E que chinelada!
É de perder o fôlego.
Gilmar Mendes, depois dessa, deveria ir a Caracas, afogar as mágoas com a direita de lá, que perde eleições para os “bolivarianos” desde 1999.
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Gilmar Mendes e o bolivarianismo
Por Guilherme Boulos, na Folha.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, saiu “às falas” mais uma vez. Na semana passada, o ministro deu uma entrevista à Folha alardeando o risco de “bolivarianismo” no Judiciário brasileiro.
Afinado, como sempre, com o PSDB e ecoando as vergonhosas marchas de Jair Bolsonaro (PP) e companhia, apontou a iminente construção de um projeto ditatorial do PT, que passaria pela cooptação das cortes superiores. Não poderia deixar de recorrer ao jargão da moda.
Gilmar Mendes, todos sabem, é um bravateiro de notória ousadia. Certa vez, chamou o presidente Lula “às falas” por conta de um suposto grampo em seu gabinete, cujo áudio até hoje não apareceu. Lula cedeu e demitiu o diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Mais recentemente, o ministro comparou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a um “tribunal nazista” por ter barrado a candidatura de José Roberto Arruda (PR) ao governo do Distrito Federal. O único voto contrário foi o dele.
O próprio Arruda afirmou que FHC –que indicou Mendes ao STF– trabalhou em favor de sua absolvição. Para quem não se recorda, Arruda saiu do palácio do governo direto para a prisão após ser filmado recebendo propina.
Quem vê o ministro Gilmar Mendes em suas afirmações taxativas e bradando contra o “bolivarianismo” pensa estar diante do guardião da República. Parece ser o arauto da moralidade, magistrado impermeável a influências de ordem política ou econômica e defensor da autonomia dos poderes.
Mas na prática a teoria é outra. Reportagem da revista “Carta Capital”, em 2008, mostrou condutas nada republicanas de Mendes em sua cidade natal, Diamantino (MT), onde sua família é proprietária de terras e seu irmão foi prefeito duas vezes.
Lobbies, favorecimentos e outras suspeitas mais. Mendes, que questionou o PT por entrar com ação contra a revista “Veja”, processou a revista “Carta Capital” por danos morais.
Já o livro “Operação Banqueiro”, de Rubens Valente, mostra as relações de Mendes com advogados de Daniel Dantas, que após ser preso pela Polícia Federal na Operação Satiagraha, foi solto duas vezes pelo ministro em circunstâncias bastante curiosas. Na época, ele também acusou uma ditadura da PF, mostrando o que parece ser seu estratagema predileto.
Mais recentemente, seu nome foi envolvido na investigação da Operação Monte Carlo, sob a suspeita de ter pego carona no jatinho do bicheiro Carlinhos Cachoeira, na ilustre companhia do senador Demóstenes Torres, cassado depois por seu envolvimento no escândalo. Em julho deste ano, Mendes deu uma liminar que permitiu a Demóstenes voltar ao trabalho como procurador de Justiça.
São denúncias públicas, nenhuma delas inventada pelo bolivariano que aqui escreve. Assim como é público que o ministro mantém parada há 7 meses a ação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) que propõe a inconstitucionalidade do financiamento empresarial de campanhas e que já obteve a maioria dos votos no Supremo, antes de seu pedido de vistas.
Ou seja, a trajetória de Gilmar Mendes está repleta de ligações políticas e partidárias, aquelas que ele acusa nos outros magistrados, os bolivarianos. Afinal, o que seria uma “corte bolivariana”? Se tomarmos os três países sul-americanos que assim são identificados –Venezuela, Bolívia e Equador– veremos que todos passaram por processos de reformas no Judiciário.
No caso da Bolívia, a reforma incluiu o voto popular direto para juízes, estabelecendo um controle social inédito sobre o Poder Judiciário. O mesmo controle que já existe sobre o Executivo e o Legislativo. Por que o Judiciário fica de fora? Por que não presta contas para a sociedade? Não, aí é bolivarianismo!
