Lula, exclusivo, ao Tijolaço: “Gilmar pôs o dedo na ferida”

 

“Gilmar Mendes pôs o dedo na ferida”. O lead, obrigatório, da conversa que me permitiu, hoje, o ex-presidente Lula, precisa ser este, pelo imbróglio que se formou no enfrentamento entre o ministro do STF e a Procuradoria Geral da República pelo caso do vazamento da delação (ou ex-delação, se depender de Rodrigo Janot) do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, seria este.

Mas vou me permitir seguir a ordem em que a conversa ocorreu, porque acho que importante, aqui, é o fato de deixar falar, e com o clima com que fala, um personagem da história brasileira – a recente, que ocorre neste instante e a que viveremos nos próximos tempos.

E ela começa assim que Lula sai do saguão do hotel, no Rio, para onde militantes, candidatos e repórteres se aglomeraram para ouvi-lo e desce as escadas para a garagem, em passo acelerado para um homem que completa 71 anos em menos de dois meses. Antes que lhe pergunte qualquer coisa, pergunta-me ele sobre os últimos tempos de Leonel Brizola, que ele, recém-empossado presidente e com as rusgas da política, não pudera acompanhar.

Dá a impressão de alívio ao saber que Brizola só se foi após os 82.

A primeira resposta vem já no carro, como um ensaio do que diria, daí a meia hora, no caminhão de som estacionado diante do Estaleiro Mauá, na Ponta da Areia, em Niterói, num ato em defesa do emprego que resta aos operários da indústria naval, náufragos ainda vivos da crise que afogou mais de 80% dos postos de trabalho. Era, afinal, o dia em que se iniciava o julgamento de Dilma Rousseff no Senado.

– Hoje é o dia da vergonha nacional, o dia em que os golpistas pensam que estão cassando Dilma Rousseff, mas cassam o eleitor, cada um deles que acordou, saiu de casa e votou para Presidente da República.

A energia das palavras, por um instante, dá lugar a um momento de perplexidade com a cassação política de um governante eleito.

-Desde a volta das eleições diretas, jamais imaginei que isso aconteceria. Não posso entender que alguém possa ser cassado por razões de uma possível perda de popularidade. Se fosse assim, todo governante seria cassado em algum momento de seu mandato.

Mas dura pouco a perplexidade com a onda de ódio político que está envolvendo o julgamento de Dilma. Logo chama para si a questão.

– Eu pensei que só tivessem tamanho ódio por mim, não por ela. Mas começaram tentando nos afastar, nos intrigar, desde o início do primeiro mandato. Quando viram que não conseguiriam, resolveram destruí-la e se aproveitaram de sua situação de fragilidade no campo da economia.

Que ele atribui, diretamente, às manobras de Eduardo Cunha.

–  Quando os Estados Unidos tiveram a crise, o presidente da Câmara, lá, ajudava a construir saídas. Aqui, além da mídia, ainda tínhamos um presidente da Câmara que trabalhava diariamente para impedir que Dilma fizesse os ajustes na economia e todo dia vinha com aquelas pautas-bomba.

A tolerância com Cunha, de olho no impedimento de Dilma, foi, para Lula, a razão para a degradação do clima político que atingiu seu ápice com a sessão deprimente da Câmara que autorizou a abertura do processo de impeachment, da qual fala com olhos arregalados, como se – como tantos – ainda não pudesse acreditar que tivesse ocorrido aquele episódio.

A mídia não lhe escapa e conta a opinião de Mário Soares, ex-primeiro-ministro e presidente de Portugal que, trabalhando como entrevistador para um programa de televisão de seu país veio entrevistá-lo há alguns anos, trazendo jornais do mundo inteiro sobre os sucessos do Brasil e lhe perguntou como, nos daqui, retratava-se “um Brasil que acabou”.

– A mídia construiu o discurso para a derrubada de Dilma e levou àquela cena…

Um telefone lhe é passado e interrompe seu raciocínio. São as conversas de que Lula não desiste para mover o que parece inamovível no voto dos senadores que votarão o impeachment. A esperança que escasseia é proporcional ao esforço que ainda faz, desmentindo as intrigas de que deixa Dilma à própria sorte e na conversa com um deles fica claro que ambos agem em sintonia.

