“Megaobra” de Alckmin teria funcionado por 45 dias nos últimos 10 anos. O que é isso, senão empulhação?

Perdoem os caros leitores e as caras leitoras se este blog está sendo insistente com a questão do abastecimento de água em São Paulo.

Muito menos, aliás, do que os jornalões com um hipotético “apagão” na energia elétrica, cujos reservatórios estão muito acima, quase o triplo, dos níveis desesperadores que alcançou o Sistema Cantareira.

Não pensem que é fácil descobrir os indicadores mais precisos, entender a mecânica dos sistemas hidráulicos, conhecer os estudos sobre o tema, obter fontes em outra cidade e fazer, durante dias, o papel que a grande imprensa não fez.

Embora tudo estivesse diante dos seus olhos.

Mas, felizmente, ainda de modo tímido, está começando a fazer.

Muito embora, ainda, sem a clareza necessária e sem que seus repórteres e editores enfrentem diretamente as questões.

É preciso “colar” pedaços de informação.

Não está em discussão, está claro, se é correto ou não transferir água do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira.

É obvio que não há nenhum problema nisso, feito de forma e em quantidade adequadas.

O que tem que ser discutido é se é essa a solução de mais curto prazo possível e a mais viável política e economicamente.

Está mais do que claro que dois anos não é horizonte suficiente para uma solução num sistema de reservatórios que hoje tem apenas 14%de sua capacidade e cujo coração baixou de 8% as suas reservas (Jaguari-Jacareí, 7,95% hoje), mesmo tendo entrado o quádruplo de água da véspera.

Com todo o bombeamento possível, o Cantareira tem seis meses de água, mesmo sem novas secas monumentais como a de janeiro-fevereiro.

A obra do Paraíba do Sul não é resposta para a crise atual.

E é discutível se seria para outras semelhantes que viessem a ocorrer.

Nem mesmo daqui a dois anos a água do Paraíba são garantia de evitar a repetição do que está havendo.

A Folha mostra o que registramos ontem. A obra, se tivesse sido feita em 2004, teria preenchido a primeira das condições para ser posta em operação: que o Cantareira tivesse menos de 35% de reservação em apenas 15 dos 180 meses passados desde então.

Menos ainda, porque, para isso acontecer, o Paraíba do Sul teria de ter mais de 75% da vazão normal.

E lá no Estadão vê-se que, neste momento, por exemplo, o reservatório no Vale do Paraíba de onde se tiraria a água para o Cantareira está em 38% de sua capacidade, o índice mais baixo em 70 anos.

Como as duas bacias são próximas, com chuvas comuns a ambas, veja o que acontece:

Pelo levantamento, a última vez em que isso aconteceu foi em 2005, quando o Cantareira passou cerca de um mês e meio com menos de 35% de capacidade, enquanto os níveis dos reservatórios da bacia passavam dos 75%.

Não é sério imaginar que um investimento de R$ 500 milhões pudesse ser, num momento destes, um simples “Belo Antônio”, que vai funcionar uma vez por década.

No Governo Serra a Sabesp serviu para fazer publicidade.

No Governo Alckmin está servindo para “vender” à população um futuro conflito Rio x São Paulo que não existe e, com isso, encobrir a gravíssima realidade do presente.

E a do próprio Governador.

Resta saber se o Governo Federal, através de sua agência de águas, vai ser cúmplice desta empulhação.

E se a imprensa não é capaz de reunir as informações que ela própria publica e escrever um título como o que tem este post.

 

Fernando Brito:

View Comments (18)

  • Se morasse em Sao Paulo ja estaria montando esquema de coleta de agua de chuva, ou cavando poco artesiano.. E o Governo pro diabo que o carregue.

    • Caro Maurício, moro em Campinas e fico impressionado com o desconhecimento do povo daqui para esse problema, que pode se tornar gravíssimo.
      Sempre que toco no assunto com pessoas que eventualmente encontro, parece que estou falando de seca lá no nordeste...
      Não sei o que vão fazer quando a torneira secar de vez.

    • Mera indicação para propaganda política: Vote em mim, que eu faço as represas para conter a seca (que eu mesmo dei causa, com minha omissão).

      p.s.: o parêntesis não será proferido no debate.

