Logística? Não, incompetência, descaso e política

A indicação do “predestinado” – palavra de Jair Bolsonaro – general Eduardo Pazuello para o Ministério da Saúde foi justificada ao país por ser ele um “especialista em logística”.

Ai do Exército brasileiro se depender da capacidade de Pazuello de fazer com que cheguem à frente de batalha os suprimentos de que as tropas necessitassem: é possível que fossem as fardas, mas não os coturnos, ou os fuzis, faltando as balas.

A manchete do Estadão põe a nu a tão decantada capacidade do general: quase 10 milhões de testes RT-PCR (os mais acurados) para Covid-19 estão parados em depósitos por falta de reagentes que lhes evidenciam os resultados.

Em resumo, não podem ser aplicados nos brasileiros, embora estejamos sobrando cerca de mil baixas fatais todos os dias, há mais de dois meses.

E Pazuello, para amenizar sua incompetência – sim, ela também é de seus antecessores – diz que “testagem não é essencial“:

O diagnóstico é clínico, é do médico. Pela anamnese, pela temperatura, por um exame de tomografia, por uma radiografia do pulmão, por exame de sangue, podendo até ter um teste. Criaram a ideia de que tem de testar para dizer que é coronavírus. Não tem de testar, tem de ter diagnóstico médico para dizer que é coronavírus. E, se o médico atestar, deve-se iniciar imediatamente o tratamento”

O “doutor” Pazuello é mais sabido que a Organização Mundial de Saúde, que orienta a “testar, testar, testar“, embora é óbvio que, numa epidemia qualquer médico saiba que, na falta de comprovação laboratorial, o tratamento deve supor que é a esta doença o provável e inicie o tratamento possível nesta situação. O número de testes no Brasil é ridiculamente inferior ao de demais nações com nosso tamanho e a maioria são testes “rápidos”, de qualidade muito inferior ao do RT-PCR.

Mas se o general é deficiente ao cumprir suas obrigações para com a população, é bom para o ex-capitão que o comanda: quando não tem teste, não tem número, nem de casos e nem de mortes, até porque há médicos que, sem eles, atestam outra causa mortis, pois a Covid-19 mata por outras complicações ou os óbitos ficam “sob investigação” para serem confirmados depois, “achatando a curva”.

Aliás, a esperteza que Pazuello tentou implantar nas estatísticas fez escola e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, também está usando o método de colocar os números em algum lugar do passado para baixar os indicadores da capital. O El País mostra isso e o documenta, com boletins alterados onde, por exemplo, o último dia 15 de julho “começa” com 217 mortes “a menos” do que seriam registrados, para a mesma data, cinco dias depois.

A diluição de números de maneira retroativa fez com que na semana entre os dias 9 e 16 de julho, 185 mortos sumissem dos cálculos daquele período. É provável que esses óbitos tenham sido redistribuídos por outros dias anteriores, mas não é possível saber, já que os boletins informam somente os números dos últimos sete dias. A única informação nova trazida nos informes foi que os números correspondem aos “óbitos registrados por data de ocorrência”.

Como esta manobra “não colou” no plano federal, a “solução” é segurar os testes, mesmo que isso não permita ajustar medidas sanitárias ou, talvez, até por isso, porque a ordem é “abrir tudo”, talquei?

A expertise do general não é logística, é “esperteza”.

 

Fernando Brito:

View Comments (14)

  • O Brasil exibe ao mundo nesta pandemia, suas maiores tragédias: ignorância, corrupção, incompetência e bandidagem. Não podíamos ter outro resultado não é ?

    • Faltou sabujismo. Nem México, nem Colômbia, estão se mostrando tão servis ao paspalho-mor trump.

  • Aí a CANALHADA pm-milico-bolsonazi diz que se for morte de pneumonia (SEM TESTE) não vale considerar como COVID ..bando de inomináveis !!!

  • A ferida mais purulenta de todas: o golpe dos canalhas de 2016 envolveu todas [todas, sem uma mísera exceção!] "as instituições [golpistas] que continuam funcionando"!
    Ou seja, o Estado brasileiro está literalmente prostituído!
    Em resumo, a dramaticidade da irreversibilidade mórbida do golpe continuado dos canalhas de 2016...
    Continuado...

  • Um dia vamos acordar, e lembrar que achavam/diziam que nossos políticos eram os responsáveis pela destruição do pais. Ninguém olhava para os fardados inúteis nos quarteis, ou a máfia de branco que nos "cuidava"...precisava um ataque nuclear para destruir o Brasil?

  • Não é esperteza, não. Em qualquer país ou planeta sérios, seria crime?

  • Disse logo que esse general assumiu que o predicado de intendente que o bozo buscava era o de garantir o suprimento de caixões, para evitar as cenas caóticas do Equador, com mortos caídos nas ruas ou deixados dentro das casas por dias até que conseguissem um caixão.
    Os fatos mostram que não me enganei, infelizmente
    Falta de tudo para combater a pandemia, mas há caixões para todos os mortos.
    A única engasgada na estratégia foi em Manaus, cidade onde o general servia por último (teria sido algum tipo de vingan?a?)

  • Sem surpresa!
    Cada profissão tem sua finalidade e a do militar é eliminar o inimigo.
    Desgraçadamente, no Brasil, esse inimigo é o próprio brasileiro.
    Voltamos a ser aquele país do medo e da morte.

  • É uma piada. Não precisa teste porque o diagnóstico é o médico quem faz, mas o médico diagnostica com base no teste! Febre e sintomas podem ser causadas por vários motivos, o teste específico é o único capaz de assegurar COVID-19.

  • Tempos atrás, a médica da Unidade de Saúde do bairro onde estou, pediu uma tomografia. Demorou 1 ano pra ser autorizada!!!! E exames de sangue rotineiros não dão resultado em menos de 15 dias!!!!! Esse não é o tempo da covid, que exige procedimentos rápidos. Ou seja, o ministro entende nada do serviço....

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