Reichswehr... em seguida, estabelecia ligações diretas com o Embaixador na URSS, ao qual, periodicamente, dava informações de caráter secreto”.
Sokolnikov, ex-Embaixador na Grã-Bretanha, expressou-se: “O Japão, no caso de participar na guerra, receberia concessões territoriais no Extremo Oriente, na Região do rio Amur e nas Províncias Marítimas; com relação à Alemanha, pensava-se em satisfazê-la com os interesses nacionais da Ucrânia”.
O depoimento de muitos dos acusados de menor projeção evidenciou que, por ordem dos principais culpados, se puseram em ligação direta com os Serviços de Espionagem dos governos nipônico e alemão, para cooperar com eles na espionagem e na sabotagem sistemática, ora cometendo, ora ajudando a cometer numerosos crimes. Por exemplo, Rataichak afirmou que ele havia organizado e que era responsável por duas explosões nas fábricas de adubos de nitrogênio, em Gorlavka, que causara enormes perdas de bens, como também de vidas humanas. Pushkin contribuiu ou assumiu a responsabilidade pelos desastres dos laboratórios de Química em Voskressensk e nas fábricas de Necvsky. Knyazev contou como planejou e executou a destruição de trens de tropas, ocasionando grandes perdas de vida, seguindo as diretivas ou instruções dos serviços de espionagem estrangeiros. Informou também como recebera instruções desses “serviços de espionagem”, “para organizar incêndios nos armazéns militares, cantinas e estações do Exército”, e sobre a necessidade de utilizar “meios bacteriológicos, em tempo de guerra, com o objetivo de contaminar os trens de tropa, as cantinas e os acampamentos militares com bacilos virulentos”.
Os depoimentos desses casos implicaram e inculparam o General Tukhatchevsky e muitos altos Chefes do Exército e da Marinha. Pouco depois do processo Bukarin, estes homens foram presos. Sob as ordens de Tukhatchevsky, essas pessoas estavam encarregadas de entrar em entendimento com o Alto Comando alemão, para cooperar no ataque contra o Estado Soviético. Numerosas atividades subversivas contra o Exército foram reveladas pelos depoimentos. Muitos dos mais altos oficiais do Exército foram influenciados ou aconselhados para entrar na conspiração. Conforme os depoimentos, uma total cooperação se estabelecera em cada ramo do serviço; o grupo revolucionário político, o grupo militar e os Altos Comandos da Alemanha e do Japão.
LIMPANDO A CASA
Tais foram as informações trazidas a este processo, como realmente ocorreram. Não havia dúvida de que as autoridades do Kremlin estavam grandemente alarmadas com essas revelações e confissões dos acusados. A rapidez da ação do Governo indica que seus membros acreditavam na sua evidência. Agiram para limpar a casa e o fizeram com a maior energia e precisão. Vorochilov, comandante em Chefe do Exército Vermelho, disse: “É mais fácil para um ladrão assaltar uma casa se tiver cúmplices lá dentro”. Nós nos encarregamos desses cúmplices.
Os General Tukhatchevsky foi à Coroação em Londres como projetara. Declarou ter sido designado para comandar o Exército do Distrito do Volga; as autoridades, porém, agiram de forma a tirá-lo do trem e prendê-lo antes de chegar ao seu destino. Poucas semanas depois, a 11 de junho, ele, com outros 11 oficias do Alto Comando, foram fuzilados de acordo com a condenação, depois do processo no Tribunal Marcial, cuja as atividades não foram dadas à publicidade.
Todos esses processos, expurgos e liquidações, que pareceram tão violentos noutro tempo e escandalizaram o mundo, são agora perfeitamente compreensíveis, como parte de um vigoroso e determinado esforço do Governo de Stalin para proteger-se não só da revolução interna, como também do ataque externo. Eles se dedicaram inteiramente à tarefa de limpar a nação de todos os elementos desleais, fossem internos ou externos. Todas as dúvidas foram resolvidas favoravelmente ao Governo.
Não havia “quinta-coluna” na Rússia, em 1941. Eles tinham sido todos fuzilados. O “expurgo” que limpou o país, livrou-o da traição.
(Extraído do livro Missão em Moscou, de Joseph E. Davies, traduzido por Eduardo de Lima Castro - 3ª edição/ 1943 - Editora Calvino)
Então, tá. E daí??? A gente está careca de saber disso. Mas ninguém diz o que fazer na prática, onde estão os líderes populares que poderiam ter há muito juntado todo o povão brasileiro nas ruas? Sem isso, podem ficar falando e vaidosamente escrevendo platitudes já há muito sabidas que o golpe vai se dar na maior tranquilidade, nem uma gota de sangue vai precisar derramar, muita gente indo ver o jogo no Maracanã, etc. Mas depois... aguardem que todos saberemos na pele o que é o nazifascismo.
É bom lembrar que os chefões fascistas e nazistas não acabaram bem. O excesso de pressão pode causar explosão. A grande maioria do povo brasileiro não vai aceitar voltar à condição anterior ao governo petista. Não há mídia que consiga acalmar quem volta ao desemprego, à miséria e à fome. Me lembro bem da "Revota dos Peõs tempos atrás, que foi uma coisa terrível, é extremamente perigosa.