Transcrevo o texto do escritor Marcelo Rubens Paiva, em defesa da memória de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado, torturado e assassinado pelo regime militar, cujo o corpo, até hoje, nunca pôde ser recuperado pela família.
As mentiras e o ódio
de Bolsonaro pelo meu pai
Marcelo Rubens Paiva, no Estadão
Como deputado, Jair Bolsonaro costuma proferir desde os anos 1990 na Câmara dos Deputados discursos mentirosos sobre meu pai, Rubens Paiva, um deputado federal como ele. (todos taquigrafados nem www.camara.leg.br)
Nunca demos bola. O ex-capitão era uma figura secundária na política brasileira e se sobressaía exatamente pelas falas polêmicas e sem sentido, ofensas a gays, negros, nordestinos e mulheres, no Congresso e em programas de rádio e TV. Falas que continua a pronunciar.
Como candidato a presidente, em encontros com empresários, faz troça da imprensa, chamando Estadão de “Esquerdão”, Folha de S. Paulo de “Foice de S. Paulo”, e repete sua teoria conspiratória sobre a suposta participação indireta do meu pai na Guerrilha do Vale do Ribeira.
Seus seguidores passaram a reproduzir trechos da sua teoria nas minhas redes sociais. Foi então que eu soube dela.
Meu pai teria dado armas a Lamarca, diz. Todos sabem que, em 24 de janeiro de 1969, acompanhado do sargento Darcy, do cabo José Mariani e do soldado Roberto Zanirato, o capitão Lamarca desertou do Exército levando do 4° Regimento de Quitaúna uma Kombi com 63 fuzis FAL, três metralhadoras leves e alguma munição.
Armamento que usou no Vale do Ribeira, em guerrilha financiada por milhões de dólares roubados do cofre do ex-governador Adhemar de Barros.
Bolsonaro disse no plenário da Câmara de 20 de março de 2012:
“Então, o Lamarca, aproximadamente em 3 meses, estava a montante do Rio Ribeira de Iguape, Município de Eldorado Paulista, lindeiro com a Fazenda Caraitá. Que Fazenda Caraitá é essa? Pertencia à; família Paiva. Um dos donos: Rubens Paiva. E o Rubens Paiva, então, foi quem indicou aquela região para o Lamarca, assim como no passado indicaram a região do Araguaia. Então, o Lamarca usava aquela região, indicada por Rubens Paiva, e bancado, financeiramente, por Rubens Paiva.”
Quem foi fazer guerrilha no Araguaia foi o PCdoB, anos depois. Lamarca já estava morto, assim como meu pai.
A fazenda de Eldorado não era do pai, mas do meu avô, Jaime Paiva, morador de Santos, com quem meu pai tinha desavenças justamente por conta das convicções conservadoras do velho, a quem chamava de “Coroné” (meu avô chegou a ser eleito prefeito de Eldorado pela ARENA, o partido braço civil dos militares durante a ditadura).
Meu pai passou a infância dos anos 1930 e 1940 na fazenda, e depois raramente ia. Morávamos no Rio de Janeiro.
“Rubens Paiva deu o local, deu os meios para que Lamarca criasse um foco de guerrilha na região de Barra do Braço, pertencente a Eldorado Paulista.”
O campo de treinamento da guerrilha na verdade ocorreu a mais de 100 quilômetros de Eldorado Paulista, nas matas na fronteira com o Paraná, e na fuga eles saíram em Barra do Turvo, a 50 quilômetros de mata da fazenda, região montanhosa sem estradas.
Continuam os delírios de Bolsonaro: “Acusam-nos de ter matado Rubens Paiva. O grupo do Lamarca suspeitou e chegou à conclusão de que ele foi denunciado pelo Rubens Paiva quando foi preso. Ninguém resiste a tortura… Então, o grupo do Lamarca suspeitou que Rubens Paiva o havia denunciado. E esperaram o momento certo. Quando o Rubens Paiva foi detido pelo Exército, posto em liberdade, com toda a certeza, foi capturado e justiçado pelo bando do Lamarca e pelo bando da Esquerda, da VPR. E aí a culpa recai sobre as Forças Armadas.
