Luis Augusto Erthal é um teimoso. Insiste em ser jornalista, insiste em ser brizolista, insiste em editar livros e insiste em promover a cultura de sua terra, Niterói, onde me encontro exilado já faz tempo. Faz pior, insiste em ser meu amigo há mais de 30 anos, desde a finada Última Hora. E insiste, juntando toda a teimosia, em publicar jornais, um deles o que me envia, sobre os 30 anos do Programa Especial de Educação, que o povo conhece como Cieps, ou Brizolões.
Tem mais coisas, mas começo pelo depoimento pessoal que dá, no qual eu tenho culpa, porque “matriculei-o” por dois anos nos Cieps, em horário integral. Mas como jornalista, capaz de trazer detalhes, propostas, conquistas e dificuldades do mais ambicioso projeto educacional que este país já viveu. Ia dizer já viu, mas não o posso fazer porque não viu, pois essa revolução educacional, que mobilizou milhares de professores e centenas de milhares de crianças, jovens e adultos, numa área construída maior do que Brasília, na sua inauguração, foi criminosamente boicotada pela mídia.
Uma grande e generosa aventura, que jamais sairá de nossos corações, de nossas vidas e de nossos sonhos, que deixo que ele conte, porque o faz melhor que eu.
“Governador, faça umas escolinhas…”
Roberto Marinho tentou fazer Brizola abortar o projeto desde o início
Luiz Augusto Erthal
Não poderia publicar uma matéria sobre os Cieps sem dar um depoimento pessoal, por mais que me doam algumas das lembranças hoje sopesadas na distância desses 30 anos. Tive o privilégio de ver esse programa nascer e acompanhar cada passo da sua implantação. Talvez seja o jornalista que mais colocou os pés dentro dessas escolas, em muitas delas quando ainda se encontravam na fundação.
Estive no Palácio Guanabara, como jornalista e assessor de imprensa, nos dois governos Brizola (1983-1987 e 1991-1995). Cheguei em 1984 para participar de um projeto jornalístico, cujo objetivo era criar um caderno noticioso dentro do Diário Oficial do Estado, o D.O. Notícias, como ficou conhecido, uma estratégia para tentar enfrentar o cerco da mídia contra o governo. Fui designado pelo editor, Fernando Brito, mais tarde assessor-chefe de imprensa do governador, para cobrir as áreas de educação e esportes.
Passávamos os dias como combatentes às vésperas de uma grande batalha naqueles primeiros meses. Brizola conquistara o governo fluminense superando grandes obstáculos, desde atentados à sua vida até a fraude da Proconsult, uma tentativa desesperada de impedir sua chegada ao governo fluminense.
Havia uma enorme expectativa em torno dele desde a posse no Palácio Guanabara, que mais pareceu a queda da Bastilha, com o povo ocupando de forma descontrolada aquele símbolo de poder. Afinal, nos estertores da ditadura, cada naco de poder reconquistado pelo povo era valioso. Vigiado de perto pelos militares, que permaneciam ainda no controle, bombardeado pela mídia conservadora e sufocado economicamente, Brizola tinha pouco espaço de manobra. Até que algo aconteceu.
“Agora esse governo começou!”, lembro bem da exultação do Brito ao voltarmos da apresentação do projeto dos Cieps, com a presença de Brizola, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, no Salão Verde do Palácio Guanabara. Uma revolução havia sido colocada em marcha. Estava claro para todos nós.
Brizola não tinha condições políticas de retomar naquele momento, como nunca mais teve, a reforma agrária e as outras reformas de base preconizadas por ele e por Jango em 64. No entanto, cria como ninguém no poder transformador da educação. Órfão de pai, que morreu emboscado ao retornar da última revolução farroupilha, em 1922, ano do seu nascimento, Brizola e seus irmãos foram alfabetizados pela mãe em Carazinho, interior do Rio Grande do Sul. Calçou os primeiros sapatos e usou a primeira escova de dentes aos 12 anos, na casa de um reverendo metodista, cuja família o adotou. Pode, então, estudar até formar-se em engenheiro. Fora salvo pela educação.
