Médicos cubanos são livres nos EUA, mas não para serem médicos

Sobre a fuga de médicos cubanos para os EUA, nada melhor que ler a insuspeita matéria de hoje da Folha de S. Paulo – insuspeita, portanto – escrita pela correspondente Isabel Fleck, de Nova York.

Note que a reportagem não ouve “o outro lado”: apenas os médicos que “desertaram” e aqueles que agenciam a fuga de médicos cubanos.

Quanto à  questão do pagamento que é, de fato, muito baixo para as disponibilidades dos médicos no Brasil, é importante saber que eles v~em para fazer um baita pé-de-meia, para os padrões cubanos.

Eles recebem, mensalmente, em Cuba, 600 dólares, o que equivale a 54 vezes o salário mínimo local, que é de 11 dólares.

Salário de fome?

Um aluguel residencial custa até dois dólares; a conta de luz custa R 0,35… Você pode ter outras referências sobre o custo de vida no artigo do Frei Gilvander Moreira, no Blog da Vera.

Mesmo que você considere o salário-mínimo baixo como é aqui, os 600  dólares que recebem lá seriam, 54 vezes são, no Brasil,  algo como 39 mil reais mensais.

Considere que os artigos mais caros não têm os subsídios estatais e isso representa, talvez, 50% deste valor em poder de compra.

É por isso que as “deserções” de Cuba não chegam a 2% dos profissionais médicos.

Agora veja, na insuspeita narrativa da Folha, o que os espera nos EUA:

Cubanos acolhidos pelos EUA não conseguem atuar como médicos

Desde 2006, os Estados Unidos acolhem médicos cubanos que querem desertar de missões negociadas por Havana pelo mundo, como o Mais Médicos, no Brasil. Porém, conseguir exercer a profissão no país não é fácil e boa parte dos trabalhadores acaba se frustrando.

Por meio do programa CMPP (Cuban Medical Professional Parole) -para o qual se inscreveu a médica Ramona Rodriguez, que deixou o Mais Médicos na semana passada por discordar de valores pagos no programa e já pediu visto americano-, eles recebem nos EUA os mesmos direitos de refugiados políticos, num processo de obtenção de visto que dura, geralmente, entre um e três meses.

Porém, apesar de os EUA oferecerem cenário bem mais favorável que o regime de trabalho em Cuba, os mais de 4.000 cubanos que já chegaram ao território americano pelo programa compartilham o drama de não conseguir atuar como médicos.

Diante da burocracia e do alto preço pago pelo processo de revalidação do diploma, quase todos os médicos cubanos que chegam aos EUA vão trabalhar como assistentes de médico (posto equivalente a um auxiliar de enfermagem no Brasil) ou acabam mudando de ocupação.

Segundo a ONG Solidariedade sem Fronteiras, de Miami, que ajuda cubanos a ingressarem nos EUA, quatro médicos que estão no Brasil o consultaram para saber sobre a obtenção do visto.

“Para um cubano, é a oportunidade única de sair de vez da ilha”, disse o presidente da ONG, Julio Cesar Alfonso.

Nos EUA há oito meses, Ranoy Gonzalves, 31, desaconselhou uma amiga que ligou do Brasil para saber mais sobre o CMPP. “A situação em que eles vivem no Brasil é melhor do que a que passei na Venezuela, e aqui ela não poderá trabalhar como médica”.

Gonzalves passou menos de um ano na Venezuela, morando num apartamento de três quartos e banheiro com outros 13 profissionais cubanos e recebendo 1.500 bolívares (cerca de R$ 585) por mês.

Com pós em radiologia, ele atua como assistente de médico numa clínica em Miami. “Me sinto frustrado, porque dediquei 12 anos da minha vida a estudar medicina, e hoje não posso atender.”

O médico Rodolfo Soares, 44, chegou aos EUA como refugiado político. Trabalha há cinco anos como assistente de cirurgia em Miami e ganha R$ 5.200 por mês, mas quer atuar em outro país. “Sei que os cubanos estão ganhando pouco lá [no Brasil], mas meu objetivo é participar do Mais Médicos como estrangeiro”, disse, sugerindo que pode entrar com processo de cidadania americana antes de se inscrever no programa. A bolsa dada a estrangeiros pelo Mais Médicos é de R$ 10 mil mensais. Por meio do convênio entre Brasil e Cuba, porém, médicos recebem 10% disso.

