Não nutro pelo Senador Lindbergh Faria grande simpatia política. Aliás, nenhuma, porque sua trajetória saltitante entre partidos denota, para mim, uma pessoa individualista, incapaz de suportar contrariedades e as divergências que marcam a vida partidária. Não recomenda a ninguém uma trajetória com tantos “pês” como a dele.
Não lhe dei meu voto, em outubro, mas dou-lhe crédito na entrevista que concede, hoje, ao repórter Bernardo de Melo Franco, na Folha, admitindo que pediu a Paulo Roberto Costa que o apresentasse a executivos de empreiteiras para obter recursos de campanha. E que, contato obtido, foi pedir contribuições eleitoral a eles.
É assim que é feita a política no Brasil e nenhum candidato a senador com alguma chance de vitória deixa de pedir, pessoalmente ou por emissário “qualificado”, dinheiro a grandes empresas. Isso quando o grande empresário não “compra” pessoalmente a vaga de suplente, em troca de pagar os gastos milionários da candidatura.
Procure saber quem é o empresário Joel Malucelli, primeiro suplente do “Catão dos Pinhais” Álvaro Dias e você verá como isso é assim.
Essa é a “vida real” da política que se faz com as regras da “livre iniciativa” e cada vez mais, porque os partidos foram minguando frente ao poder econômico e a força promocional da mídia.
Quem quiser raciocinar, se é que isto é possível, com o simplismo da hipocrisia, que o faça.
Aqui se prefere a verdade.
Fica evidente, pela leitura dos documentos que vieram à tona com a divulgação da chamada “lista de Janot” que Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef operavam dois tipos de fornecimento de recursos a políticos, embora, claro, nem todas as menções que fazem devam ser vistas com as reservas que merecem o que falam criminosos.
Os que recebiam propina vinculadas a negócios comandados por Paulo Roberto Costa na Petrobras e, neste caso, participavam do esquema de desvio de dinheiro de contratos e aqueles que, nos contatos com ele pediam que viabilizasse doações para suas campanhas eleitorais.
Este segundo grupo, salvo para qualquer um que não seja descaradamente hipócrita, inclui – em relação não apenas a Paulo Roberto, mas a todos os que conseguem doações de campanha -, é obvio, quase todos os políticos do Brasil.
Se eu, o meu ilustre leitor e a minha cara leitora fossemos candidatos a qualquer coisa, nos moldes em que são as campanhas com financiamento privado no Brasil, teríamos de pedir dinheiro a empresários – e a empresários com fôlego para doar.
E, como não andamos com essa turma, vamos pedir a quem tem contato com eles e Paulo Roberto tinha.
E Paulo Roberto – por si só, uma vez que ele não aponta estar sob o comando direto de ninguém, desde a queda e, depois, a morte de seu grande padrinho, José Janene – avaliava se o “gajo” lhe valeria a pena, pela importância, e providenciava para que empresas lhe fizessem doações legais de campanha.
Não havia, portanto, vinculação direta entre o beneficiado e o esquema de negócios, senão a da falta de prudência em pedir a alguém na posição de Costa, embora eles, ou eu ou você não pudéssemos pedir à minha faxineira, ou ao simpático português da padaria ou àquele mecânico “gente boa” que dá jeito nas encrencas do meu carro.
Porque é esta a realidade de um sistema eleitoral montado à base de doações privadas, que sobrevive graças ao beneplácito do Ministro Gilmar Mendes, procrastinador de sua proibição, e à defesa feroz que lhe faz a mídia, que não aceita o financiamento público – e, portanto, transparente – das campanhas.
Agora, há o primeiro grupo, o dos achacadores
Este, participando ou não, tinha conhecimento da origem irregular de recursos.
E este grupo se caracteriza por extrair, de forma direta, dinheiro dos negócios firmados pela diretoria que Paulo Roberto Costa ocupava.
É isso o que explica o magote de deputados do PP envolvidos na “lista”.
Costa foi guindado à diretoria pelo partido e ao partido devolveu em negócios a indicação.
Embora se diga “enojado”, embolsava pessoalmente parte deste dinheiro.
Com o enfraquecimento do PP, Costa passou a depender do PMDB para manter-se no cargo e aí entram em campo Renan Calheiros e Eduardo Cunha, cujo faro para oportunidades é uma unanimidade.
Tanto quanto é a sua ousadia, o que fica comprovado na riqueza de detalhes – talvez os mais explícitos de todos – sobre a forma, os meios e os negócios geradores de dinheiro.
Mas estes são apenas os fatos reais e os fatos reais têm importância apenas relativa nas disputas político-midiáticas no Brasil.
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Fernando,
Esta na hora de se fazer uma frente midiática dos blogs sujos,em contraponto a mídia dominante. As questões centrais deveriam ser conduzidas por um pool dos blogs sujos de forma a atingir um maior público com informacpes isentas, ter mais chance de capitalizar recursos para tocar esse novo site de informação e, o varejo, continua nos sites individualizados de vocês. Tem que haver um modo de viabilizar o bom jornalismo em detrimento do jornalismo viciado e rasteiro.