Quando governador do Rio Grande do Sul (1958-1962), construiu nada medos do que 6.300 escolas. “Nenhum município sem escola”, era o lema. Mas a realidade do Rio de Janeiro nos anos 80 era bem diferente. Ao retornarem do exílio, após 15 anos, Brizola e Darcy se depararam com a obra macabra da ditadura: o inchaço das grandes cidades, a favelização, a desestruturação familiar e o surgimento do crime organizado, que separavam, como bem sabemos hoje, nossos jovens de seu futuro. Aquelas escolinhas alfabetizadoras e formadoras de mão-de-obra técnica e rural do Rio Grande do Sul não resolveriam o problema do Rio de Janeiro pós-golpe.
A solução: uma escola integral em turno único, ofertando educação, cultura e cidadania; mantendo os jovens durante todo o dia longe das ruas e da sedução do crime organizado; dando alimentação, assistência médica, esportes e muito mais. Tudo isso, porém, tinha um custo e exigiria a ruptura de um velho paradigma da política brasileira – de que os recursos públicos sejam colocados à disposição das nossas elites e não do povo. A inobservância desse princípio levou o presidente Getúlio Vargas ao desespero e suicídio; o presidente João Goulart à morte no exílio e a presidente Dilma, agora, a um completo isolamento político, culpados, todos eles, por fazerem transferência direta dos recursos públicos para o povo e não para as elites.
Logo após o lançamento do programa dos Cieps, Brizola ainda tentou estoicamente obter o apoio do então presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho. Sabia o quanto ele seria capaz de influenciar, para o bem ou para o mal. Apresentou-lhe pessoalmente o projeto e nos relatou depois:
“Ele olhou, olhou, olhou e não disse uma palavra. Em uma segunda oportunidade em que nos encontramos, eu cobrei: ‘Então, doutor Roberto, o que achou do nosso projeto’. Então ele disse: ‘Olha, governador, se o senhor quer construir escolas, está muito bem. Mas não precisa disso tudo. Faça umas escolinhas… Pode até fazê-las bonitinhas, tipo uns chalezinhos…’.” Depois disso não houve mais diálogo entre eles.
Os Cieps começaram a brotar do chão com a arquitetura inconfundível de Oscar Niemeyer. Eu fazia sobrevoos de helicóptero para fotografar as obras e, vistas do alto, indisfarçáveis, pareciam pragas que irrompiam da terra árida dos subúrbios e das cidades da Baixada Fluminense. Era a praga rogada pelo povo esquecido que, enfim, tomava sua forma visível e ameaçadora, pois apontava para uma nova ordem.
“As gerações formadas pelos Cieps farão por este País aquilo que nós não pudemos ou não tivemos a coragem de fazer”, afirmava Brizola. Esta, e só esta, é a razão do ódio e do horror que essas escolas incutem até hoje em nossas elites.
Eles ainda estão aí. Descaracterizados, desconstruídos, desativados, degradados. Mas cada um desses 508 Cieps ainda traz consigo a semente da grande revolução sonhada por Brizola e Darcy. São quinhentas “toras guarda-fogo” feitas de concreto armado, uma imagem dos pampas gaúchos com que Brizola gostava de ilustrar o futuro do nosso povo:
“Às vezes a fogueira do gaúcho parece ter-se apagado à noite, mas existe sempre a tora guarda-fogo, que esconde aquela centelha interior. Pela manhã, basta assoprá-la para a chama ressurgir.”
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Viva, Brizola! Viva, Darcy! Viva, Niemeyer! Será que poderemos, no futuro, dar um viva a Dilma?
VivaaaA!
