Maia é a melhor notícia para a candidatura Freixo

Conheço Cesar Maia desde antes de ele filiar-se ao PDT e, logo depois, tornar-se Secretário da Fazenda de Leonel Brizola. Em 79, creio, fiz um curso livre de Economia que ele ministrava na Universidade Federal Fluminense e lembro ainda hoje de suas explicações sobre o que chamava de “vasos comunicantes” entre os setores econômicos. Reencontrei-o na na campanha de 1982 e, no o início da primeira gestão de Brizola, todos os que atuávamos no Governo do Rio praguejávamos contra ele, porque o arrocho que ele fez nas despesas de custeio faziam faltar até grampos para grampeador nas repartições públicas.

Todos, menos Leonel Brizola, que tinha de lidar com um Estado falido e, de quebra, com um presente de grego deixado por Chagas Freitas: a paridade de vencimento dos aposentados, antigo e justo desejo dos servidores públicos , tinha sido transformada em lei ao apagar das luzes do chaguismo, para ser paga – adivinhe – a partir de março de 83, quando da posse de seu sucessor.

De cofres raspados, era quase impossível honrá-la, mas foi paga, com malabarismo como o corte do custeio da máquina e umas “cambalhotas” – outra fonte de “chiadeira” – nos calendários de pagamento, passado do início para o final dos meses. Ah, sim, também “segurou” as nomeações dos cargos comissionados, economizando aí uma montanha de cruzeiros, nossa moeda de então.

Quarenta anos se passaram e Cesar Maia cumpriu uma trajetória da esquerda para a direita, algo não raro entre os políticos brasileiros, eleitoralmente muito bem sucedida e teria sido governador do Estado se o então “fenômeno” Garotinho não o tivesse atropelado na eleição de 1998. Reergueu-se e foi duas vezes prefeito da cidade do Rio de Janeiro, passando a prefeitura para seu ex-pupilo Eduardo Paes, um dos integrantes de uma camada de então jovens conservadores que lançou na política.

Com todas as diferenças que este movimento em direção à direita criou – e que muitas vezes levou Cesar a atitudes profundamente injustas com Brizola, as quais testemunhei – há nele duas características que podem fazer a necessária diferença para a candidatura de Marcelo Freixo, de quem está confirmado ser o companheiro, como vice.

A primeira é que protege o candidato a governador da imagem que lhe tentam “colar” como de ultraesquerdista e administrativamente incapaz, pela inexperiência. Cesar é uma vacina contra isso e um ponto de apoio para que a dificílima situação econômica do estado seja usada como argumento eleitoral por um governador que, graças à tolerância de Bolsonaro, teve aliviadas as amarras do seu programa de recuperação fiscal, o que fez Cláudio Castro escapar dos atrasos de pagamentos a servidores públicos, eleitorado de peso e fatal para tantos governantes estaduais e municipais.

A segunda, é que, embora alguns possam ver em Maia uma vocação tecnocrática, ele é veterano em campanhas eleitorais majoritárias. Se tiver forças e disposição para caminhar pelo interior e percorrer as obras que deixou na capital, pode ajudar a suprir as dificuldades de Freixo em áreas de subúrbio e em comunidades, porque pode dar referências de memória que o candidato a governador não tem.

Cesar inaugura esta aliança com uma boa entrevista a O Globo, nas quais destaco a moderação na postura de apoio em relação a Lula – diz que a eleição do ex-presidente tem o condão de reconstruir o quadro democrático no país – e abordagem da recusa, até este momento, de Eduardo Paes em apoiar Freixo, afirmando que a estratégia do prefeito de colocá-lo como adversário “é pouco inteligente”, e que Paes teria admitido revê-la.

Na entrevista, Cesar também acerta em definir o atual governo do estado em “um novo tipo de chaguismo”, numa referência aos esquemas fisiológicos de Chagas Freitas derrotados por Leonel Brizola em 1982. Para quem não viveu, era o “governo da bica d’água”, que assistia chefes políticos locais com ações paliativas, sem características de políticas públicas estruturantes e uma cumplicidade escandalosa com o governo central autoritário.

Cesar sabe e lembra bem de como vencemos então e pode trazer esta memória para a campanha de Freixo, que precisa disto para crescer no primeiro turno, tanto quanto precisará da forte entrada de Maia na classe média para enfrentar o segundo turno.

O primeiro de nossos deveres é vencer o bolsonarismo e suas milicianas projeções no Rio de Janeiro. A aliança com Maia é um passo importante nesta direção. Se puder, depois, seguir para eliminar as chagas do clientelismo político que dominou esta estado, melhor ainda.

 

 

 

Fernando Brito:
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