Mídia vai enterrar Suiçalão como fez com escândalo do Banestado?

 

Houve um tempo em que alguns dos cérebros do petismo hoje, como o ministro da Casa Civil, Aloisio Mercadante, não tinham medo de participar do debate político, defendendo pontos estratégicos para o desenvolvimento nacional.

E batiam de frente com a oposição.

Houve um tempo que Mercadante atuava na linha de frente na batalha da comunicação, numa postura que ajudou o PT a conquistar o apoio de amplos setores da classe média.

Confiram o artigo abaixo, de Mercadante, denunciando o escândalo que permeou todo o processo de sucateamento dos bancos públicos nacionais, e a sua posterior privatização, eivada de irregularidades.

Nem MP nem Justiça nunca pegaram ninguém de peso.

Quer dizer, a justiça pegou sim.

Sergio Moro, juiz do caso Banestado, condenou Alberto Youssef.

Mas logo em seguida o soltou, concedendo-lhe o benefício da delação premiada.

Youssef dedurou bagrinhos, protegeu os tubarões e foi solto.

O juiz Moro não insistiu muito.

O Ministério Público esqueceu a investigação em alguma gaveta…

A mídia, como sempre faz quando escândalos envolvem seus aliados tucanos, abafou.

Estimulado pela indiferença da mídia, do MP e do Judiciário, Youssef voltou a roubar.

Até que foi novamente pego, pela Polícia Federal.

Youssef, assustado com a segunda prisão, explicou que as propinas do Banestado eram usadas para abastecer campanhas demotucanas no Paraná.

A mídia tratou, naturalmente, de enterrar o caso. O juiz Sergio Moro também não pareceu impressionado.

Onde já se viu dedurar tucano?

Então Sergio Moro lhe concedeu novamente – seria a segunda ou terceira vez? – o benefício da delação premiada…

Aí Youssef, que não é bobo, e com auxílio de seu advogado, um tucano de quatro costados que ocupou, anos a fio, uma sinecura numa estatal paranaense, entendeu o jogo.

O negócio é botar a culpa no PT.  Não precisa nem apresentar provas.

Aí sim, a mídia entrou de sola, trazendo o MP a reboque.

Voltemos, porém, ao Mercadante de outrora.

Houve um tempo em que o PT tinha dentes. E mordia.

Não deixaria a mídia fazer um jogo de cartas marcadas tão óbvio.

*

Bye, bye, Banespa

ALOIZIO MERCADANTE, EM FEV/2000, NA FOLHA

O Banespa é um banco estratégico pela capilaridade de sua implantação, em especial em São Paulo, com mais de 500 agências e 750 postos de atendimento, um patrimônio superior a R$ 25 bilhões e um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão em 1999.

Com 90 anos de idade, o Banespa sobreviveu à crise de 1929, ao colapso da economia cafeeira, à Revolução de 1932, às duas grandes guerras, à ditadura militar e foi decisivo na alavancagem da economia paulista ao longo de todo o século. Quase não aguentou os governos Quércia e Fleury e agora é ameaçado pela passividade de Covas e pelo desmonte nacional promovido por FHC.

Recorde-se que a crise dos bancos estatais não decorre apenas de desmandos administrativos e muita corrupção, mas do desequilíbrio econômico promovido pela política econômica irresponsável adotada ao longo das últimas duas décadas.

Sua origem vem da crise da dívida externa e das finanças públicas dos anos 80, que foi seguida por um processo de desorganização, fragilização e desnacionalização da economia brasileira, intensificado a partir do governo FHC.

No setor financeiro os números são eloquentes. Por meio de autorizações do presidente da República, que violaram abertamente o art. 52 das Disposições Transitórias da Constituição, a participação dos bancos com controle estrangeiro no total de ativos do setor passou de pouco mais de 7% em 1993 para 22% em 1998, enquanto a participação dos bancos públicos caiu de 44% para 28%. E, em 1999, dos 25 maiores bancos, 11 já estavam sob controle externo.

A promulgação de um decreto presidencial em dezembro passado permitindo ao capital estrangeiro participar com até 100% na privatização do Banespa é a continuidade dessa política, ditada pelo FMI, de que “o governo exercerá com determinação” sua política de redução do papel dos bancos públicos na economia.

À margem de visões partidárias, existem razões técnicas de peso contra a desnacionalização do sistema financeiro.

A primeira é a perda de capacidade do país para gerir o processo de financiamento interno da economia “pari passu” ao aumento do peso de agentes financeiros guiados por critérios exógenos, tanto maior quanto menores a gravitação internacional das decisões do Banco Central e a eficácia dos meios de fiscalização financeira e controle dos fluxos de capital.