Enquanto isso a boçal elite política do tucanistão intensifica o uso de bombas de efeito moral, spray de pimenta e borrachadas na comunidade escolar. Querem fazer oposição à política de estado da pátria educadora com a pátria constrangedora, humilhadora e opressora.
Nos 13 anos de PT, a educação no Brasil deu salto em qualidade. É só contar o número de analfas de segundo grau que veremos que esse salto foi pro fundo do poço.
Este é um país tomado pelas corporações. No congresso elas se apresentam como bancadas: da bala, evangélica, do boi e outras. Corporações, como a dos médicos (planos de saúde, clínicas e hospitais, indústria farmacêutica, laboratórios de análises clínicas e por imagem, indústria de equipamentos hospitalares...), dos donos de escolas, do setor energético (eletricidade e petróleo) sempre tiveram muitos prejuízos com os governos petistas que eles chamam de populistas. Por isso elas se unem trocando votos no congresso para aprovarem seus projetos e se mobilizando com a imprensa, os partidos de oposição e o judiciário para derrubar o governo. Corporações e bancadas legislam por seus interesses mesquinhos e particulares. Não servem ao país, servem a eles próprios. Partidos políticos já não existem mais, pois as corporações se fazem representar por políticos pertencentes a todos os partidos. Partidos teriam visão ideológica e de país. É por isso que o Brasil está regredindo a olhos vistos.
Com ao apoio de Roberto Marino e sua desorganização Wellington Franco derrotou Darcy e sepultou os Cieps. Embora num projeto muito menos ambicioso, Marta lançou os Ceus em São Paulo. A oposição conservadora se lançou contra - no mesmo espírito de porco do "Dr" Marinho - dizendo que "se estava a criar uma elite estudantil" e ou se dava o mesmo padrão de ensino pra toda a rede pública ou que nada se desse.
São Paulo não é apenas o túmulo do samba...
Sampa é túmulo da educação,saúde,segurança....e o alckmin ainda quer um candidato que não seja Lula,assim não dá!
Como todo tucano o Allison tem um único objetivo em sua miserável vida: transformar qualquer iniciativa boa do governo federal em M. Da água contaminada que o governo tucano oferece de presente à população de São Paulo e das escolas que o Alkimin quer fechar para economizar, nem uma crítica. Má fé, ignorância e frustração por não ter a vida que gostaria de ter é o combustível para hipócritas.
Prezado Fernando Brito
Ligue os pontos. A Rede Globo contra os CIEPs, porque estes iriam retirar as crianças do mundo do crime, iria dar a elas a oportunidade de crescer sem virar ''avião'' de traficante.
Perseguição feita pela mesma Rede Globo ao Ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel pelo prosaico fato de ter sido apreendido um grande carregamento de cocaína que ia para Nova Iorque.
Interessante não? O combate feroz que a Globo deu aos CIEPs, deve ter sido porque algum interesse dela ou dos seus amigos seria ferido pelas escolas de tempo integral.
É sempre doloroso ler sobre as injustiças e a falta de reconhecimento do velho Brizola. Eu estudei o meu primário numa Escolinha do Brizola. Todos sonhamos nós sonhamos muito com os Cieps e é triste ver o estado em que se encontram.
Essa elitezinha vagabunda que hoje enche a boca para dizer "tem que investir em educação" é a mesma que criticou os Cieps. Bando de fdp.
Fernando Brito, mais uma vez, parabens e obrigado. É possível conseguir exemplar do jornal citado, sobre o Programa Especial de Educação ?
Quando será possivel ficar claro e publico os crimes que a rede globo já cometeu contra este país. Ela sempre apoiou tudo que fosse contra o povo. Até hoje engana muitos bobos e ainda tenta hipocritamente falar em moral, sendo tão imoral. Sua obediencia as ordens " de fora" sempre foram evidentes.
Promotora de crises falsas contra quem não lhe serve. Nosso consolo é que agora está morrendo.