Auxiliar há um ano, Adrian Souza, 38, diz que vai “se sacrificar” para atuar como médico. “Queria que os meus filhos não passassem pelo que eu passei em Cuba”.

Fernando Brito:

View Comments (12)

  • Conserta aí esse artigo! Tá confuso o começo. Com erros de digitação. Por favor!

  • hOJE RECEBI DA direita MAIS UM E-MAIL SOBRE CUBA.
    As vezes acho que alguem não mostra as coisas todas.
    Mas uma coisa é verdade, enquanto a DIREITA cheira rapé
    e masca fumo, alguem fuma charuto CUBANO.
    São bem bobinhos os caras que ajudaram a fazer um porto
    inteiro em CUBA..
    São muito bobinhos os CUBANOS...

  • Esse negócio que o governo brasileiro paga 90% do salários dos médicos para o governo cubano é vero? Alguém checou com o ministério da Saúde? E como ficaria os médicos do programa que vieram da Bolívia, Portugal, Rússia... Os 'noventinha' também vão pro Raul?

  • Não me espanta em nada a deserção de médicos cubanos,que nada tem a ver com o Programa Mais Médicos ou com o valor que recebem.Uma boa parte desses médicos são oriundos de famílias que à época de Fugêncio Batista eram de classe média e apoiavam o velho regime.Com a chegada da revolução, seus parentes ricos foram para Miami e lá se instalaram com a fortuna que levaram de Cuba e fizeram assim "a América".Os que ficaram em Cuba nasceram e cresceram com o sonho de se dar bem como os primos ricos, claro que com muitos incentivos dos simpatizantes do Fugêncio Batista e dos Estados Unidos, a ponto de criarem uma central de incentivo à deserção.O que não contaram aos sonhadores/desertores é a dura realidade que terão que enfrentar.Impedidos de exercerem a medicina nos States serão meros trabalhadores de atividades não especializados.Viverão na América como cidadãos de segunda classe e o "eldorado americano" será apenas uma miragem. Muitos outros médicos cubanos ainda vão desertar do Programa Mais Médicos para Miami, mas os que permanecerão serão os melhores, aqueles que fato fazem a medicina por vocação e não por dinheiro.

    • Marta, concordo integralmente com vc..semana passada conversei com um Professor Universitário na Bahia, ele é cubano e me dizia que os médicos que estão vindo são na sua maioria voltados para atenção básica da saúde e se sentem realizados em cuidar do povo, além do que sabem que estão retribuindo ao povo cubano os investimentos feitos na sua formação..as deserções serão mínimas..

  • Atento aos comentários acima supracitados, permito-me esclarecer que o direito de ir e vir; de não ter os seus ganhos vinculados ao governo de seu país; de exercer a profissão que quiser, mesmo sendo médico; e de viver num país democrático é o direito de todo ser humano. Os que acusam os cubanos de traidores, recomendo-os, que traiam, também o Brasil, e peçam asilo à Cuba. Lá terão que viver com racionamento de alimentos, e não terá a fartura de um simples restaurante popular do Brasil. Que o PT não queira transformar os restaurantes populares em sua bandeira, como fez com outros programas, entre esses, o Bolsa Escola do Governo FHC.Para ilustrar o meu comentário segue informação dos primeiros restaurantes populares do Brasil:"Na segunda metade da década de 30, o Governo Vargas, como parte de sua política trabalhista, tomou duas medidas que deveriam ter influência na alimentação da classe trabalhadora: o salário mínimo (1), que deveria "satisfazer às necessidades normais do trabalhador e sua família"; e o Serviço de Alimentação da Previdência Social (Saps), criado em 1940, com os encargos de promover a instalação de refeitórios em empresas maiores, fornecer refeições nas menores, vender alimentos a preço de custo a trabalhadores com família numerosa, proporcionar educação alimentar, formar pessoal técnico especializado e apoiar pesquisas sobre alimentos e situação alimentar da população

  • Assisti noticia na TV Brasil, dia 10/02/2014, que a União Européia vai se reaproximar de Cuba, tem interesse em estreitar negócios com a Ilha. Quem vai criticá-los, por fazer negócio com um país comunista?

