“Está faltando política em nossa ação sindical. O economicismo só não é suficiente”.
A frase, que abre a cobertura da própria CUT sobre a presença de Lula na manhã de hoje na reunião da Executiva Nacional da Central, em São Paulo – que a grande impresna não cobriu, embora noticie até chá com bolinhos de Fernando Henrique Cardoso – é ao mesmo tempo um apelo e uma (auto)crítica ao comportamento dos petistas da entidade (e não só eles) como serviria como uma luva para os que estão no governo.
“O movimento sindical tem de sair do chão de fábrica, do chão das lojas, do chão dos locais de trabalho, pois o limite de representatividade passa do chão”, disse.
Como poderia dizer:
“Os dirigentes públicos precisam sair dos gabinetes, das reuniões repetitivas e das solenidades, pois o exercício do governo vai além das coberturas e salões e passa pelo chão”.”
Lula reclamou do discurso antipolítica que domina a mídia.
“Hoje me espanto quando vou na porta de fábrica e vejo muito jovem que quer fazer faculdade, não quer ser mais apenas um peão. Esse jovem sabe qual foi o papel do pai e da mãe dele? Ele sabe qual foi e qual é o papel da CUT?”, questionou, ao lembrar que a construção das condições políticas e econômicas de vida custou muito sacrifício.
Mas quem é que disse isso a ele, presidente? Se o partido no Governo e o governo do Partido dos Trabalhadores não dizem e se limitam a registrar a ascensão da nova classe média como resultado de políticas públicas “republicanas” e de uma “eficiência do governo”, não como o resultado de lutas sociais históricas, do enfrentamento de privilégios e de uma trajetória das lutas socais que não pode ser interrompida, quem iria dizer isso aos jovens?
“Outro dia ouvi um amigo me dizer que o filho dele se formou em Jornalismo com a ajuda do Pro-Uni, mas que não vota no PT e é contra o Bolsa Família”, disse Lula.
Pois é, presidente, este é o resultado da despolitização. O guri, de tanto ouvir que isso é um direito dele – e é, embora tenha sido sempre negado – e não é dos outros, também, porque ele conquistou o Pro-Uni com sua nota no Enem, não o governo popular que financia seus estudos.
Outra fala interessante do ex-presidente foi a em que disse que governar é mais complexo que colocar uma placa num canteiro de obras onde uma placa dizendo às pessoas: “Desculpe, governo trabalhando”.
Esta, Lula, é a versão do sindicalismo economicista que o senhor pede para que a CUT não praticar, exclusivamente.
Eu vivi dois governos com Brizola. No primeiro, mal sabíamos como lidar com a máquina, mas marcamos nossa opção política e só não elegemos Darcy porque nem Cristo resitiria ao golpe do Cruzado. Mas em 89, a votação de Brizola aqui não deixa dúvidas, não é? Do segundo, muito mais eficiente em matéria de administração e obras, saímos estropiados, porque perdemos a mensagem política.
“Qual a mensagem? Qual a ideia-força para motivar e entusiasmar as pessoas?”, perguntou Lula aos sindicalistas.
Eu me atreveria a responder que são “povo” e “Brasil”, que somados dão “justiça”.
A “turma da bufunfa”, em relação a estas palavras, só fala mal.
A mídia, idem.
E o governo, que fala bem, só fala com a turma da bufunfa e seus caudatários na classe média, que não estão nem aí para “povo” e Brasil.
Ou então, através de “institucionais” que – para serem republicanos com luvas de pelica e rendas – não emocionam, não conceituam, não mobilizam.
Por que precisamos esperar até as eleições para ver que pessoas se beneficiaram do Pronatec, ou do Bolsa-Família, ou das cisternas no sertão, ou dos mais médicos, ou de tanta coisa?
Por que seu partido, vítima preferencial do descrédito dos políticos, não se dedicou a mostrar que são os tucanos, pelas mãos de Gilmar Mendes, que barram o fim desta ignomínia de financiamento empresarial dos políticos nas eleições, que acaba levando muita gente aos Paulo Roberto Costa para ter chance de eleger-se?
Dilma, se for sábia, saberá que não pode governar sem política, embora tenha de governar sem partidarismos e com acordos.
Jamais, porém, sem a origem que tem: a de continuidade do projeto inaugurado por Lula.
O PT, se quiser sobreviver, deveria saber que tem de fazer política sem governo, embora deva estar dentro e solidário ao governo que, sob sua legenda, triunfou nas urnas.
Até porque o PT tem um líder político que não precisa estar no governo todo dia para estar, no cotidiano, com os pés bem plantados no chão.
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"Dilma, se for sábia, saberá que não pode governar sem política". No primeiro mandato ela não foi nada sábia, aliás, muito pelo contrário. Três semanas passadas da eleição, a pisada continua a mesma, talvez pior. Como será a partir de primeiro de janeiro?
Governo e governo muito bem sim, se fosse um governo do PSDB o Brasil estaria fudido e alegação seira a crise internacional, assim como foi com FHC uma crise no mexico foi o suficiente pra flexibilizar a CLT, outa na Asia mais uma mexida na CLT, agora imagina com a Europa, America sul e america central em crise. Como pode se dizer que um governo e ruim com taxa de desemprego mais baixa de toda história do País, investimento em todas as areas sociais, 70% das obras dos Pac's prontas, o que que é governar bem, é fica de quatro pro congresso,banqeuiros, empreiteiros, lobistas, trambiqueiros. Eu sou bancário e sou filiado no PPS. Um grande abraço Dilma,Lula, Haddad, e todos os congressistas que sempre defenderam os trabalhadores.