A segunda é a ampliação dos mecanismos de internacionalização da instabilidade externa, seja do sistema financeiro global, seja de mercados financeiros específicos, bem como, em contrapartida, o padrão de resposta dos agentes financeiros externos diante de situações de crise interna.

A terceira é a maior competitividade dos bancos estrangeiros, em razão de seu acesso a recursos externos e a taxas de captação inferiores, que fortalece a tendência à concentração e desnacionalização crescentes do sistema financeiro nacional.

Agregue-se que os bancos estrangeiros têm restrições de suas matrizes para utilizar recursos próprios em operações com títulos públicos, especialmente aqueles com prazos mais longos, em razão do “risco Brasil”.

Finalmente, a afirmação de que a presença de bancos estrangeiros aumenta a concorrência e contribui à redução da taxa de juros não resiste aos fatos. Do mesmo modo, o eventual aumento do preço da venda que resultaria da participação estrangeira nos leilões é um argumento importante, mas não determinante, pois o ágio sobre o preço mínimo é uma antecipação da receita fiscal e será dedutível do Imposto de Renda futuro.

Apesar de toda a campanha oficial e não por acaso, a opinião pública, segundo pesquisa recente do Datafolha, manifestou-se contrária à privatização (48%) e à desnacionalização (71%) do Banespa. Mesmo assim, o presidente, “determinado”, manteve sua posição.

Diante desse quadro, os deputados José Dirceu e Ricardo Berzoini, do PT, apresentaram um projeto de decreto legislativo para sustar decreto presidencial de dezembro, por falta de base constitucional.

O deputado Gerson Peres (PPB) e outros, com o apoio de 325 deputados, apresentaram uma emenda constitucional que traz para a competência exclusiva do Congresso Nacional a autorização da entrada de capital estrangeiro no sistema financeiro. É a aliança possível entre os que querem um banco público com os que recusam sua desnacionalização.

A proposta do PT é transformar o Banespa em um banco público. Banco público com novos mecanismos de controle de fiscalização e nova composição acionária entre funcionários que já detêm, por meio da Cabesp, 15,6% das ações ordinárias e mais 3,9% pelo Banesprev e que conjuntamente com os acionistas minoritários, prefeituras e pequenos produtores rurais e urbanos deveriam ter prioridade no lote de 16% das ordinárias que criminosamente lhes está sendo oferecido com um preço três vezes superior ao de mercado e sem financiamento.

O capital privado participaria conjuntamente com o governo do novo tripé de acionistas. Banco público para manter o crédito social, como a atual participação de 50% no crédito agrícola da região, e continuar fomentando o desenvolvimento econômico.

É muito difícil saber qual o limite aceitável de desnacionalização, mas não há nenhum país importante da economia internacional que não possua um vigoroso núcleo de bancos nacionais. Alguns dos que passaram por uma reestrutura bancária profunda, como a Espanha, não deixaram os estrangeiros entrar.

Se o Banespa for desnacionalizado, o controle estrangeiro sobre o segmento privado do setor financeiro ultrapassará os 50%. A reconstrução do um sistema eficaz de financiamento do desenvolvimento reivindica o Banespa como banco público. Sua privatização é um grave equívoco. Sua eventual desnacionalização é muito mais grave e um novo passo na marcha da insensatez.

Aloizio Mercadante Oliva, economista e professor universitário licenciado da PUC e Unicamp, foi candidato a vice-presidente da República com Lula em 1994, é deputado federal e líder do PT na Câmara dos Deputados.

Fernando Brito:

View Comments (15)

  • De fato, pensando bem, já ouvi nesse tal Mercadejante, que escreve tão bem e é tão didático.
    Não é ele o rastejante amigo da mídia e deputado do PSDB-SP?

  • A mídia nem precisa enterrar o caso. Basta não falar dele e aguardar. Quem enterrará "legalmente" será o MPF, quando e se encontrar algum peixe, digo, pássaro gordo envolvido...

  • O escândalo da CORRUPÇÃO do Banestado é ótimo para sabermos quem é o JUIZ MORO. Se realmente é um Juiz que pune a CORRUPÇÃO ou um JUIZ a lá joaquim que está na mídia e age politicamente. Um justiceiro, um Batman, um TORQUEMADA.

  • A foto do Lerner me fez associar o sobrenome ao de um sujeito da lista do HSBC que tem endereço em Copacabana, RJ. Se não me engano, o nome era Geraldo Lerner. Assim como existem sobrenomes iguais ao do senador Aluysio Ferreira Nunes. Li que a maioria dos depósitos foram feitos na época de privatizações. Tem muito bicho cabeludo nessa trama. Se não der o que falar aqui, vai ter ressonância na imprensa internacional. Não sei se agora, mas depois de alguma tentativa ou várias de golpes, os traíras da pátria serão nomeados pelos homens do mercado. Eles não gostam de lambujas.

