Marina: pela benção da mídia, o culto ao blasfemo “Deus-Mercado”

Nesta minha maratona hospitalar – que, felizmente, está terminando, e bem – não tive tempo de comentar a entrevista de Marina Silva ao Roda Viva, da qual assisti trechos, apenas.

Socorro-me, entretanto, do ótimo amigo Altamiro Borges que publicou, ontem, em seu blog, um ótimo artigo sobre a entrevista.

Vou deixar de lado a questão religiosa – por tudo, e em tudo algo, estranho à vida pública num Estado laico – e frisar o acerto de Borges ao destacar a conversão de Marina às ideias velhas, aquelas que sempre governaram este país.

Tornar-se  adorador das leis do mercado, que destroem natureza e seres humanos como nunca e relegam ao cativeiro da pobreza milhões de seres humanos é que, até para um ateu como eu, ofende a qualquer Deus humano.

Converter-se ao culto dos dogmas do neoliberalismo – ótima expressão de Lula na entrevista ao jornal português Expresso – é legitimar as regras que mantêm o Brasil no atraso e seu povo na pobreza.

Podemos até não evitar que estas regras ainda se imponham, até certo ponto, em nome  da estabilidade das instituições democráticas. Mas jamais nos curvarmos a elas e ainda menos louvá-las.

Isso, sim, seria blasfêmia.

Marina Silva bajula a mídia amiga

Altamiro Borges

Marina Silva é só amores com os donos da mídia. Ela é tratada com todo o carinho pelos jornalões, revistonas e emissoras de tevê. Quase todo dia é destaque na velha imprensa. Isto talvez explique a defesa apaixonada que a ex-verde fez da atuação da mídia no país durante o programa Roda Viva, exibido pela TV Cultura nesta segunda-feira (21). “Não acho que deva ter controle porque uma das coisas que ajuda a própria democracia é a liberdade de expressão. Acho que a imprensa dá grande contribuição para várias questões, como na minha área [meio ambiente]”, afirmou a provável vice de Eduardo Campos na campanha presidencial de 2014.
Neste clima de amores, os barões da mídia tendem a reforçar ainda mais o coro para que ela dispute a sucessão pelo PSB – deixando na reserva o governador de Pernambuco. Mas não é só no debate sobre a regulação democrática da mídia – que ela maliciosamente chama de “controle” – que a ex-ministra tem agradado os empresários do setor. A cada dia que passa, Marina Silva explicita a sua completa cedência às teses neoliberais e sua fundamentalista adoração ao “deus-mercado”. No programa Roda Vida, ela voltou a criticar o governo Dilma por ter abrandado o chamado tripé macroeconômico – dos juros elevados, austeridade fiscal e libertinagem cambial.

Mas o conservadorismo da ex-verde não se manifesta apenas na economia. Como ironiza José Carlos Ruy, no sítio Vermelho, no programa da TV Cultura “houve também o lado folclórico, quando ela tratou de homossexualismo, casamento gay, pesquisas com células-tronco, criacionismo… Ela reconheceu que as pessoas devem ter tratamento igual, mas ‘quando se fala em casamento, evoco o sacramento’. Nesta condição, ela não aceita o casamento gay, embora o admita como direito civil. A pérola veio quando falou sobre criacionismo. Não sou criacionista, disse. E declarou acreditar que Deus criou todas as coisas, inclusive a grande contribuição dada por Darwin”.

Para José Carlos Ruy, estudioso da história, “Marina Silva é a recente versão do que há de mais tradicional e conservador na política da classe dominante brasileira. A história tem exemplos desse tipo de ‘novo’; Jânio Quadros, há mais de cinquenta anos, surgiu como uma espécie de alternativa aos partidos e aos políticos; ele bateu de frente com o Congresso Nacional e renunciou melancolicamente sete meses depois de assumir a Presidência da República. Era em tudo parecido com Marina Silva. Na política, rejeitava os partidos e acusava o Congresso Nacional de chantageá-lo (Marina repetiu esse argumento no programa Jô Soares, dia 15, dizendo que Dilma é chantageada pelo Congresso!). Na economia, defendia o mesmo velho e fracassado programa conservador: contenção nos gastos públicos, pagamento de juros, enxugamento da máquina do Estado”.