Lula, faça uma agenda de visitas a todas as regiões do Brasil no proximo ano (2015.
Nos ultimos 4 anos o PT e a Presidente Dilma pecaram no quesito comunicação.
Temos que nos contrapor a Imprensa Golpista, que ataca o PT e Dilma diariamente. Vide (GLobo, Veja, Isto é e Jovem Pan).
Reinaldo Azevedo esta a serviço de quem?
Temos 3 anos para mudar isto.
No ano 4, colhermos.
Porque, o que a "MIDIA", não
aguenta é falta de assunto.
E daqui para frente só papai noel.
Se não consegue a mídia nacional, fura o bloqueio, vai na mídia regional, dorme na cidade, da entrevista para rádio, jornal local, agora o que vejo e passa duas três horas em uma capital e depois volta para brasília, ai fica difícil né.
Inspiradíssimo(s)!!!
O partido dos trabalhadores, seus eleitos em todo Brasil , deve voltar as bases, muitos eleitos se julgam superiores a militancia, se continuar assim nos proximos 4 anos a idia vai continuar batendo, e o partido e o governo não fizeram nada , vai morrer pela propria arma, a midia e a distancia dos militantes, a direçao nacional sabe, o e cupula , os pensantes sabem, deve descer e calçar a sandalia da humildade ou vai ser derrotados.
Toda vez que estiver um tucano fazendo um discurso qualquer. prestem bem atenção.... em momento nenhum.....eu disse em momento nenhum.... eles nos discursos empregam, usam, a palavra "POVO".
Isso merece uma profunda analise ou um talvez até um estudo complexo.
Porque será... porque será....porque será?
Dificilmente o PT recupera a imagem "colada". A ideia de Tarso Genro é mais palatável: Reunir os progressistas e construir uma agenda comum para 2015 a 2022.
O povo na maioria das cidades nem sabe que o governo federal que faz e ou banca a maioria das obras, em belo horizonte é o caso disso, os governos estaduais e municipais tomam conta da obra e diz que são deles, fazem propaganda na televisão no rádio, que em minas tem uma força de comunicação grandiosa, assim aécio fez a fama em belo horizonte e em minas gerais.
Vários programas eles simplesmente apoderam.
A Presidenta, o Ministro ou secretário tem que tirar a bunda da cadeira em brasília e ir inaugurar obra, verificar o andamento, se não consegue através de rede de tv, consegue através de rádios locais e programas locais de tv, quem lembra do Lula, toda inauguração ele esta lã, fazia discurso marcava presença.
Perfeita observação.
Há necessidade de voltarmos os olhos para as bases. O partido do governo - o PT - está perdendo, dia a dia, suas bases municipais. E é importante que, em cada obra, serviço ou maquinário, oferecido pelo governo federal aos municípios, esteja envolvida a base do governo no município. Sem isto, o republicanismo irá enterrar, de vez, o sonho de um Brasil melhor.
Vale a pena ler a análise do Frei Neto sobre o início do Pt e os tropeços ao longo desses 12 anos.
Frei Betto: PT despolitizou país nestes 12 anos
Postado em 11 de novembro de 2014 às 8:39 am
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/frei-betto-pt-despolitizou-pais-nestes-12-anos/
E este Ffrrei Bbeettoo indicou o JB e inventou uma entrevista com o papa!
LUIZA:
Frei Beto é suspeito para dar opinião, ele correu da raia no primeiro
4 anos do PT no governo, não tem moral de criticar que ele abandonou...
Claro que o PT não é único responsável por politizar a população.
Mas concordo com a análise Frei Beto no sentido de que o PT, no governo, não fez sua parte e ajudou nesta despolitização.
Ah, e não adianta desqualificar o crítico.
Neste nosso Brasil, historicamente dominado pela politica elitista e das oligarquias, é fundamental que se pratique, todo dia, a política em benefício dos que não tinham voz.
"O pior analfabeto é o analfabeto político" (Bertolt Brecht).
O PT precisa recuperar alguns procedimentos e ações que havia até alguns anos atrás e que foram aos poucos deixados de lado, como valorizar as bases, voltar a atuar em núcleos regionais e locais, mais atuação junto aos movimentos populares, combater as práticas comuns dos demais grandes partidos, de se fazer política de cima para baixo, que entre outras coisas levou ao caixa 2, quando alguns dirigentes do PT quiseram imitar a prática tucana do Valerioduto. Já o governo, precisa melhorar, e muito, a sua comunicação com o povo. Dilma deveria dar entrevistas coletivas frequentemente. Com regras claras e sem essa de entrevistador levantar a voz e o dedo para a Presidente. Dispensar outros tipos de contatos com imprensa, como ficar indo em premiações, eventos de mídia, programas televisivos, entrevistas à Jornal Nacional, etc, que só interessam aos próprios veículos de mídia, em sua briga com os concorrentes e por status, e não ao País. Cobrar do Congresso que sejam regulamentados os artigos da Constituição referentes à mídia e fazer uma lei de mídia a exemplo do que já existe nos países mais desenvolvidos, que entre outras coisas determine que concessão pública de rádio e TV tem obrigação de informar, sem ônus aos cofres públicos, atos e medidas governamentais que sejam essenciais e de interesse público, como por exemplo, campanhas de vacinação, horário eleitoral, etc.