Na Venezuela e no Equador o foco das reformas foi o combate das máfias de toga e dos privilégios de juízes. Privilégios do tipo do auxílio-moradia que os juízes brasileiros ganharam de presente do STF neste ano. Mais de R$ 4.000 por mês para cada juiz. A maioria deles tem casa própria, mas mesmo assim poderá receber o auxílio. Cada auxílio de um juiz poderia atender a oito famílias em situação de risco.
O Judiciário é o único poder da República que, no Brasil, não tem nenhum controle social. Regula a si próprio e estabelece seus próprios privilégios. Mas questionar isso, dizem, é questionar a democracia. É bolivarianismo.
Este tal bolivarianismo produziu reformas estruturais e populares por onde passou. Os indicadores mostram redução da desigualdade social, da pobreza, dos privilégios oligárquicos e avanços consideráveis nos direitos sociais. Basta ter olhos para ver e iniciativa para pesquisar. Os dados naturalmente são de organismos bolivarianos como a ONU e a Unesco.
Pena que nessas terras o bolivarianismo seja apenas um fantasma. Fantasma que a oposição usa para acuar o governo e o governo repele como se fosse praga. Afinal, Gilmar Mendes pode chamá-lo “às falas”.
Guilherme Boulos, 32, é formado em filosofia pela USP, professor de psicanálise e membro da coordenação nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Também atua na Frente de Resistência Urbana e é autor do livro “Por que Ocupamos: uma Introdução à Luta dos Sem-Teto”.
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Rem ainda aquele curioso recibo por conta do HC do médico, que apareceu no CAF.
Bom dia,
essa é a luta um Brasil de igualdades a todas as classes, sem política partidária e sem empreiteiros entre nós, uma Brasil com salários dignos,um exército forte e um povo feliz.
O problema nosso è ter PATIFES demais, e pessoas como este Guilherme de menos…
Vc esqueceu de dizer Fernando: que o Ministro Barbosa, o acusou de só ter jagunços em suas terras.Coronel moderno é assim...se escondem com suas fantasias...Juíz não é DEUS!
Talvez tenha sido o melhor texto que já tenha lido sobre este ministrinho tucano, que em condições normais nunca deveria ter chegado ao STF. Ele é "um ponto fora da curva" entre seus pares. Li o livro "Operação banqueiro", do excelente Rubens Valente (outro bolivariano que deve estar sendo processado por gilmar dantas), e o recomendo a todos que querem conhecer quem é, de verdade, este ministrinho que conspurca a história do STF de Evandro Lins e Silva, Hermes Lima, Victor Nunes Leal e outros grandes nomes que fizeram a história do STF com maiúsculas.
Esqueceu de citar o grande Raimundo Faoro.
Esse e' um artigo eu esperaria fosse escrito por alguem do PT, em nome do PT. Mas nao, foi escrito por este jovem de 32 anos que eu gostaria de ajudar a eleger para um cargo publico qualquer. Tem futuro este jovem. Parabens.
Bem observado. No entanto, não será este o PT titular, o PT na ativa, e que, portanto, questões dessa natureza apenas podem ser observadas e reservadamente tratadas pelo PT da reserva?
Em países, onde a justiça não é apenas um balcão de negócios, este juizeco Gilmar mendes já teria sido enquadadro, chamado ás falas. Seu currículo é vergonhoso. É o lambe-lambe do fhc (um apoiando os esquemas do outro). É impressionante a submissão de membros da justiça, oab e tais, com esses ministrecos nada republicanos.
Pois é.
Só agora fiquei sabendo que Boulos não é nenhum Zé Mané.
Parabéns Boulos pela sua luta, que é também de todos nós.
Falar de gilmar mendes e quase nada, mendes e o tiririca do supremo, (salvo a honestidade do tiririca), na suprema corte americana ja estaria preso,nao seve nem para porteiro do palacio da justiça, pois ate informaçao ele sonega.
Saiu na folha? Já imagino os comentários dos coxinhas (a maioria babando de ódio), mandando o articulista para Cuba...
José Saramago, se estivesse vivo, teria uma boa ideia para um próximo livro sobre cegueira..