Dá para perceber, em poucos minutos de conversa, o papel que ele teria desempenhado na Casa Civil, se Gilmar Mendes não tivesse impedido que ele a ocupasse. A história poderia ser outra, mas é esta que vivemos e me aventuro em tocar no nome do algoz de sua última tentativa de restabelecer a estabilidade política do governo eleito, citando a polêmica que está nos jornais, ressalvando que compreenderia que não entrasse num assunto em que ele, Lula, está sujeito a vinditas judiciais.

Não há nenhuma hesitação ou pedido de off:

– Gilmar Mendes tocou o dedo na ferida. Há dois anos, numa cerimônia em homenagem ao Márcio Thomas Bastos no Ministério da Justiça eu já protestava contra estes métodos. Quando [Sérgio]  Moro definiu [ele se refere às entrevistas do juiz citando a Operação Mãos Limpas, na Itália] que a imprensa ajudava no processo, ele estimulou o julgamento pela imprensa. É preciso que o juiz volte a julgar com os autos, as provas.

Para ele, o episódio pode servir para que se abra um debate sobre isso, agora que o vazamento atinge um ministro do Supremo Tribunal Federal e gera comoção. Lula não se verga ao conveniente e diz que é preciso que alguns juízes e membros do Ministério Público – “alguns, não todos’, ressalva – deixem de se comportar como ungidos por Deus para, a seu modo, definirem quem merece ou não ter direitos.

–  Sou vítima de mentiras há muitos anos. Sei o que é isso. Não posso aceitar que uma pessoa vá para o julgamento na Justiça já condenado pelo julgamento da mídia. E nem que os indivíduos, como alguns fazem, se comportem como se eles próprios fossem as instituições.

Agora é a visão dos barcos que servem à Petrobras fundeados na Baía da Guanabara que interrompe o assunto. Explico que eram muitos mais há algum tempo e, há mais tempo, antes dele, quase nenhum, quando só sucatas ficavam ancoradas no fundo da baía, a espera de desmonte, como ferro-velho. E os navios inconclusos, parados diante do Estaleiro Mauá, onde os operários sobreviventes o esperavam.

E a pergunta inevitável é sobre a perspectiva de retomada daquela indústria, que foi para o Rio, nos anos 60 e 70, como foi para São Paulo a indústria automobilística. Haverá, consumado o impeachment, a enxurrada de capital estrangeiro que, dizem, inundará o país?

–  Só virão comprar o que já existe. Comprar ativos, bens públicos. Acabar com a partilha [do petróleo do pré-sal]. Não se importam com a indústria nacional. Por que é que, em 2009, eu tive aquela briga com o Roger Agnelli, que Deus o tenha? Porque é que a Vale tinha de ir fazer lá fora aqueles navios de 400 mil toneladas [de porte bruto] que muito porto nem tinha calado para receber?

Já estamos na Ponta da Areia, passando no meio de um mar de gente que esperava Lula. Ele fica indócil, quer saltar do carro – “há quatro meses quero vir aqui” – e é desestimulado: “espera, presidente, espera a gente entrar [no portão do estaleiro], que de lá a gente vai para o carro de som”. Ele ainda insiste duas vezes, mas se conforma, sabe que está sendo cuidado.

Mas assim que entramos, sai do carro como um furacão e brilhando mais que sua guayabera branca, ergue os braços e sai pelo portão que o devia proteger daqueles que, de verdade, o protegem e acolhem.

Acabou minha meia hora. Lula agora está em seu meio. Volto a pé, ouvindo os comentários de admiração. Tomo um táxi, já uns 500 metros à frente. O taxista tem um irmão que era caldeireiro num dos estaleiros, irmão que agora está desempregado.

Fiz bem em levar o casaco desbotado que vesti para enfrentar o frio da manhã, quando saí para o encontro com Lula. Pertencia a Brizola e, como ele esqueceu numa produtora de vídeo onde foi fazer uma gravação e eu, assumidamente, não devolvi. Foi uma forma de levar Brizola ao lugar onde, creio eu, ele estaria.

 

Fernando Brito:

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  • A QUADRILHA de gangsters mafiosíssimos recorre a um crime mais hediondo do que o Projac do DEMoTucano 'FHC Príncipe da Privataria'!

