Milhões de jovens não trabalham ou estudam. Vão “resolver na porrada”?

 

Fernando Molica, no Informe do Dia, dá os números: mês passado, “o número de jovens internados no Rio para cumprimento de medidas socioeducativas era o dobro do verificado no fim de 2013 e de 2014. No mês passado, havia 2.157 adolescentes nessa situação, contra, respectivamente, 1.076 e 1.023 nos anos anteriores.”

 

Somando os que estavam sob liberdade assistida, “no fim do mês passado, 2.583 rapazes e moças sofriam algum tipo de restrição de liberdade”.

 

Mas espantoso é o  número que a nota de Molica cita: a estimativa do economista Mauro Osório de que haja quase meio milhão de jovens só no Estado do Rio de Janeiro em situação de vulnerabilidade por não estudarem ou trabalharem.

 

É o que ele estima perto de atingir, com base nos dados do IBGE do Censo de 2010, que integram o  livro “Uma agenda para o Rio de Janeiro: estratégias e políticas públicas para o desenvolvimento socioeconômico”, organizado por ele, Luiz Martins de Melo, Maria Helena Versiani e Maria Lúcia Werneck, que será lançado amanhã, às 18 horas, sede da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro. Aliás, com um debate entre os organizadores e o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa,  garantia de polêmica e visão social da economia.

 

De volta aos números de Osório: são, apenas nas três maiores regiões metropolitanas do Brasil – Rio, SP e BH – quase 1,2 milhão de jovens são “nem-nem”: nem estudam, nem trabalham. Ou eram, porque os números de 2010 certamente são melhores os que os de hoje: a população cresceu e as oportunidades encolheram.

 

Não vai ser na base de cadeia, nem de revistas da PM que vamos tirar da exposição ao crime esta multidão juvenil.

 

E a cultura do ódio, da discriminação e da reação agressiva só piora o ressentimento e a propensão à violência a que ficam expostas as novas levas de meninos e meninas que vão chegando à juventude.

 

Do contrário, vai-se prender o dobro, como agora, o triplo, o quádruplo…

 

Ou então, haja “marombeiro” para “resolver na porrada”…

 

Fernando Brito:

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  • O senso comum aplaude "soluções" como redução da maioridade penal; justiceiros e verborreias como as de Bolsonaro e congêneres. Trata-se de uma disputa política, ideológica. Disputa desigual, uma vez que os grandes veículos de comunicação dissemina ódio e preconceitos.

    • Ódio e preconceito que contamina a tudo e a todos. Se a violência contra petista é naturalizada e, não só, estimulada, a mensagem que se esta a passar a esses jovens é wue tudo pode e a violência é um meio legítimo de estravazar frustrações, ressentimentos e ódios recolhidos. A classe média pode usar a violência, por que não os pobres que têm muito, mas muito mais motivos, não podem? E ainda tem um agravante tem pouco a perder, pois nunca tiveram nada, nem estudo, nem trabalho e muitas as vezes nem um lar tiveram. Então para a maioria é matar ou morrer. Quem perdera é quem tem muito a perder. O governo do PT ao tentar mudar tal estado de coisa - desigualdade socisl - pela via democratica - menos dolorida, de menos sofrimento, está sendo brutalmente rechaçado, punido. A verdade é que a história mostra que uma saída haverá. E se não será pela paz, será pela guerra civil, vide as revoluções francesas, bolchevique e cubana. Quando muitos perderão literalmente a cabeça por se negarem a ceder o mínimo. Nao vao.poder reclamar. Foi uma escolha deles.

  • O crime, que por inércia do estado (sic), se fez organizar.
    Agora, mais uma vez, por inércia do estado, os marombeiros estão se organizando. Aonde isso vai parar?

  • A lógica do nosso desenvolvimento ainda é colonialista, de transferência total para os colonizadores das riquezas e força de trabalho do povo. Nos últimos tempos com ênfase no rentismo e especulação que superam assustadoramente a economia real. Uma bolha que o capitalismo terá que enfrentar mais cedo ou tarde. De preferência mais cedo para evitar mais catástrofes sociais e ecológicas.
    O modelo urbano, industrial, de comércio e serviços concentradores podem favorecer a logística, mas prejudica o espaço público e a qualidade de vida.Acaba por produzir uma massa populacional que fica à margem do desenvolvimento, sem oportunidades, sem garantias: de moradia, alimentar, de saúde, educacional , trabalho e segurança.
    Foi muito importante o movimento do governo em apoiar o desenvolvimento nas regiões mais carentes, invertendo o fluxo migratório da população. Este conceito precisa ser implementado nas macro e microrregiões dos estados e principalmente nos municípios, estes precisam definir seus limites e suas capacidades. A infraestrutura urbana deveria preceder a ocupação:tem área segura, água, infraestrutura sanitária, escolas, hospitais, área de lazer e de convivência?
    O nosso passivo social mal começou a ser revertido e sofre ataques dos que permitiram ou se beneficiam atualmente da formação do caos urbano, do crescimento desordenado, das desigualdades regionais. Contraditoriamente são os que por complexo de vira-latas acham lindo as ciclovias de Paris ou Nova Iorque, a arquitetura preservada, as garantias sociais, construídas na sua base histórica pela espoliação e pela submissão de outros povos e outras regiões do planeta, mas aqui derrubam prédios históricos, criminalizam a cor das ciclovias, elas próprias e seus usuários. Por egoísmo acham que podem construir ilhas urbanas e manter-se isolados das mazelas que o próprio modelo fortalece.

