Dos adversários que teve de enfrentar na montagem do governo até agora, nenhum conseguiu representar um problema mais sério para Lula do que Marina Silva.
E não pelo que ela pudesse representar de votos no Congresso, por evidente, nem como pretendente antecipada à sucessão em 2026, como se poderia interpretar sobre Simone Tebet, mas pelo prejuízo que potencialmente traz ao grande trunfo ambiental com que potencialmente o país conta para sua inserção na mais evidente questão global hoje, o meio ambiente.
Não é apenas “bater o pé” para ter o controle direto da máquina administrativa do Ministério do Meio Ambiente ao recusar-se a ser a Autoridade Climática Nacional, uma construção de Lula para que ela fosse a grande porta-voz e embaixadora do Brasil no mundo que, na visão miúda da ex-senadora, deve ser “ser um cargo técnico vinculado ao Ministério do Meio Ambiente”.
Um “cargo técnico” é exatamente o contrário do de “primeira-ministra ambiental” que Lula concebeu e ofereceu a Marina.
Não é, fora da pequenez da política convencional, sempre muito interessada em “ocupar espaços”, “criar visibilidade” e, até, nomear superintendentes e diretores disso ou daquilo.
Como uma delegação pessoal do Presidente da República, a Autoridade Climática seria uma referência para todo o governo, inclusive com um poder transversal sobre todos os ministérios, o que, por óbvio, nunca será pleno com “um técnico” de segundo escalão do Ministério do Meio Ambiente pretendendo ter poder superior aos demais ministros do Governo, independente até do que pense a titular do ministério.
Não será autoridade alguma, porque será sempre um subordinado do ministro e não alguém portador da vontade do próprio presidente.
Aqui no Rio de Janeiro, quando Leonel Brizola resolveu dar cara e corpo à educação como – a expressão é dele – “a prioridade das prioridades”, jamais cogitou nomear Darcy Ribeiro para a Secretaria de Educação e deixá-lo às voltas com a burocracia do órgão, por rmais meritória que esta pudesse ser. Deu a ele algo semelhante a esta função concebida por Lula, fazendo dele a “Autoridade Educacional”, como chefe do programa de desenvolvimento pedagógico e construção dos Cieps.
Era algo tão importante que não poderia ser feito por “um cargo técnico vinculado” à Secretaria de Educação.
Por maior que seja a sua legitimidade pessoal, Marina Silva não alcança a visão de Estado que teve Lula ao oferecer-lhe algo que seria uma posição maior.
Marina não pensa fora da caixa e nunca deixa de lado o que acha, erradamente, que é a chave do sucesso político, o controle de um ‘cercadinho’ do governo.
Não será por isso, porém, que Lula vai deixar escapar a oportunidade que se abre para o Brasil de ser uma liderança mundial na questão ambiental, embora seja mais difícil sem a figura de Marina, que poderia ser um emblema deste papel.