Em 2014, o general reformado Raymundo Ronaldo Campos revelou que o Exército montou uma farsa ao sustentar, na época, que Paiva teria sido resgatado por seus companheiros “terroristas” ao ser transportado por agentes do DOI no Alto da Boa Vista.
Raymundo, que era capitão, conduzia o veículo supostamente atacado e estava na companhia dos sargentos e irmãos Jacy e Jurandir Ochsendorf.
Segundo O Globo: “O general, que passou os últimos 43 anos sustentando a farsa, mudou a versão sobre o episódio em depoimentos ao Ministério Público Federal e à; Comissão Nacional da Verdade. Ele admitiu que recebera ordens do então subcomandante do DOI, major Francisco Demiurgo Santos Cardoso (já falecido), para levar um Fusca até o Alto da Boa Vista e simular o ataque. Raymundo e os dois sargentos metralharam e incendiaram o carro, jogando um fósforo aceso no tanque de combustível.”
A família Rubens Paiva, além de conviver com a dor morte sob tortura absurda por tantas décadas, ainda tem que aturar o ódio delirante de Bolsonaro, que cuspiu no seu busto nos corredores do Congresso, na inauguração.
Como conta meu sobrinho Chico Paiva Avelino, em texto comovente publicado ontem no Facebook:
A cusparada premonitória de Jair Bolsonaro -por Chico Paiva Avelino
Em 2014, a Câmara dos Deputados fez uma tocante homenagem ao meu avô, Rubens Paiva: inauguraram um busto com a sua imagem em função de sua incessante luta pela democracia – causa pela qual ele literalmente deu a vida. Minha família foi em peso. Emocionadas, minha mãe e minha tia fizeram discursos lindos e orgulhosos sobre a memória do pai. No meio de um deles, fomos interrompidos por um pequeno grupo que veio se manifestar. Era Jair Bolsonaro, junto com alguns amigos (talvez fossem os filhos, na época eu não sabia quem eram), que se deu ao trabalho do sair de seu gabinete e vir em nossa direção, gritando que “Rubens Paiva teve o que mereceu, comunista desgraçado, vagabundo!”. Ao passar por nós, deu uma cusparada no busto. Uma cusparada. Em uma homenagem a um colega deputado brutalmente assassinado.
Gostaria muito de poder conversar com o meu avô nesse momento político pelo qual passamos. Teria muito a acrescentar: foi eleito Deputado Federal por São Paulo em 1962, e cassado pelo AI-1 em 10 de abril de 1964. Como democrata exemplar que era, sempre lutou contra o autoritarismo e nunca encostou numa arma. Infelizmente essa oportunidade me foi arrancada quando, em janeiro de 1971, ele foi levado de casa junto com minha avó e minha tia, que na época tinha 15 anos, para os porões do DOI-Codi do Rio de Janeiro, na Tijuca. Lá, foi torturado até morrer pelo aparelho de repressão montado pelo regime militar, cuja filial paulista era comandada por ninguém mais nem menos do que o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Na época, não havia ficado claro o motivo dos militares levarem também a minha avó e minha tia. Hoje, conhecendo os métodos praticados por Ustra, sabemos que era para trazê-las à; sala de tortura e pressionar o meu avô. Elas, em celas ao lado, separadas, ouviram seus gritos antes que ele fosse morto.
O atestado de óbito só foi entregue à; família 25 anos após o assassinato, em 1995. O corpo jamais foi entregue. Na Comissão Nacional da Verdade, outros militares envolvidos no crime disseram que o corpo foi enterrado e desenterrado duas vezes. Sobre o assunto, Bolsonaro debochou: pendurou na entrada do seu gabinete em Brasília uma placa que dizia “quem procura osso é cachorro”.