  • Brito,
    Estes jovens, portanto, nasceram entre 1997 e 1991.
    Seria muito importante que os pesquisadores sociais estudassem a relação entre este dados e as seguintes variáveis, - tanto d@s jovens quanto de seus pais e de suas mães - : raça, escolaridade, situação familiar (inclusive violência doméstica), moradia, e programas dos 3 estados para apoio às famílias das crianças e adolescentes em situação de risco no período citado, pois estes estados podem ou não ter aproveitado os financiamentos e programas que começaram a ser aplicados pelo governo federal a partir dos últimos 13 anos.
    Assim teremos dados para análise deste quadro horripilante e das variáveis responsáveis por eles.
    Escrevo isto porque como psicóloga aposentada e, tendo trabalhado com crianças, jovens e famílias, penso que este quadro apresentado aqui, por você, Brito, são fundamentais para o bom desenvolvimento das crianças, adolescentes e jovens.

  • A alternativa dada à garotada é o crime. Nada mais. Estes jovens não estão soltos no mundo, como se imagina. Há, inclusive uma ideologia difundida a boca pequena que justifica a "escolha" por ser o tal "nem-nem". Resumindo numa frase que escutei recentemente de um garoto na rua: "eu não nasci pra trabalhar, meu negócio é roubar mesmo. Não sou esquemão da sociedade nem otário". Vale lembrar que o mesmo vive de pequenos furtos e já tem um irmão mais velho fugitivo por assassinato.
    Esta garotada é a reserva do exército que sustenta a corrupção dos agentes de segurança do Estado (civis e militares). Morrem feito pombo atropelado na rua. É só varrer a carcaça e pronto. Aqui em Itaquera, só no mês passado foram sete. Por acidente, é o que dizem. Hoje de manhã já rola um boato que outros dois sucumbiram durante um assalto. Para o crime, para as famílias e pra maioria da sociedade, tanto para o bem, quanto para o mal, não fazem falta alguma. Há muitos na fila. Se cai um, outro ocupa o lugar. O único lamento vem dos chefes, que se ressentem por não receberem o resultado do roubo ou por diminuírem a fatura de propina pra continuarem soltos. Gente, a periferia de São Paulo está um caos! Acho até que é pior que no Rio, porque ninguém vê. Talvez, por ser muito óbvia e isto denota a força e a violência dos que gerenciam a máquina de moer carne adolescente na cidade. E se quiserem, botam fogo no mundo. Temos um fascista no Governo de São Paulo que dá graças a Deus por tudo estar sendo bem administrado e não oferecer risco político algum a ele. A única forma de reação seria na esfera federal. A única eficaz. Via GNCOC, se é que ele existe de fato.

    • A região metropolitana de BH também está assim. Vejo essa garotada dividida em dois grupos: Um que aproveita as oportunidades criadas pelo governo federal (prouni, Pronatec, fies, projovem); um outro que quer apenas curtição (festas, "pegação", funk, balantaines, tênis de mil reais, pó, moto ou carro possantes), não vêem programas culturais, gostam de filmes e programas violentos, detestam ler, não querem ganhar salário mínimo e nem levar marmita, tem quase uma admiração pelos grandes traficantes que passam na mídia, ontem, por exemplo, escutei uma conversa de um jovem que disse que o primo dele conheceu o falecido playboy, falava com ar de grande feito. É neste grupo que está o problema, em sua maioria são jovens de uma terceira geração de retirantes de cidades interioranas, famílias de mães solteiras, que possuem em média três filhos, que trabalham, e que as meninas já são mães de filhos que os pais estão presos. É isso que presencio. Tragédia social anunciada.

  • O que o PIG não está a fazer contra o Brasil? Tudo de ruim. O PIG insuflou o ódio, levou à paralisação de obras, dia e noite gritou que havia crise e contribuiu como ninguém para o quanto pior melhor. O PIG é o inimigo a ser batido nesta guerra de extermínio da corrupta Casa Grande contra 80% da população brasileira. Onde está a falha do governo Dilma? No silêncio sepulcral, no medo do PIG, no acovardamento dos Bernardos, Berzoinis, Zés, Edinhos. Na mediocridade das Idelis e por aí segue. O PIG é mortalmente venal. Trabalha para encher os bolsos dos seus patrões e pela manutenção da escravidão da grande maioria. Para que tenhamos democracia de verdade precisamos de oposição responsável e dotada de programa. Para isso precisamos deletar o PIG. A justiça e a oposição que temos são filhotes da ditadura do PIG.

  • No meu humilde pensamento, apenas como observador, acredito que a situação deva começar a melhorar sensivelmente, já nos próximos anos, porque as políticas públicas de universalização do ensino, do Bolsa Família, recomposição do Salário Mínimo, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, etc., somadas à redução da taxa de natalidade que tem ocorrido no Brasil tem o seu tempo de maturação e de resultados. Os avanços na cultura (importância da educação, por exemplo), assim como a percepção de um avanço nas possibilidades de oportunidades (mesmo que para alguns pareça tímido) também penso terem o seu tempo de maturação e de resultados.
    Uma questão que talvez pudesse contribuir para a empregabilidade dos jovens, sobretudo do sexo masculino, seria a eliminação do depósito do FGTS para aqueles que, empregados pela CLT, prestam serviço militar. Acredito que haja grande resistência de contratação pelas empresas de menores com a possibilidade de serem engajados e a empresa ter arcar com esse(s) custo(s) até o seu desengajamento.

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