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    BNDES LANÇA PROGRAMA PARA SOCORRER (E CALAR?) EMPREITEIRAS

    Aproveitando a cortina de fumaça do Senado, o BNDES lançou nesta quinta (25) uma linha de R$ 5 bilhões para refinanciamento e compra de ativos das empreiteiras; medida tem o objetivo de socializar o prejuízo da Lava Jato e conter delações devastadoras, como as de Léo Pinheiro e de Marcelo Odebrecht; em texto distribuído à imprensa, o banco diz que, "ao incentivar a transferência de ativos produtivos, a medida contribuirá para estimular a atividade econômica e a função social da empresa, preservando empregos e gerando renda"; ficará a critério do BNDES escolher quem serão os beneficiados pela medida

    25 DE AGOSTO DE 2016 ÀS 19:27

    (...)

    FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.brasil247.com/pt/247/economia/251771/BNDES-lan%C3%A7a-programa-para-socorrer-(e-calar)-empreiteiras.htm

    • Perdão!

      Errata:
      A QUADRILHA de gangsters mafiosíssimos recorre a um crime mais hediondo do que o Proer do DEMoTucano 'FHC Príncipe da Privataria'!

    • É, Messias, este programa quem deveria ter lançado era Dilma. Mas, estranhamente, não o fez. Agora, em poder dos golpistas, o BNDES desembrulhou o pacote.

      • ... Wagner Ortiz,
        não misture as coisas!
        Somente espero que a intenção de confundir não seja deliberada!

        Respeitosamente,

        Messias Macedo

  • Fernando Brito se superando. Linda entrevista num triste momento em que perdemos as esperanças.

  • Que belo texto! Obrigado pela ajuda neste momento tão estranho da nação.

  • Devia ter contado ao Lula que o casaco foi do Brizola. Aposto que ele teria gostado muitíssimo de saber e teria ficado emocionado. Sua entrevista com ele salvou meu dia e encerra brilhantemente a leitura de matérias de hoje sobre o caos que se instalou com o golpe no Brasil. Em Lula, sempre haverá esperança para o povo brasileiro! Dá pra entender porque a mídia golpista foge dele como o diabo da cruz: duas ou três frases de Lula fazem uma revolução!

  • É isso o que sempre podemos esperar do Lula. Um homem sincero, que acredita no Brasil e defende seu povo. Sempre com conversas coerentes, lúcidas, por que conhece o Brasil de norte a sul, de leste a oeste. E é justamente esse homem que crápulas querem destruir, para se apossarem do que ainda restou de nossas riquezas. Nosso fim será o de um país miserável, povo miserável, sem trabalho, sem renda, um povo sem dignidade. Só nos resta torcer para que os eleitores varram da vida pública todos os que votaram e votarão contra esse assassinato de uma pátria que tem (ou teve) tudo para ser uma das maiores nações do mundo. Diz o sábio que a história se repete. Infelizmente, no Brasil, ela só se repete com o que há de pior: golpes e mais golpes. O que dirão os livros do futuro? Provavelmente a História começara dizendo que ... "era uma vez um grande país, com riquezas naturais que nenhum outro no mundo possuía, um país com uma grande miscigenação de povos, que não soube aproveitar os poucos momentos que teve de democracia e, por ódio e ignorância, acabou como um país pobre, dirigido por ladrões e acabou sendo dividido em diversas republiquetas, não passando de simples colônia do imperialismo e do capitalismo estrangeiro. As grandes nações apropriaram-se de suas riquezas, tornando-o tão pobre quanto o era enquanto colônia de Portugal. Não deram um passo em direção ao futuro. Pelo contrário, voltaram à condição de colônia, voltaram ao tempo do império. Daí o seu trágico fim"...

    • Voltará ao tempo do Império não, será apenas o que de fato é a república presidencialista brasileira: uma grande mentira que a elite deixa de tempos em tempos o espetáculo acontecer.

  • É isso que está sendo julgado no congresso. Nosso futuro como grande nação ou a introdução direta de golpes a cada momento de crise política ou econômica. Alegrem-se, detratores de Cuba e Venezuela, pois vocês conseguiram o impossível: tornar o Brasil pior do que eles. Deleitem-se, enquanto ainda tiverem trabalho.

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