Recebo um telefonema de um amigo que pede que eu explique porque sou a favor do leilão de Libra.
Fica , porém, surpreso quando lhe digo que não sou a favor do leilão, mas apenas de ganhar o leilão, porque sei, como dois e dois são quatro, que a Petrobras vai ganhar este leilão.
E porque é que sei, alguém me contou?
Infelizmente, não.
É apenas – se é que se pode chamar de “apenas” ler e tentar interpretar todo o noticiário do setor de petróleo – a conclusão lógica do que vem acontecendo.
Quando, há dois anos, a Petrobras começou um grande programa de desmobilização de ativos – leia-se: venda de bens e direitos – e partiu para grandes captações de recursos, era sinal de que a empresa “fazia caixa” para alguma ação de grande vulto, se desfazendo de tudo o que não é estratégico ou produz caixa.
A empresa fez, também, sua mais ousada captação de recursos em um único lance: US$ 11 bilhões, em maio.
A Petrobras vai com a força destes recursos próprios para o leilão. Poderiam até ser suficientes para o lance, mas seu caixa não faria frente aos talvez 100 bilhões de dólares necessários para os investimentos nos cinco ou seis anos necessários para o campo começar a produzir e gerar receitas.
Portanto, é preciso arranjar este dinheiro.
Como?
“Ah, o Governo empresta e depois a Petrobras paga em petróleo”.
Ótimo! E como o Governo arranja dinheiro? Vende títulos ao mercado, pagando os juros que o tal mercado nos exige.
Hoje, 9,5% ao ano brutos ou 3,5% reais, descontada a inflação.
Um “cancelonista” – como chamo os que se opõem ao leilão agora – publicou ontem, como ironia, um fantasioso e-mail interceptado pela espionagem, onde a Petrobras acertaria com os chineses a forma de eles nos financiarem a exploração de Libra.
E o que era para ser uma acusação de Paulo Metri, veja só, acaba se tornando uma proposta de negócios, verdadeiramente da China, para o nosso país.
- 1. A empresa dos Senhores, representando os seus bancos coligados, financiará a participação adicional de 20% da nossa empresa, que, assim, passa a ter 50% do capital do nosso consórcio. A empresa dos Senhores ficará com os outros 50% do consórcio.
- 2. Este financiamento será pago com o fornecimento do nosso produto, da parcela que nos cabe, durante o tempo necessário até o abatimento completo, à empresa dos Senhores.
- 3. As remessas mensais mínimas serão calculadas multiplicando-se o número de dias do mês por 300.000 unidades por dia.
- 4. Sobre o saldo devedor, incidirão juros à mesma taxa da valorização das Letras do Tesouro Americano.
- 5. Os abatimentos mensais do saldo devedor da nossa empresa terão o valor fixado em dólar com o preço do produto no mercado internacional no mês em questão.
Traduzindo: empréstimo com carência até a entrada do campo em produção, com saldo convertido em barris de petróleo (o produto), a taxas de juros do Tesouro americano – hoje, de 0,25% ao ano! – e amortizações abatidas com venda garantida de óleo a preço cheio do mercado internacional!.
A Petrobras não consegue dinheiro assim em parte alguma! Aliás, nem ela, nem empresa alguma.
Mas o tal e-mail imaginário com que se tenta atacar o leilão de Libra ainda diz mais:
“Se os Senhores estiverem de acordo com esta lista de compromissos, podemos fechar este acordo e formar o consórcio. Ainda teremos que submeter nossa proposta ao órgão regulador do Governo responsável por este setor, que só se prende, para aprovação, ao valor da taxa sobre o lucro líquido do consórcio. Portanto, seria recomendável colocarmos um percentual em torno de 65% para garantir a aprovação. Assim, seremos imbatíveis.”
Queira Deus, que aquilo que é dito para criticar possa acontecer exatamente assim.
Porque 65% de oferta percentual para o Estado Brasileiro dá um resultado bárbaro de receita para o poder público. Veja o que aconteceria na participação estatal com uma oferta assim e o barril a 100 dólares:
Receita bruta por barril (A) US$ 100
Royalties (B=15%*A) US$15
Custos de Extração (C) US$30
Receita líquida (D=A-B-C) US$ 55
Óleo Governo (E=65%*D) – US$ 35,75
Óleo Consórcio (F=D-E) US$ 19,25
Imposto Renda (G=25%*F) US$4,81
CSLL (H=9%*F) US$ 1,73
Lucro Final do Consórcio (I=F-G-H) US$ 12,71 (18,2%)
Fatia de Governo s/ dividendos (L=B+E+G+H) US$ 57,29 (81,8%)
Mas isso ainda não é tudo: como o consórcio teria 50% de participação da Petrobras, metade do lucro – US$ 6,35 – pertenceria à nossa empresa. E, tendo o Governo Federal, apesar de toda a lambança feita por Fernando Henrique no lançamento dos ADRs da na Bolsa de Nova York, direito a 48% dos lucros da Petrobras, terá 48% deste valor: mais US$ 3,05.
A participação governamental total, portanto, fica em US$ 60,34 dos US$ 70 que vale o barril, ou 86,2%, claro que descontados os custos para faze-lo vir de 5 ou 6 mil metros abaixo do leito do oceano profundo.
