Jair Bolsonaro que eleger Artur Lira presidente da Câmara dos Deputados não porque isso vá ajudar a aprovação de seus projetos, se é que se pode chamá-los assim) para economia, mas para impor a pauta de costumes, reacionária e obscurantista, que é sua única verdadeira paixão.
Este é o ponto mais importante da entrevista de Rodrigo Maia, hoje, no Estadão, na qual ele admite que, vencendo a disputa para o comando da câmara baixa do Legislativo. o presidente da República se ” recoloca no processo político”:
— É muito óbvio que não é a pauta econômica que faz o presidente rasgar o que falou ao longo da campanha: que não iria interferir no outro Poder, que o Brasil foi destruído pelo toma-lá-dá-cá, pela troca de cargos, pelas as emendas, que isso levava à corrupção. Se você olhar os candidatos à presidência da Câmara, todos pelo menos votaram a pauta mais liberal na economia. Se todos dariam conforto ao governo em relação à pauta econômica, por que o presidente da República quer interferir? O governo deixa claro qual é sua prioridade, que não é a pauta econômica.
De fato, Maia tem razão, porque a única votação econômica difícil que o governo teve de enfrentar na Câmara foi a da previdência e qualquer um sabe que, sem a atuação do presidente da Câmara, ela não teria acontecido em 2019 e, com a pandemia em 2020, nenhuma chance haveria de aprová-la, muito menos nos anos finais do mandato presidencial, por óbvio.
O governo quer outro presidente da Câmara para interferir na pauta de costumes [porque] na pauta econômica não precisa interferir de forma nenhuma.
A entrevistado presidente da Câmara deve ser levada em conta pelos partidos de oposição ao definirem seu comportamento nas eleições de 1° de fevereiro. Há espaço para uma composição que – embora com algum grau de insegurança, pelo comportamento invariavelmente “mercadista” de Rodrigo Maia – sirva para montar, com o controle da Casa, um rolo compressor antidemocrático e obscurantista.