Apoiado!
Senhor Fernando Brito peço-lhe atenção para o comentário do sr. Mario Alex. Leia-o, fazendo-nos o favor, e entre em contato com os outros blogueiros sujos para providenciar a frente midiática de contraposição às mentiras do PIG. Isto é para ontem!
Concordo plenamente, tanto com a necessidade quanto coma a possibilidade, de se criar uma máquina de comunicação poderosa a partir da ação coordenada desses bravos guerreiros que fazem os blogs sujos.
Produzir conteúdo com qualidade jornalística eles sabem.
Recursos para financiar o projeto não faltarão, necessitando somente de encontrar o modelo jurídico da organização e lançar o desafio aos leitores. A maioria de nós está dispostos a ser assinante. Boa porte está disposto a comprar cotas, ações ou outra forma de financiar o empreendimento. Penso que fazer um plano de negócio é o começo. O pergunta é : "quem se dispõe a liderar esse movimento"?
Vou morrer e não entender.
Porque Lindeberg esta sendo invstigado e Aécio Não....E outros 400 deputados não? e outros 30 senadores não.
Pois quase todos deputados e senadores beberam da mesmo fonte, dinheiro sujo para campanha politica.
Simples, porque ele é PETISTA...
Tudo como antes no quartel de Abrantes. Os três imputáveis ps - putas, prostitutas e pobres, acrescidos de mais um p, de petista - escolhidos a dedo para serem condenados. Alguns próceres da direita - como os políticos do PP e empreiteiros - estão na turma dos escolhidos ao sacrifício, cortar na carne, para que a corrupção continue a campear.
É PETISTA e corrupto, o outro só é corrupto, estou lisonjeado por esta diferença!
Nem o Janot, que tem em mãos a delação fez a afirmação que você faz, por isso pediu que fosse aberta a investigação.
Você tem como provar a acusação que faz a Lindberg?
Será que vou ver isto algum dia? Um programa, com comentaristas inteligentes debatendo temas como a Lava Jato, de interesse da Nação. Os debatedores seriam o Fernando Brito, Nassif, Paulo Henrique, Azenha, Eduardo Guimarães, Santayama, Veríssimo, Emir Sader, Leonardo Boff, Mino, Moreira Leite, só para citar alguns. O programa poderia ser articulado por um pool de blogueiros para debater os meandros da política no Brasil. O Paulo henrique já tinha um programa de entrevista polêmicas e era imperdível. Não sei o que aconteceu, mas o programa saiu do ar. O Programa poderia ser via internet, e aconteceria uma vez na semana. Teria um horário definido e poderíamos assistir até no trajeto para casa, via celular. Isto é possível???? Continuo fazendo minha fezinha na Mega Sena. Já avisei lá em casa. Uma graninha seria para a sobrevivência, a outra parte seria para financiar este Projeto.
O fato de as grandes empresas brasileiras terem um poder político tão grande, e, principalmente o fato de que este poder provém do dinheiro é algo que deveria arrepiar qualquer cidadão amante da democracia, porque, na verdade estamos sendo governados sob o poder do dinheiro e não pelas escolhas das maiorias. Por isso o item fundamental de uma reforma política deve ser a cassação desse poder espúrio do capital e a restauração do valor democrático do voto.
Nos USA o financimento das megas empresas foi autorizado pela SUPREMA CORTE. O que não falta é lobby no Congresso de lá para influenciar na criação da legislação e decisões do executivo que os favoreçam. USA esta caindo de podre moralmente. Vamos ver se eles seguram o apartheid. Se conseguem sustentar a insurreição dos negros e latinos, que sobrecarregam as prisões e estão pagando a conta das medidas neoliberais instaladas por Reagan que provocou a crise de 2008.
Complementando a informação d@ anac:
A doação ilimitada por corporações era proibida nos EUA, então a Suprema Corte deu um "jeitinho" de dizer que as corporações também são gente - "pessoas" mesmo.
Detalhes sobre essa decisão deformada podem ser encontrados pesquisando-se por "Citizens United".
Aliás, são poucos os que lembram e/ou fazem a ligação da crise de 2008 com os desastrosos conceitos de Reaganomics e Trickle-Down Economy patrocinados pelo velhote caubói de filme B. Isso, somado ao fim do Glass-Steagal Act, colocou as peças em posição para as sucessivas crises e bolhas que passaram a pipocar desde então.
E ainda há quem olhe para os EUA como algo a ser imitado... :(
Fernando, sei que não é o assunto do tópico, mas, como vc tocou no assunto, não resisti à curiosidade: em quem vc votou pra Governador?
Puxa, que pergunta "deselegante"!
Não esqueça que, antes de Malucelli na suplência do Álvaro Dias, o singelo Catão de Pinhais, havia outro grande empresário do ensino privado, Wilson Mattos, também, tan, tan, tan, .... Maringá!!!!!
