Manual do governante para evitar suspeitas

Hoje, ao ver no Estadão, meu bom amigo Carlos Gabas – sobre o qual, em diversas situações, testemunhei a correção e a rigidez com que trata a coisa pública – sendo acusado por conta de mensagens no celular de um dirigente de empresa que lhe pede ajuda para receber pagamentos atrasados e ter respondido com um “ok, cuido aqui” fiquei pensando se, já ,já, não vão me incluir na “Lava Jato”.

Afinal de contas, passei um ano no Governo e cansei de receber pedidos como este, como chefe de Gabinete.

Algumas vezes, entrava por um ouvido e saía pelo outro. Outras, ia saber o que se passava. Nem sempre pagamentos, às vezes questões administrativas, toda hora recebia reivindicações. Por exemplo: um dirigente da BR Foods pediu minha ajuda por conta da imigração de sudaneses islamitas para trabalharem no abate de frango halal.

Frango halal é o frango para exportação para a Arábia Saudita e tem de ser abatido, segundo as regras de certificação, por muçulmanos, voltados para Meca, etc, etc…E não havia na colônia árabe brasileira quem se dispusesse ao trabalho, não na quantidade necessária. Ouvi e chamei o presidente do Conselho de Imigração, servidor corretíssimo, expondo o problema que me tinha sido transmitido e pedindo que encontrassem solução. Encontraram. Ponto final para um problema que é sério, pois somos o maior exportador de aves para aquela região.

Terei eu sido “traficante de influência”?  Devo ser execrado publicamente?

Sou lobbista?

Gabas era membro do conselho de administração da empresa devedora, o que haveria de errado em cuidar que o devido fosse pago?

Com as comprovações corretas, na ordem correta, em prazo mais dilatado que aquele que seria correto, não é dever do gestor pagar ou verificar porque não se paga?

De que ele é acusado? De receber propina? Não. De ter praticado irregularidades? Não. De ter “pedalado” pagamentos antecipados? Não.

Mas, nestes tempos policialescos, parece que é preciso adotar novas práticas.

Exercendo um cargo público, não fale com qualquer empresário. Se aparecer um na repartição, encaminhe-o ao protocolo geral e mande deixar um ofício.

Aliás, não fale com ninguém. Exija que até o bom dia seja dado por escrito, com uma declaração de que não provém de alguém que trabalhe em qualquer empresa que preste serviços ou realize obras no seu setor  ou para qualquer órgão público.

Na hora de nomear auxiliares, escolha apenas os inexperientes ou incapazes, que não tenham exercido qualquer função de relevo na iniciativa privada. Grampeie seus telefones, celular e de casa também, para ver com quem ele anda falando.

Tenha uma existência semiclandestina, não seja visto ao lado de ninguém e muito menos estenda a mão a cumprimentos.

Não tenha whatsapp, facebook, e-mail, não envie cartas ou bilhetes. Só por ofício, numerado e protocolizado devidamente.

Seja antipático e não trate ninguém com informalidade, isso é sinal de que há um “relacionamento próximo”  e você não pode ser amigo de ninguém.

E, sobretudo, nunca saia de casa sem usar a estrela amarela pregada à roupa, porque a SS, digo, a PF, está atenta a você.

Heil!

 

Fernando Brito:

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  • Uma sugestão a mais: qualquer conversa, deve ter a presença de um representante do TCU, Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal.

      • Se polícia, segurança de shopping, guarda de trânsito, juiz, "os camisa da seleção" , etc, te parar diga:
        _ Sou tucano !
        _Ops ! Pode passar ! Desculpa aí meu !

        Ps. O método só funciona no Brasil.

    • Não! Isso significa que está cooptando os órgãos de vigília!

  • Janot, a face do corporatismo judiciário brasileiro, tem poder demais sem saber administrá-lo e dá poder demais a quem não enxerga um palmo adiante do próprio nariz. Até a vingança ( em nome dos engavetadores anteriores da república e dos gurjéis e joaquins que não gorjeiam como deveriam na nossa terra) precisa de inteligência e equilíbrio, ainda mais se tratando em gente da justiça. Disse gente? Desculpe, me confundi.

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