A maldição dos pobres cai sobre Bethlem, o algoz dos camelôs

Não me comprazo com a desgraça alheia, mas não posso deixar de registrar o bloqueio, pela Justiça, dos bens do ex-deputado e ex-secretário Rodrigo Bethlem, o do “Choque de Ordem” do início da primeira gestão de Eduardo Paes, no município do Rio de Janeiro, por desvio de R$ 60 milhões em verbas públicas.

Bethlem era o “xerife” do Rio, louvado pela mídia e personagem até de matéria do The New York Times. Seu mérito?

O mesmo desde que se iniciou na vida pública, como administrador regional de Cesar Maia: jogar a guarda municipal, de cassetetes, pistolas elétricas, gás de pimenta e botinadas sobre os camelôs.

Era o Rapa Boy mauricinho que não se importava se aqueles desgraçados da sorte teriam, rasgados ou apreendidas os badulaques que vendiam, do que tirar o dinheiro para que seus filhos tivessem o que comer.

Mas caiu sobre ele aquilo que Brizola chamava de “a maldição dos pobres”.

Numa briga com a ex-mulher por divisão de bens, foi gravado falando de “mesada” de fornecedores públicos e conta na Suíça.

Escapou na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, para onde voltou em busca de refúgio. Mas, agora sem mandato, teve da Justiça o mínimo que se esperava: o bloqueio dos ricos bens, apreendidos pelo Judiciário com muito mais dó e piedade do que ele fazia com os aqueles parcos dos pobres camelôs.

É uma velha regra, com raras exceções: onde houver um moralista, há um imoral; onde houver um defensor incondicional da ordem, há um ordinário.

Bethlem diz que o Ministério Público  do Rio “está jogando para a platéia”.

Seja ou não, uma platéia de gente pobre, sofrida, maltratada, que está vendo a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.

Fernando Brito:

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  • Prezado Bito vamos dar os crédito ao Geraldo Vandré (volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar) em seu último parágrafo.

  • Os frutos jamais serão diferentes das sementes.
    Se plantares maldades, colherás maldades, nada demais nisto.
    Justiça Divina: aqui se faz, aqui se paga.

  • Para esses ordinários o que lhe dói mais é lhe tirarem a grana, que geralmente é obtida de forma ilegal. Nem é necessário prisão, tira todos os seus bens, já que desviou 60 milhões, e manda ele se virar como camelô para saber o que é trabalhar.

  • Candomblé pode não ser a maior religião em seguidores, no Brasil.

    Mas o povo humilde tem poder...

  • Tenho pensado muito no cipó de aroeira nesses últimos dias, Brito.

    Não digo que estou feliz, mas de alguma forma sinto que a justiça está dando as caras. E as cartas.

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