  • Lava-Jato e o terror econômico
    Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

    Determinados acontecimentos históricos tem uma reconhecida capacidade de iludir seus contemporâneos.

    O mais recente envolve a multa de R$ 4,47 bilhões que o Ministério Público pretende aplicar contra seis empresas envolvidas na Operação Lava Jato. O MP também pretende impedir que participem de licitações, que recebam benefícios fiscais e juros subsidiados em seus investimentos.

    Diante da estatura dessas empresas, entre as maiores do país, estamos falando de propostas que extrapolam o universo jurídico.
    São medidas que, se forem aceitas pela Justiça, envolvem um caso de terrorismo, que consiste em manipular fatos econômicos para se obter objetivos políticos, gerando efeitos que vão muito além dos cidadãos acusados, prejudicando os trabalhadores e suas famílias, afetando ainda o nível de emprego e o desenvolvimento do país.
    O absurdo reside aqui. Não bastassem as delações premiadas, as prisões prolongadas para forçar confissões, o cerco criminal ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, agora se tenta atingir o pão e a tranquilidade dos brasileiros.

    Não é só. Na sexta-feira, o Ministério Público entrou com uma ação cautelar junto ao Tribunal de Contas da União que pretende impedir a celebração de acordos de leniência entre o governo e as empreiteiras. A preocupação é simples: sem prejudicar as investigações, os acordos de leniência - instrumento jurídico empregado nas democracias mais saudáveis do planeta - tem como finalidade impedir que a atividade econômica de empresas sob suspeita seja inviabilizada pelo trabalho de apuração. O Ministério Público quer prosseguir sua atividade que, mesmo quem imagina que é embalada pelas melhores intenções, sabe que terá um impacto destrutivo sobre o país.

    Surpresa? Nem tanto.

    Principal estudiosa da construção de regimes totalitários no século XX, Hanna Arendt nunca deixou de homenagear o estudioso Franz Borkenau, para quem “o mal, em nosso tempo, exerce uma atração mórbida.”

    Quem não esqueceu que a operação Mãos Limpas italiana é o roteiro de trabalho da Lava Jato, como o juiz Sérgio Moro admitiu em artigo escrito em 2004, só precisa ter clareza sobre um aspecto. Além de procurar, assumidamente, a “deslegitimação” do sistema político - o que também se busca no Brasil - a Mãos Limpas inaugurou um período de empobrecimento e recessão na economia.

    Foi assim que destruiu um sistema que garantiu o mais prolongado regime democrático da Itália ao longo de sua história republicana, colocando em seu lugar um condomínio de partidos e lideranças frágeis e dóceis, ideais para serem alvo das maiores economias da União Européia e dos Estados Unidos.

    O saldo econômico da Mãos Limpas é uma tragédia. Como informa a Economist na edição de 31 de janeiro de 2015, o desempenho da Itália nos anos posteriores à Mãos Limpas foi pior até que o da Grécia, aquela que enfrentou uma recessão de 25% em cinco anos, no mesmo período: “em valores constantes, a economia italiana afundou nos primeiros 14 anos do século (mesmo o PIB da Grécia é maior hoje do que era em 1999). ”

    No Brasil de 2015, a multa de R$ 4,47 bilhões pode abrir processo destrutivo de longa duração e consequências nocivas para o conjunto do país.

    Parece difícil enxergar isso agora mas esse tipo de adormecimento das consciências é mais frequente do que se imagina.

    Deposto em 1 de abril de 1964, João Goulart deixou o país convencido de que logo voltaria à presidência. Já uma parcela respeitável de seus adversários, na base social do golpe militar, tinha certeza de que a ditadura estava programada para durar um ano. Foram vinte anos.

    A leitura de outros relatos históricos mostra que esta dificuldade está longe de ser uma peculiaridade brasileira.

    Na maior parte da Segunda Guerra Mundial, o Partido Comunista Francês desempenhou um papel reconhecido na resistência ao nazismo. Nem sempre foi assim, porém.

    Lembrando os primeiros anos de ocupação da França pelas tropas nazistas, quando Stalin e Hitler tinham assinado um pacto de não agressão, o dirigente comunista Adam Rayski registra uma constrangedora convivência do PCF com os nazistas.

    Em “Nos ilusions perdues”, Rayski recorda documentos que pregavam: “Abaixo o capitalismo ariano e judeu”. No jornal do partido, então publicado com outro nome, também se pedia pela expropriação “de grandes capitalistas judeus”, num comportamento que leva Rayksi a se perguntar se essa visão era simples expressão da visão de mundo de determinados jornalistas do partido ou se traduzia um esforço “de acomodação entre comunistas e nazistas.”

    Você já sabe que nas ultimas semanas, no Rio Grande do Sul, 7.000 empregos ligados a Petrobras já foram eliminados, em empresas que acusam um rombo de R$ 5 bilhões nos pagamentos a receber. Este é o sinal de alerta para a judicialização da economia.