“No ocaso da ditadura militar, outra versão ‘jovem’, ‘apolítica’ e economicamente conservadora surgiu na figura de Fernando Collor. Durou pouco”, lembra José Carlos Ruy. Isto também ajuda a explicar as juras de amor entre Marina Silva e os barões da mídia. Nos dois casos citados, os tais representantes do “novo” tiveram o apoio da chamada grande imprensa nas suas campanhas presidenciais contra candidatos mais à esquerda. Marina Silva bajula a mídia; e a mídia sabe, sempre, a quem bajular!

Fernando Brito:

View Comments (14)

  • O Pig e seus candidatos, parecem em campanha para eleger o Presidente do Sindicato da Patifaria Nacional. Do Brasil eles nao falam naada.

  • Já dizia o Plínio em 2010, a Marina é uma ecocapitalista.

  • Considero a participação de Marina Silva no Roda Viva bastante fraca. Em praticamente todas as respostas mostrou-se vazia de conteúdo e repleta de lugares-comuns. Mesmo em sua dita área de atuação, o desenvolvimento sustentável, não aprofundou questões nem esclareceu como conciliar esta mesma sustentabilidade com as imposições do tripé macro-econômico por ela defendido. Claramente procurou resguardar o PSDB, de quem dependeria num eventual segundo turno, citando a todo momento as "conquistas" dos governos FHC. Sua postura é visivelmente a de quem já se considera a escolhida pela mídia como a mais forte concorrente da oposição para as próximas eleições. Eduardo Campos passou ao largo de todas as discussões, como sendo uma figura absolutamente secundária, tanto para a candidata, como para os entrevistadores. Está, obviamente, sendo fagocitado por Marina.

  • Essa velha mídia, o PIG, é uma piada mesmo...

    Hoje de manhã acordo para ver a "bombástica" manchete do Bom Dia Brasil, em desesperada tentativa de queimar o governador do Ceará, Cid Gomes (firme apoiador da reeleição de Dilma): "No Ceará, 11 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) não recebem pacientes por falta de equipamentos e pessoal".

    Manipulação grotesca. A razão pela qual essas 11 UPAs não tem "equipamentos e nem pessoal" é simples: ELAS AINDA NÃO FORAM INAUGURADAS!

    As 11 UPAs em questão foram construídas pelo governo Cid Gomes, e já estão com seus prédios prontos, mas o governo do Estado ainda não finalizou a operacionalização dos convênios com as prefeituras do interior para permitir a inauguração das mesmas. Na verdade, 4 das 11 já estão previstas para ser inauguradas até o fim de novembro de 2013, e as restantes até o primeiro semestre do ano que vem.

    O que o Bom Dia Brasil esquece de mencionar em sua reportagem, é que várias outras UPAs construídas pelo governo do estado do Ceará já estão em pleno funcionamento, e com alto grau de aprovação da população, como as 6 em Fortaleza (Messejana, Praia do Futuro, Canindezinho, Autran Nunes, José Walter e Conjunto Ceará) e a UPA de Eusébio, na região metropolitana, todas inauguradas nos últimos 2 anos.

    O Bom Dia Brasil certamente não vai mencionar que o Ceará tem atualmente a maior rede de atendimento de saúde do Nordeste, com dois hospitais públicos de grande porte inaugurados em municípios do interior desde 2011 (fato inédito na história do estado, que até então só tinha hospitais de grande porte na capital), além de várias policlínicas, centros odontológicos e outros equipamentos, todos construídos pelo governo Cid Gomes.

    A rede de saúde de Eduardo Campos em Pernambuco come é poeira, de tão longe que está...

    Mas vale tudo para o PIG na hora de tentar queimar governadores que apóiam a reeleição de Dilma.

    • So que esses titicas, nao tem moral pra queimar ninguem. Muito menos um politico da linhagem dos Gomes.

  • Prezado e estimado Leonardo Boff,

    O senhor e foi e continuará sempre uma das melhores referências humanas do Brasil e até mesmo do mundo. Sua inestimável contribuição às mais nobres causas sempre estarão acima de quaisquer equívocos que o senhor, como ser humano, possa cometer.

    Dito isto, devo dizer-lhe que fiquei profundamente chocado com sua adesão à candidatura da política direitista Marina Silva no primeiro turno das últimas eleições presidenciais. Marina Silva não se converteu apenas recentemente à direita, à velha direita, à nossa extrema-direita histórica, como costumo dizer. Marina Silva se apresentou em 2006 como "a única que pode derrubar a Dilma", literalmente. Desde há muito os malabarismos politiqueiros de Marina Silva a afastam de qualquer ética na política; suas ações se pautam pelo mais mesquinho oportunismo.