Hoje em dia, Ustra é mais famoso não pelas atrocidades que cometeu, como torturar mães na frente de suas crianças, colocar ratos e baratas vivas dentro da vagina das mulheres, estupros, pau de arara, choques, entre outras; mas por ser o grande ídolo, chamado de herói, pelo nosso provável novo presidente, Jair Bolsonaro – que diz que seu livro de cabeceira é a história do coronel.
Em seu voto a favor do impeachment, Bolsonaro prestou homenagem ao torturador da ex-presidente. No púlpito do Congresso Nacional, com o país inteiro assistindo, ele decidiu lembrar de um ser asqueroso que era o contrário de tudo que a democracia representa, e que havia covardemente torturado a mulher que ele ali teve o sadismo de torturar psicologicamente mais uma vez.
Desde que me dou por gente, essa cicatriz já havia sido fechada na família. Não era um assunto tabu. E sempre fui ensinado que essa não era uma luta pessoal, que não devíamos denunciar e brigar contra essas práticas como vingança familiar, mas para evitar que isso ocorresse com outros. Não era uma briga nossa, mas de todo o país. Minha mãe foi a muitos eventos e deu muitas entrevistas naquele ano por ocasião dos 50 anos do golpe de 1964. Em todas elas fazia questão de lembrar do caso Amarildo, pedreiro desaparecido e assassinado pela PM do Rio de Janeiro em 2013 &ndandash; como aquela prática seguia mesmo na nossa frágil democracia, e como a dor da família de Amarildo era a mesma pela qual a nossa havia passado.
Estamos à;s vésperas de uma eleição na qual Bolsonaro não só reafirmou sua admiração por Brilhante Ustra, mas a todo aparato do regime militar. Meu avô lutou contra discursos como esse e por isso foi covardemente preso, torturado e assassinado. Deu a vida pela democracia. Hoje, fica evidente que aquela cusparada não era algo meramente simbólico, mas um prenúncio daquilo que ele pretende fazer como Presidente, e que vem incansavelmente repetindo durante a campanha: prender e exilar seus adversários políticos, eliminar militâncias e desaparecer com as minorias.
Ainda dá tempo de evitar isso, e o poder está em nossas mãos, com nosso voto. Eu nunca imaginei que, em 2018, essas informações não bastassem para que as pessoas pudessem ter repulsa a um político que defende isso. Espero que ajude alguém a refletir, a tornar mais palpável quem é Jair Bolsonaro. Em 1964, foi Rubens Paiva e milhares de outros. Em 2018, pode ser eu, você, as pessoas que amamos.
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É assustador, estamos vivendo uma volta ao passado mais sombrio deste país. Numa corrida desenfreada rumo ao fascismo e à estupidez que serão, para nosso horror, referendados pelas urnas. Espero que não. Sinceramente, não penso em outra coisa a não ser em acordar e descobrir que a possibilidade de entregarmos o Brasil a esse monstro ignorante e perverso foi apenas um pesadelo.
Não sei bem se é uma volta ao passado ou o prenúncio de um futuro muito mais sombrio do que qualquer outro que esse país já viveu.
Há esperança. A máquina de produção de mentiras em massa do Bolsolão foi desmascarada com atraso, mas talvez não tarde demais.
Só fiquei com uma pulga atrás da orelha: a Globo GOLPISTA, diante de uma queda do Jair Bolsolão, vai abrir as portas, caso o covarde resolva debater, numa situação de desespero?
Numa situação dessas, o PT só deveria aceitar um pool com todos os veículos de mídia!!!
Salve cousinelizabeth. Um abraço, juntos/as nessa luta.
Assim como na república de Weimar, os togados e as classes dominantes tupiniquins estão menosprezando a besta-fera, esse ex-militar de baixa patente ou "bunda-suja", como costuma ser conhecido no jargão dos quartéis. Sem a eloqüência e verve oratória do füher - talvez sema a inteligência daquele austro-alemão - o ex-capitão do exército comanda maltas e matilhas sedentas de sangue, manipuladas e cegadas pelo ódio imbecilizante. A ditadura midiático-policial-judicial-militar se recrudesce; com ascensão de um ex-militar desqualificado à presidência da república, por meio de uma eleição farsesca e fraudulenta, um período de trevas se abaterá sobre o Brasil.
