O velho Leonel Brizola, entre as centenas de frases memoráveis que criou, usava muito a que dizia que “a política ama a traição, mas abomina o traidor”.
Não que eu ache que dissentir de um partido político e deixá-lo seja um ato de traição. Ao contrário, corresponde à liberdade de consciência do indivíduo e não há ideologia que possa se sobrepor a isso.
Em geral, permanecer onde não se quer estar leva a um comportamento de ódio e rancores como este que exibe a senadora Marta Suplicy.
Afastar-se do PT é seu direito. Atacar os companheiros de uma vida inteira de quem, agora, “descobriu” divergir, é outra.
Se é, como se especula, a ideia de voltar a candidatar-se à Prefeitura de São Paulo o que a move, pior ainda.
Marta, infelizmente, já deveria saber que foi, como candidata, desprezada pela direita e agora caminha para sê-lo pela esquerda.
Deveria lembrar-se da derrota para Serra, em 2004.
Com uma boa gestão na Prefeitura, nem assim conseguiu, marcada pela “chaga” do petismo, alcançar boa votação entre a classe média alta e a elite paulistana, malgrado suas origens aristocráticas.
Lula não a hostilizou nas prévias petistas em 2006, onde ela foi derrotada por Aloízio Mercadante. Ao contrário, abrigou-a como Ministra do Turismo onde, afinal, sua gestão pouco produziu, senão a infeliz e notória frase do “relaxa e goza”.
Também não usou seu poder, no auge da popularidade, para impor outro candidato ao PT para o Senado, em 2010, numa eleição onde seu poder de influenciar estava ao máximo.
E, convenhamos, perder em simpatia e companheirismo partidário para Aloizio Mercadante, é algo que exige muito trabalho.
Agora, com suas atitudes, percebe-se publicamente o comportamento da senadora, o qual já deveria ser conhecido daqueles que mais proximamente convivem com ela.
Paradoxal que pareça, falta nobreza a Marta.
Muitas de suas opiniões podem até ser corretas, mas é inexplicável que utilize os métodos mais abjetos para exercer sua “vingança”.
Escrever uma carta de demissão com arestas quando todos os ministros já estavam (ou deveriam estar) demissionários pela mudança de Governo e, agora, acusar Juca Ferreira, seu sucessor, por irregularidades que teve anos e anos para apontar e não fez, são atitudes que qualquer pessoa de boa-fé não pode acolher como gestos dignos, mas resultado de um caráter fraco e flácido.
Se o problema foi o de Lula não a ter ungido como candidata, pelo que que ela mostra ressentimento, vê-se que andou bem o ex-presidente em preteri-la, talvez pelas falhas morais que agora exibe.
O PT, realmente, precisa de muitas mudanças e uma delas certamente é deixar de viver este mundo de intrigas e favoritismos a que Marta Suplicy se entrega, onde princípios, coerência e seriedade começam a escassear.
Sim, de fato a frase que os jornais pinçaram de sua entrevista – “ou o PT muda ou se acaba” – pode ter sentido, para representar a necessidade do petismo de retomar suas origens populares.
Mas também vale, com uma pequena alteração, para a própria Marta.
Se ela muda para voltar às origens que tem na elite e deixa de lado o partido onde se tornou uma personagem nacional e exerce ou deveria exercer sua autoproclamada capacidade política,, é quase certo que ela se acaba, depois do brilhareco que a mídia lhe proporcionará.
Porque é sábia a frase do velho Briza.
A política ama a traição e, logo a seguir, abomina o traidor.
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Infelizmente votei para essa TRAÍRA
Fernando, parabéns mais uma vez.
Texto simples, direto, forte, mas elegante. Como é seu estilo.
Se for candidata, perderá. Mesmo que se file ao PSDB e tenha, com isso o total apoio do PIG.
Paulistano não gosta dela. Porque é arrogante, antipática e sem carisma. Foi boa prefeita, mas é tão insuportável, que mesmo muito bem avaliada não conseguiu se reeleger.
Daniel, se Marta for uma alternativa em qualquer partido contra o Haddad, o paulistano vota nela e ela ganha. Não importa se o Haddad é ótimo prefeito, o que é realmente, importa que ele é o PT e o paulistano é um ser irracional, movido a ódio contra o PT e tudo aquilo que ele representa.
Talvez a Marta seja muito esperta (sim, os canalhas podem ser espertos) e esteja percebendo que a infecção moral que abate hoje os paulistas e particularmente os paulistanos, a conduziriam à prefeitura. E ela joga com isso, com a cabeça deturpada do paulistano.
Não acho que seja assim, tão simples e direto.
Haddad foi eleito com o PT e com Lula. Contra Serra, por exemplo.
O Haddad é aceito pela classe média alta e alta paulistana. Tem um viés intelectual e moderno, que agrada muito esse público.
A Marta já está marcada e negativamente pelas taxas e pelo "relaxa e goza".
Nesse páreo, acho que o Haddad leva.
Também acho, Felipe.
O Zé Ricardo acerta ao considerar a cabeça deturpada do paulistano, mas é o mesmo fato que impede qualquer exercício de futurologia específica. Vai saber como estas cabeças deturpadas reagiriam!
Se for assim, deixa a cobra voltar pro ninho!
até que enfim uma boa notícia para o PT de SP!
marta vai deixar o partido.
mas devolva o mandato de senadora antes disso, marta.
milhões votaram em voce por causa da legenda.
Eduardo Guimarães escreve lucidamente em seu blog "cidadania". Em 2008, percebi do que a ex-prefeita seria capaz de fazer em prol de seu ego descomunal e de suas ambições políticas. Pelo visto, eu tinha razão. Procurar uma víbora como Cantanhêde e o jornal que tanto a massacrou durante seu governo para atacar seus companheiros de forma tão malévola, é indesculpável. Para mim, Marta se acabou.
o objetivo principal é não deixar haddad se reeleger, se ela vai ganhar ou não pouco importa, será apenas usada( de bom grado) pra volta de um candidato da diretia, como foram heloisa helena, cristovam buarque, marina
e com isso parece que o mestre Lula sabe mesmo escolher...
Coitada da Marta, perdeu completamente o rumo. Parece estar querendo embarcar no anti-petismo para se viabilizar junto ao PIG à Prefeitura de São Paulo.
Sabendo que o PT não a reelege senadora, sai agora para não ter o mesmo fim que o outro Suplicy. A verdade é que o partido está fraco em São Paulo. Daí abandona-lo.
Calculista fria.
Há pouco mais de dois anos, Haddad derrotou o Serra. Política não é matemática.
Daqui a dois anos, será que a Cantareira estará cheia de água?
P. "Cantareira estará cheia de água?"
R. Não.
Não estará e até o final do ano São Paulo estará em colápso total. O que acontecerá se São Paulo não tiver água??
O PIG encontrou a sua Geni (a do Chico) para tentar derrotar o Haddad. Dona Marta, acho que a senhora não é muito inteligente, com todo respeito.