Coloco aí ao lado uma tabela de quanto é a participação governamental em diversos países que praticam o regime de partilha puro ou associado ao regime de concessão. Ela é parte do trabalho dos professores Sérgio Wul Gobetti e Rodrigo Valente Serra, doutores em Economia pela UnB e pela Unicamp, respectivamente. Foi deles, também, que tirei o guia de cálculo, adaptados para aqueles valores.
Portanto, a se confirmar a “desgraça” prevista por um dos mais respeitáveis adversários do leilão, teremos uma participação governamental mais baixa – e por muito pouco – à aplicada por Hugo Chávez às jazidas venezuelanas.
Eu até acho que não chegaremos a esse ponto mas, confesso, nunca torci tanto para um adversário de ideias estar certo e o que ele prevê como desgraça de realize.
Como eu estava achando que ganhar um pouco menos se justificava para não deixar Libra “dando sopa” para a turma da privatização, fico sabendo, graças a quem não quer o leilão, que corremos o risco de nos sairmos melhor que a encomenda, como dizia a minha avó.
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Precisamos que este petróleo comece a ser extraído em grande quantidade o mais rápido possível. Os lucros do pré-sal são fundamentais para o Estado brasileiro poder investir massivamente em Educação, e isso não pode mais esperar, é pra ontem.
Que seja feito o que for preciso para fazer com que a extração comercial comece o mais rápido, e para os royalties começarem a entrar no caixa do governo federal o mais rápido possível. Antes do final desta década precisamos ter dobrado os recursos para a Educação em termos reais, descontada a inflação.
Muito bom o texto. Mas é aquela história... O lance da Petrobras tem que ser alto mesmo. Senão, corre o risco de perder.
E o nome do país é Argélia e não "Algéria", que é apenas o nome em inglês com um acento.
Perfeita análise! Concordo plenamente com o seu raciocínio.
Estes que estão contra o leilão , até com boas intenções, não enxergam longe, apenas a superfície.
Embora procure aceitar com normais as criticas ao leilão de Libra e ao modelo de gestão do pré-sal parte de minha memoria não sei porque insiste em lembrar de Carlos Ortega e o lockout da PDVSA a Chavez em 2002
Dilma nomeia o braço direito de Zylbersztajn para presidir a PPSA
O pior é que não se pode dizer que ela não sabe exatamente o que está fazendo. No dia 10 de outubro de 2010, em debate com Serra, na TV Bandeirante, a candidata afirmou: “Quem trouxe esse tema da privatização foi o principal assessor energético do candidato Serra, o David Zylbersztejn, que foi presidente da ANP na época do FHC. Ele defende a privatização do pré-sal, ou seja, que a exploração do pré-sal seja feita por quem? Pelas empresas privadas internacionais”. Agora a presidenta nomeia o braço direito de Zylbersztejn. Mais claro do que isso, só fazendo um desenho. (Jornal HORA DO POVO)
Alguem pode responder a isso?
Outra questão é o engodo dos 75% de participação da União, quando o próprio TCU afirma que vai de um minimo de 16% até o máximo de 41% e o senador Requião que afirma União 23% Petroleira 77%?
As ressalvas do Tribunal de Contas da União (TCU) aos procedimentos do Ministério das Minas e Energia (MME) e da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no leilão do campo petrolífero de Libra, no pré-sal, constituem uma lista de graves irregularidades – a maior das quais o próprio mínimo de petróleo determinado para a União. Como nota o TCU, a lei da partilha de produção (lei nº 12.351) foi proposta pelo presidente Lula para aumentar a parte da União no petróleo, após a descoberta do pré-sal. Mas, demonstra o TCU, o mínimo que consta no edital do leilão do campo de libra é, na verdade, 15% do excedente de petróleo para a União, ao invés dos 41,65% propalados a princípio pela ANP – e nem falar dos fantasiosos 75% ditos pelo MME e logo adotados por vigaristas & alguns tolos.
Este país ainda é capitalista e o governo se mantém apenas porque parte da elite (nacionalistas) o apóia, certamente não por idéias maravilhosas mas por negócios lucrativos. A PETROBRAS não é mais estatal pois, + de 50% dos seus lucros são distribuídos entre os acionistas, significa que metade desta riqueza será entregue para acionistas, muitos deles nem brasileiros são. O ideal é que a estatal do pré sal ficasse com tudo, então quanto mais ficar com o governo e menos com a Petrobras melhor. Como há muito interesse nesta fortuna infindável as informações e opiniões são desvirtuadas, mas na vida em decisões difíceis em momentos confusos me atenho e volto aos princípios, vendo o PIG, os países imperialistas e outros trastes vende pátria defendendo o cancelamento e pessoas de bem como Haroldo Lima defendendo o Leilão com a China que precisa mais de apoio do que nos exprorar , desde já sou á favor do leilão. Quanto ao sindicato está fazendo seu papel pois enquanto quem está num governo popular tenta fazer o que de melhor pode ser feito o movimento social necessita continuar lutando para criar uma nova possibilidade futura mais avançada e com isso a sociedade progride.
Muito boa Analise, Fernando Brito, só tenho preocupação com relação aos investimentos em conteúdo local. Acho que as Chinesas, não vão estar preocupadas com a industria naval, aí, neste caso, perderíamos investimentos nacionais.
Que bom que não há Tucanos na cadeira Presidencial. Isso seria um caos para o país!
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