“MDB” de esquerda é retrocesso e farsa

O MDB não era uma frente, era apenas uma fachada e que ninguém diga que deliberada, pois foi o espaço de oposição que a ditadura permitiu e do qual serviu-se para destruir os partidos políticos do pré-64.

Nunca foi um partido e a maior prova é que jamais teve coesão interna, nem mesmo quando apresentou a “anticandidatura” de Ulysses Guimarães e Euler Bentes Monteiro às eleições indiretas fajutas com as quais a ditadura maquiava o autoritarismo.

Havia de tudo por ali, de Chagas Freitas emedebista fajuto, cujo papel era bloquear o surgimento de uma representação de esquerda no Rio de Janeiro até os “autênticos” que pagaram com os mandatos a ousadia de enfrentar o regime.

Ninguém “era” do MDB, “estava” no MDB.

Imaginar que, sem que haja nenhuma outra ditadura formalmente implantada no país, que se possa pensar, como se especula hoje em O Globo sobre o simpático governador Flávio Dino, que a forma correta de enfrentar Jair Bolsonaro seja a formação de um “MDB de esquerda” é um retrocesso que não só resultará em fiasco quanto será um desserviço ao povo brasileiro.

Afinal, o que se pretenderia ali, pelo leque de interlocutores proposto – de Luciano Huck a Marcelo Freixo – seria mesmo a tal “geléia geral” que aqui já se analisou e que, é evidente, só funciona para “zerar” a responsabilidade de setores conservadores ou pretendentes à condição de centro-esquerda tiveram na eleição do atual presidente.

Pior, é uma articulação que só existe porque aceita e se beneficia – embora nem sempre o diga – da grande anomalia da vida política brasileira: a exclusão do mais popular presidente da história recente do país, Lula.

Pois é evidente que nenhuma destas articulações sobreviveria que Lula não estivesse na “quarentena” política que lhe impôs o vírus da Lava Jato, num processo condenatório escandaloso que nenhuma pessoa de princípios pode tratar como um dado imutável da realidade.

Aliás, o MDB da ditadura só chegou ao sucesso eleitoral que alcançou porque, da mesma forma, se beneficiava da exclusão dos exilados e da eliminação de partidos fortes, como o PTB e o PSB, bem como, desde antes, dos partidos comunistas.

A anistia e a – embora limitada – liberdade de organização partidária vieram antes das eleições de 1982, que só assim se puderam considerar relativamente livres.

Este anacrônico “MDB de esquerda” não é um caminho politicamente aceitável, não é ético e não exige entendimento, mas cobra capitulação. Não é, por isso, viável.

A não ser para quem quer circular nos salões da política com seu discurso “politicamente correto” e não empoeirar as sandálias com a realidade do povão.

Fernando Brito:

View Comments (27)

  • Quanto pessimismo, nada é bom, nada vai dar certo, nenhum caminho resolve. Então deixa o FBI indicar um interventor.

    • Bonetti, meu caro, voce não entendeu nada.
      O que o Dino está querendo é dar um "chega
      prá lá" no Lula. Não vai conseguir. Onde já se viu
      um MDB de esquerda?

    • O problema é justamente essa sua mentalidade dicotômica; que não reflete a natureza humana nem se coaduna com a política.

  • Infelizmente o "simpático Dino" parece que se aliaria até mesmo a Bolsonaro para derrotar o próprio, se isso fosse possível. Não acho que se deva lutar pelo poder a qualquer preço e aparentemente é isso que ele faz.

  • Aos cinquentões, já vimos de tudo, de ditadura à suposta democracia, passando por Cartelcratura, Agora é deixar o povo decidir, se errar f..., se acertar blz.

  • E quem foi que falou para o Dino que o PSB é diferente do PSL, PDT, PTB e etc.?

  • MDB é "delenda" Brasil...um bando de gangsteres em busca de uma "teta" para ordenhar...

  • Conhecemos pessoas maravilhosas no PSOL, mas como partido ele tem pecados inadmissíveis. A nosso ver, ele acredita em boa parte do que a mídia conservadora propaga, e nessa boa parte vai um bocado de mentira que ele engole sem pensar duas vezes. Mesmo assim, acredito que sem união não será possível vencer a eleição para a prefeitura de São Paulo. E a esquerda tem de vencer esta eleição, sua importância é transcendental, é uma encruzilhada política que tem de ser dominada. A hora é de unir todo mundo que pensa em torno da candidatura mais viável. Não é hora para ficar a olhar para o próprio umbigo.

  • Se houver uma aliança (e não uma conciliação) das esquerdas, infelizmente temos que incluir fora dessa do PDT do Ciro enganador à direita.Compor com Luciano Huck e FHC não é aliança, é quadrilha. Eu gostaria que o Dino e a Manuela me dissessem exatamente o que, como comunistas, defendem. A conciliação de classes nos trouxe até aqui. O Lula que nos diga. Como diz a Sabrina, conciliação de classes e compactuar com a exploração do Capital sobre o trabalhador.

  • Se houver uma aliança (e não uma conciliação) das esquerdas, infelizmente temos que incluir fora dessa do PDT do Ciro enganador à direita.Compor com Luciano Huck e FHC não é aliança, é quadrilha. Eu gostaria que o Dino e a Manuela me dissessem exatamente o que, como comunistas, defendem. A conciliação de classes nos trouxe até aqui. O Lula que nos diga. Como diz a Sabrina, conciliação de classes e compactuar com a exploração do Capital sobre o trabalhador.

  • Tem que ser é o PT e ponto, quem não quiser que se afaste, simples assim..., a oposição tem que brigar por um único nome: LULA.

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