Bolsonaro está mais para Ernest Rohm , chefe da SA , as milicias nazistas.
Estão achando que o cara é apenas um fanfarrão, que diz essas sandices apenas para se eleger, mas depois irá se moldar. Nada disso. Ele realmente pensa esses absurdos, por incrível que possa parecer. Quando suas ações representarem seu pensamento em atos de um governo totalitário terá sido tarde demais. Não terá havido tempo hábil para julgar verdadeiro ou falso nesse joguinho patético de expôr preconceitos e depois desmentir dizendo ser brincadeira, apostando na dúvida e na inocência do espectador.
Esses caras dizem que o comunismo é totalitário, mas não olham para o próprio rabo.
Mais uma da série "acuse-os do que vai fazer".
Haveremos de vencer mais uma vez e outra e outra, a imbecilidade, a bestialidade e insensatez de pessoas como esse ser abjeto, dia 28 se não forem desvirtuados nossos votos: a Democracia vencerá, mais uma vez.
O fascismo na rua hoje, é resultado do ódio disseminado pelo PSDB, Globo e mídias cupinchas, pastores/políticos evangélicos organizados que combatem o empoderamento social do pobre, justamente a grande massa que dá sustentação e logicamente os acéfalos que elegem essa turma.
Não esqueçam que as igrejas evangélicas já praticam o trabalho escravo através do recrutamento de pessoas para trabalharem como obreiros dentro dessas igrejas que simplesmente adoram o Deus dinheiro.
Discurso memorável e histórico de Fernando Haddad no Comício da Virada no Rio de Janeiro
https://www.youtube.com/watch?v=Onygsq9Uztw
Discurso memorável e histórico de Fernando Haddad no Comício da Virada no Rio de Janeiro
https://www.youtube.com/watch?v=Onygsq9Uztw
O candidato estúpido fascista é um obtuso, limitado, e como tal, tem pensamentos bem simplórios a respeito de tudo. Quer dizer, é um imbecil e o que pronuncia não passa de besteiras.
https://uploads.disquscdn.com/images/31a69ff0949c854f1c3097424076b07eae745a3617aa68b5ba5042be1160836d.jpg
"Uma das características da boçalidade é a incapacidade de raciocínios mais complexos. Outra, é ser orgulhosa da sua própria ignorância.
Em vídeo recente, Eduardo Bolsonaro, o filho de um deputado do baixo clero, pertencente ao partido de Paulo Maluf por mais de vinte anos, afirmou que o Superior Tribunal Federal poderia ser fechado por um cabo e um soldado, apenas."
FERNANDO HORTA
Se Bolsonaro fosse presidente em 1997, o soldado "Rambo" teria sido condecorado e promovido.
https://www.youtube.com/watch?v=4_bleNT0YHo
quando procurado pelo google o endereço do blog aparece muito embaixo e atrás de referências feitas a ele em outros endereços da web o q não é desejável. Não sou especialista mas parece q existem maneiras de fazê-lo aparecer mais em evidência ou mais em cima
Esse homúnculo que quer ser nosso presidente, quando abre a descarga de sua mente perversa e doentia, só despeja ódios. ofensas, ameaças e impropérios contra seus próprios patrícios; sobretudo contra os mais infelizes e mais carentes. O sujeitinho é um monstro desumano; um espertalhão insano e desatinado, que descobriu a fórmula de viver nababescamente à custa de seus semelhantes, e conduziu seus filhos para o mesmo rendoso caminho da política, que lhes proporciona vida mansa à custa dos infelizes que eles odeiam, desprezam, destratam e querem, a todo custo, prender ou matar.
Sua bolsa de colostomia já recebeu até uma nova designação: HD externo.