  • Vamos fazer uma análise breve: Um cubano recebe 20 dólares, para pagar em certos produtos e serviços, por exemplo, aluguel de um imóvel, que em Cuba custa 1 dólar, agora imaginem uma casa com 4 cômodos no Brasil, custaria em média uns 500 dólares, ou seja um cubano ganha em média mais que um brasileiro.

    • Sabe Rafael, essa dedução sua é a que as pessoas não fazem, mesmo quando comparam o salário mínimo de outros países. Por exemplo no Chile se fala em milhão, o salario $180.000, só que um aluguel miserável custa R$200.000. Vi uma palestra de um aluno proveniente de Camarões, ele disse que se fala sempre da pobreza de Africa como se ela fosse um país e único. Ele mostro fotos e disse: quem é que considera pobre Camarões?...quem ve Camarões com o perfil dos E. Unidos, através do dólar, porque em Camarões não ha dólares, mas a maioria das casas tem árvores frutais, tem galinhas, tem plantações, portanto o café d'manhã de um residente de lá é muito mais nutritivo e valioso que de um de cá, até ele colocou preços em dólares para ver quanto teriam que pagar pela farta refeição, deu R$ 16, ele perguntou que paga isso pela 1ª refeição do dia no Brasil...ele falou, ignorantes Camarões?, lá o povo fala três línguas no mínimo(todos) Inglês, Francês e mais uma língua nativa comum a todos e mais u dialeto de cada etnia.Depois de ver as fotos, cidades com lindos prédios e muitos parques, fiquei de boca aberta e reconheço que muito do que eu sabia da Africa não passava de um preconceito estabelecido...estabelecido por quem? - por quem tem o poder e precisa condicionar os outros por baixo pra poder explorar e ganhar mais ele próprio. Não concordo com a falta de democracia em Cuba, mas não estão podendo fazer de outro jeito...talvez seja a única forma de manter o ganho...primeiro em saúde na America Latina, menor índice de alfabetismo, ninguém, ninguém morre de fome na Cuba, quem quiser estudar pode não depende de dinheiro da família e uma das coisas mais importantes a criminalidade é quase zero" NÃO há CRACK"...já pensou um lugar onde vc ou seus queridos não é assaltado, ou violentado. Depois de tudo imagino se toda uma nação, e forte como os cubanos decidissem se livrar da ditadura...será que não iriam conseguir?.

  • BEM-VINDO MÉDICOS CUBANOS, OBRIGADO POR VIREM AJUDAR.

    O Brasil esta mudando, com Lula e Dilma Presidentes.
    Cada cidadão Trabalhando, somos corações valentes.
    Matamos a fome de 500 anos, e investindo em Estudar.
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.

    Melhorando a Educação, a Saúde e a nossa Cidadania.
    De Renda mais distribuição, elevando nossa soberania.
    Somos Latinos Americanos, povos irmãos a somar.
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.

    Cubano é nosso irmão, Anjo da Guarda verdadeiro.
    Lhe pedimos perdão, algum comportamento rasteiro.
    Com Amor lhes admiramos, da Liberdade representar.
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.

    Queremos é confraternização, somos é de irmandade.
    Pela partilhar do Pão, cultivadores da Fraternidade.
    Também somos Africanos, o que muito nos faz orgulhar.
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.

    Cuba Ilha tão pequena, do Povo Humanista Gigante.
    Maravilhosa e serena, tão Mestra Mãe Maria atuante.
    São Valorosos Humanos, ajudam o Mundo a avançar.
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.
    .
    Cuba nossa irmã valorosa, é de encantos sua História.
    Tem a alma mais formosa, pela sua digna trajetória.
    Superam humanos desenganos, que fracos fazem criar,
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.
    .
    Povo que lembra o Nazareno, que fácil partilha o pão.
    Não deixa o irmão no sereno, a qualquer um da a mão.
    Cuba Vencedora dos Maganos, exemplo pra nos mirar.
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.
    .
    Conquistou a Liberdade, ensina o mundo ir em frente.
    Es do Trabalho de Verdade, Cuba exemplo do decente.
    Povo amigo em todos planos, Camarada que faz ensinar.
    Bem-vindo Todos Cubanos, obrigado de virem ajudar.
    .
    Azuir Filho e Turmas de Amigos: do Social da Unicamp, Campinas, SP, Amigos de Rocha Miranda, Rio de Janeiro, RJ e Amigos de Mosqueiro, Belém do Pará.

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