    • Depois de 20 anos no governo de SP e só agora ele se lembrou de construir represas. É muita cara de pau do Sr. Geraldo Alston.

  • "Jeito tucano" de governar.
    Esperam as coisas entrar em colapso para fazer obras, contratações e compras de emergência, dispensando licitações e estudos mais sérios de projetos.

  • É uma bomba-relógio que ele está fazendo de tudo para estourar só na próxima gestão.

  • Sabe um assunto em que os blogues podem ajudar o governo e muito, diante deste "tiro no pé" da Presidenta, é começar a criar matéria sobre os pré sal e a evolução da petrobrás.

  • Concordo que o caso da falta d'água em SP evidencia a má gestão tucana e que a 'solução' do Alkimin é uma piada de mau gosto. Os dados deste artigo mostram que essa proposta só tem um característica: eleitoreira.
    Mas... a gente sempre reclama que PIG/oposição só bate e não propõe. Pergunto, cadê a bancada do PT na Alesp?? Eu votei na legenda. Não quero saber mais detalhes das causas deste problema e sim qual (is) a(s) propsota(s) para solucioná-lo dos deputados estaduais (e/ou lideranças) do PT?

    • Com certeza isso vai ser tema da campanha eleitoral e os candidatos terão que apresentar soluções para o futuro. E o PIG vai cobrar de Padilha, a partir de 1º de janeiro, a solução para os problemas que não cobraram em 20 anos.

      Mas para resolver o problema imediato, é preciso primeiramente que Alckmin e a imprensa tucana ajam com transparência e honestidade, e informem à população a real gravidade da situação dos reservatórios, para que haja uma grande redução do consumo. E ao mesmo tempo, iniciar urgentemente o racionamento da água. Não há outras soluções no curto prazo, pois obras necessitam tempo, e deveriam ter sido feitas antes. 20 anos no governo do PSDB e nada fizeram, e nem mesmo agora que a situação chegou nesse ponto, não fazem o que tem que ser feito, para não ficarem com uma imagem ruim junto aos eleitores. São completamente irresponsáveis.

  • Seria muito importante conseguir os Planos Diretores de Abastecimento da RMSP que a Sabesp fez. Ali iria se descrever é a mais improvável. Há soluções, já estudadas há muitas décadas, que são mais favoráveis.
    O governador escolheu a dedo o Paraíba porque se encaixou de maneira ideal para seu objetivo: transformar sua irresponsabilidade e aventureirismo político em um problema de disputa de água que pode envolver a Presidenta Dilma (como já vem acontecendo nos jornalões; e pouco importa que isso é um samba do criolo doido; a mídia faz o que quer nesse contexto).

  • (meu comentário anterior saiu errado)
    Seria muito importante conseguir os Planos Diretores de Abastecimento da RMSP que a Sabesp fez. Ali iria se descrever que a opção de captar no Paraíba do Sul é a mais improvável. Há soluções, já estudadas há muitas décadas, que são mais favoráveis. O Sintaema poderia ajudar a desenterrar esses Planos.
    O governador escolheu a dedo o Paraíba porque se encaixou de maneira ideal para seu objetivo: transformar sua irresponsabilidade e aventureirismo político em um problema de disputa de água que pode envolver a Presidenta Dilma (como já vem acontecendo nos jornalões; e pouco importa que isso é um samba do criolo doido; a mídia faz o que quer nesse contexto).

  • Fernando, de onde pode vir a necessária água para São Paulo? Existe alguma coisa que possa ser feita além do racionamento? Existe algum rio ou reserva que possa fornecer a água necessária? É possível fazer uma obra emergencial para evitar o esgotamento completo do atual sistema?

  • São Paulo, o POVO de São Paulo, não merece isto gente..
    O Brasil não merece, que um Governador depois de enganado
    pela assessoria do PSDB, coloque o BRASIL inteiro na Berlinda.
    Tipo eu estou dando uma solução, mas vocês não querem usar...
    Lamentável, tenho até pena do Governador, pois nestas horas ele
    sabe quanto faz falta uma boa equipe..

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