    Sou daqueles que viu no ecologismo político, nos VERDES em seu nascedouro, uma grande possibilidade arejar a política à esquerda. No entanto, não foi preciso muito tempo para que os VERDES se tornassem uma força auxiliar do capitalismo mais brutal e violento que se possa conceber.

    Chocou-me, senhor Boff, que o senhor não tenha percebido naquele momento que os mal chamados "VERDES" brasileiros tomavam o mesmo caminho que esta vertente política assumiu em outras latitudes. Na Alemanha, o Partido Verde trouxe de volta o exército alemão às guerras. O massacre de Kunduz, no Afeganistão, tem de ser creditado à política de Joschka Fischer, hoje consultor de grandes empresas capitalistas. Os VERDES alemães são fervorosos defensores da OTAN e de seus bombadeios a populações civis. Na Colômbia, senhor Boff, os VERDES defendem a instalação de bases militares estadunidenses, as ações do exército narcotraficante e outros horrores. No Canadá, senhor Boff, país onde moro, um fundador arrependido do Partido Verde reconheceu que o programa do Partido Conservador, atualmente no poder, liderado por um obscurantista evangélico, é mais avançado do ponto de vista social e ambiental que aquele do tal PV. Os exemplos se espalham mundo afora.

    Considero vital que homens de sua grandeza se interroguem publicamente sobre este fato insofismável: o rosto político dos VERDES na maior parte do mundo tem sido no mínimo MONSTRUOSO.

    Hoje, abertamente, Marina Silva defende as políticas econômicas da extrema-direita histórica causadoras de fome, desemprego e devastação ambiental.

    Reiterando o imenso respeito que tenho pelo senhor, venho publicamente solicitar-lhe que tome posição também publicamente sobre a conversão de Marina Silva ao Deus-Mercado e seu escandaloso tripé econômico.

    sempre seu,

    emerson

  • Contra o casamento gay,
    contra o aborto,
    contra o estado laico,
    contra a liberdade individual,
    contra a liberação da maconha,

    a favor do capital,
    a favor da ditadura verde (implantada em fernando de noronha... só quem é amigo do governador pode pescar e fornecer peixe, pois os fiscáis fazem vista grossa aos amigos do governador... e se tu não é amigo do governador você é despejado. O PT TEM QUE FAZER UMA REPORTAGEM EM FERNANDO DE NORONHA, É UMA ECO-DITADURA)

  • Vejam voces! Marina disse em entrevista que deu a luz ao Eduardo. Nao tem nem dois meses e ja quer roubar o pirulito da crianca. Mainha.

  • Meu, essa dona Marina dar medo, não que ela venha a ganhar, mas pelas suas declarações e isso nos já vimos, Collor confiscou a poupança dos trabalhadores, Fernando Henrique Deu o patrimônio do povo brasileiro e agora Marina vem com o discurso do ajoelhamento e quem sabe também entregar pros STATES o pouco que restou de bens do povo brasileiro. Na verdade, estamos cercados por abutres por quase todos os lados

  • A BLÀ-BLÀ é evangélica conservadora.
    Ou seja: ela vive com a Bíblia embaixo do braço, fala e ensina a sua religião mas, mas, mas, ela acredita é na imprensa golpista, no capital dos banqueiros e na sua INÉPCIA ECOLÓGICA.

    A INÉPCIA ECOLÓGICA DA BLÁ-BLÁ: a marina BLÁ-BLÁ quando teve de enfrentar uma luta verdadeira, ela ficou contra os povos indígenas, ou seja, quando do registro de frutas tropicais da Amazônia feito, com fins comerciais, pela Natura, cujo presidente [Guilherme Leal] foi o seu vice da chapa verde de eleição presidencial, a Blá-Blá ficou do lado dele contra os interesses e os saberes naturais dos povos indígenas, dos povos da Amazônia, ao dizer que a Justiça é que decidiria.

    E agora com a globo na parada a ética da marina é aquela que a globo tanto defende, PARA OS OUTROS!

  • A coisa pode ser assim: Imaginem que ela ganha a eleição. Ela vira presidenta e ele (Dudu) o vicepresidente. Quem vai governar o Brasil? O Dudu, é claro. Porque ela vai ser um pau mandado. E, se atrapalhar a governança do Dudu, seria destituida. Uma arapuca e acabam com ela.