Parabéns Brito! Primeiro uma homenagem aos hipócritas. Vivas a Gilmar Dantas,! Segundo um grito aos D emais hipócritas." REFORMA política, " . Esta é a primeira providência, ou vamos viver de crise em crise. E ela serve a muitos, sabemos, menos ao povo brasileiro e ao Brasil.....e não adianta os carinhas baterem neste ou naquele seletivamente o cancro começa no FHC e termina no Lula. Dia 13 que está seja a pedida nas ruas.
A todos e todas, não podemos deixar de lembrar que o cavalo selado que passa é a direita que está apresentando. De oportunismos históricos já estamos cheio!!!
Prezado Fernando, como seu leitor menos ilustre, mas assíduo, peço-lhe vênia para discordar da sua opinião sobre a inclusão do senador "Lindinho" na famigerada lista do Janot. Não é preciso muito esforço para imaginar que Paulo Roberto Costa exigiu, à época das eleições, uma bela contrapartida para apresentar os seus amigos empreiteiros ao nobre político. Francamente, não existe almoço grátis, ainda mais quando se trata de política e politicagem. Pelo menos é esta a minha humilde opinião.
Lindberg disse que falou com Paulo Roberto Costa porque sabia que ele era pessoa muito bem relacionada, e que perguntou se ele conhecia alguma empresa que pudesse recebê-lo para fazer doação para a campanha eleitoral e que PRC ligou para a Andrade Gutierrez e pediu para que o recebessem. O valor doado pela empreiteira, de R$ 2 milhões, foi registrado e feito dentro da lei. Mas o PGR o acusa de ter conhecimento "do caráter ilícito dos valores recebidos", o que o senador nega.
Já Aécio Neves, de quem Janot pediu o arquivamento da denúncia de recebimento de propina, recebeu mais de R$ 20 milhões em doações dessa mesma empreiteira. http://brasil29.com.br/pode-isso-arnaldo-empreiteira-citada-na-lava-jato-fez-322-doacoes-para-aecio-mais-de-r-20-mi/, e foi denunciado pelo doleiro Youssef, o novo Roberto Jefferson, cuja palavra vale mais do que mil provas, desde que não acuse a tucanos.
Caro Fernando, é muito gratificante saber que podemos contar com a lucidez, a sabedoria e o profissionalismo responsável e esclarecedor que você e mais alguns blogueiros resistentes nos brindam diariamente. Devemos colaborar, com prazer, para a manutenção dessas corajosas e resistentes "gentalhas", também conhecidas como "blogs sujos". Vocês são as nossas bandeiras e por essa razão é que possuem infinitamente mais leitores que os ditos "grande imprensa". Estamos juntos!
Caro Brito,
Ver Fernando Collor de Mello citado na lista do lava-jato me faz lembrar 'A insustentável leveza do ser' e sua noção do eterno retorno. Collor teve a chance de voltar e fazer algo diferente, mas na verdade não conseguiu se libertar de sua história, repetindo mais uma vez seu eterno destino provavelmente aprisionado pela leveza (no sentido de descompromisso que Kundera traz no livro) que o vil metal impõe.
Ver, no entanto, Lindbergh Farias, líder dos caras pintadas que saiu às ruas a pedir o impeachment de Collor em 1992, estar junto com Collor nesta mesma lista é ter a clareza do "buraco negro" que é a política brasileira. Não há ideologia e valores morais que se sustentem neste grande abismo moral, pois a força do metal tem 'gravidade' suficiente para derrubar qualquer compromisso com idéias e ideais de justiça social. É a velha história cantada por Renato Russo do Metal contra as nuvens:
"É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez, o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes
O corpo quer, a alma entende
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos
Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão
Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então."
Talvez muitos aqui queiram usar este último verso para fazer coro ao grito golpista de derrubada do governo e do PT, convertendo todo o processo de luta de nosso povo em mais um impeachment. Talvez esta seja nossa oportunidade no 'eterno retorno' e provavelmente se fizermos igual ao que aconteceu há mais de 20 anos provavelmente daqui há 20 anos os atuais defensores da ética terão sido tragados pelo mesmo buraco negro e apenas teremos repetido nossa sina severina.
Por isso, conhecer a história é fundamental para não embarcarmos nos mesmos erros já que podemos cometer erros (ou acertos) diferentes. O "buraco negro" ao qual me referi é bem anterior a este governo e ao PT e não é removendo os personagens que vamos reescrever a história. Precisamos sim mudar o enredo e isso só é possível mudando a forma de se fazer política no país.
Vamos às ruas sim, mas desta vez não pra defender o que os autores do enredo querem que defendamos. Vamos sim defender o Brasil e nossas riquezas, defender investigação séria para TODOS e punição para os culpados, vamos principalmente defender a possibilidade de fazer diferente. E para fazer diferente agora é imprescindível uma reforma política que tire o peso (que produz tanta leveza/descompromisso) do vil metal! Quero fazer diferente! Reforma política já! #querofazerdiferente #reformapoliticaja #eternoretorno #golpismonao
Alexandre José de Melo Neto
Médico de Família e Comunidade
Professor do Curso de Medicina do DPS/CCM/UFPB