O “Mercado” tem todo o direito de não concordar com a política econômica do Governo Lula, embora não tenha, no período de oito anos em que ele governou, nenhum motivo prévio para isso.
Mas não tem qualquer direito de pretender que Lula escolha os auxiliares que dividirão com ele a orientação destas políticas de acordo com a vontade dos círculos financeiros.
Acabou o governo Bolsonaro e, com ele, a patética figura de “xerife” da economia – que nem “xerife” era, obediente às vontades do chefe – que Paulo Guedes desastrosamente encarnou.
E a diferença essencial é que a economia é uma questão social, enquanto o que move a cabeça da elite rentista brasileira são negócios, por si de natureza privada, individual ou, no máximo, de segmentos da economia.
Não é papel das autoridades econômicas pensar em “negócios”, a não ser naquilo que eles podem contribuir para fazer girar a roda da economia. Elas têm de pensar em desenvolvimento, em todos os campos que este se expressa.
Estamos duas décadas – e várias crises – depois da crença neoliberal de que a “mão invisível” do mercado daria sozinha todas as soluções necessárias ao funcionamento das economias nacionais.
Muito menos é tempo ainda de o simples corte de despesas – fórmula que vem desde 2016 – represente uma alavanca para a recuperação da economia. Se fosse este o caso, nem estaríamos falando da necessidade de uma retomada.
É preciso que a política econômica do novo governo, em lugar de seguir tocando este “samba de uma nota só” passe a ser um indutor do crescimento econômico, buscando fórmulas de atração de recursos, retomando investimentos paralisados, restabelecendo o potencial do crédito para o consumo, enforcado por níveis recordes de endividamento e que entenda que gastos sociais selecionados, além de bem estar, são uma injeção direta de dinheiro na economia, que regressam em forma de impostos.
O pobre sempre vai ao mercado, mas o “Mercado” nem olha para ele.