    Do total cobrado pelo Ministério Público, a maior parcela - R$ 3,1 bilhões - encontra-se na categoria sempre subjetiva dos "danos morais", envolvendo dez vezes o valor estimado das propinas, o que não é comum.

    Repetindo um mantra que os brasileiros ouviram até enjoar durante a AP 470, os procuradores da Lava Jato falam em “punição exemplar”. Exemplo de que mesmo?

    Pedindo auxílio a metáforas da medicina, que envolvem uma realidade que nada tem a ver com o funcionamento da Justiça e muito menos com a política, fala-se ainda em “câncer”, em “metástase.”

    O que se busca é esconder medidas jurídicas que colocam em risco o emprego dos brasileiros, seu salário, o futuro de suas famílias.

    Para começar, falta provar que todas as denúncias contra essas empresas são verdadeiras e podem ser demonstradas a partir de provas robustas. Quem sabe? Na página 36 da denuncia contra a OAS, por exemplo, chamada a pagar uma multa de R$ 988 milhões pelo pagamento de propinas, admite-se singelamente que “as transações bancárias até o momento não identificaram o montante de 1% nos contratos firmados entre a construtora e a Petrobras.” Na página 8, cita-se uma delação premiada, produto das circunstâncias que todos conhecemos, que afirma que “todos sabiam” do pagamento de um “porcentual” ao Partido dos Trabalhadores. Em outro cúmulo se precisão, se diz: “o que se rezava dentro da companhia é que esse valor seria integral para o PT.”

    A questão política e jurídica, na verdade, é outra. Consiste em perguntar quem deve pagar a conta.

    Teve razão a presidente Dilma Rousseff ao lembrar, ontem, que o país estaria muito melhor se as denuncias que envolvem a Petrobras tivessem sido investigadas há quase 20 anos, quando o gerente Pedro Barusco começou a montar um esquema na empresa.

    Errou Fernando Henrique Cardoso, quando, horas depois, deu uma resposta torta: “como alguém serio pode responsabilizar meu governo pela conduta imprópria individual de um funcionário se nenhuma denúncia foi feita na época?”

    Há exatamente 18 anos, durante primeiro mandato de FHC, o Brasil inteiro tomou conhecimento de uma denúncia do jornalista Paulo Francis de que havia um esquema de propina na Petrobras, pela qual diversos diretores mantinham contas de 50 e 60 milhões de dólares em contas secretas na Suiça. Francis repetiu a denúncia mais de uma vez, pela TV.

    Inconformada, a diretoria da Petrobras decidiu acionar Francis na Justiça, numa ação por danos morais no valor de US$ 100 milhões. Estimulado por José Serra, o presidente tentou convencer os executivos da empresa a desistir da ação. Protegeu um amigo do governo mas não demonstrou a mesma atenção pela Petrobras.

    Se tivesse mandado investigar o caso, como era dever de um presidente, poderia - eu disse poderia - ter descoberto um universo paralelo que seria denunciado quase duas décadas depois.

    Meu palpite - mas é só um palpite - é que não se pretendia fazer nenhum movimento que gerasse ruído em torno de um projeto maior, de privatizar a maior empresa brasileira. Um ano depois da denuncia de Francis, FHC assinou decreto que permitia que a Petrobras fosse dispensada de licitações para definir seus investimentos. Curioso, não?

    Em 1996, quando Paulo Francis fez a denuncia, Ministério Público já havia conquistado a autonomia de investigação garantida pela Constituição de 1988. Fez alguma coisa? E a Polícia Federal?

    Aprende-se, mais uma vez, uma boa e velha lição: a primeira medida para se impor medidas que prejudicam o conjunto da população e comprometem o destino do país é apagar sua memória. Deu para entender, certo?

  • Ah! Que saudade do velho Briza. Ele sim foi coerente até o fim.

  • ... Como enterrou a compra de votos para a reeleição do '[FHC] Príncipe da Privataria Tucana', o TRENSALÃO, o MENSALÃO do PSDB do réu confesso Eduardo 'AZARedo', o 'Aeroporto da Fazenda do Titio' [do candidato derrotado Aécio 'Never'], a seca provocada pelo choque de 'Jestão' do DEMoTucanato paulista, a sonegação bilionária das organizações (sic) Globo...

    • Presidenta. Acorde
      Faça coletiva todos os dias denunciando estas barbaridades. Eu não estão suporto mais ter que defender o governo se o próprio governo não o faz.Assuma a batalha, põe a cara só temos a ganhar. Este pessoal são ridículos mas violentos.

  • Por que meu comentário foi censurado. Eu não sabia que era proibido elogiar o Brizola.

Related Post