Ministro administra, quem governa é presidente

O Estadão inaugura a linha que ficará evidente ao longo dos primeiros meses do ano: as “divergências” da Presidenta Dilma Rousseff com a equipe econômica que ela própria escolheu.

Foi o caso das declarações do Ministro do Planejamento, Nélson Barbosa, de que haveriam novas regras para o reajuste do salário-mínimo.

Haverá, mesmo.

Porque a lei de reajuste do mínimo determina, no seu art. 4°,  que “até 31 de dezembro de 2015, o Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre a política de valorização do salário mínimo para o período compreendido entre 2016 e 2019”.

Muito provavelmente, Barbosa disse mais ou menos isso.

Mas se disse – e eu não li isso em suas declarações e nem ele diz isso na entrevista dada à Globo – que as regras a serem enviadas preveriam reajustes menores, caiu no “canto da mídia”, que é como a raposa que elogia o canto do pássaro para que ele se empolgue e deixe cair o queijo que tem no bico.

Se Dilma achou “inoportuna” a declaração, mesmo vaga, sobre “novas regras”, tem toda a razão.

Barbosa deixou aberto o campo da especulação sobre corte nos reajustes, que é tudo o que a mídia quer.

E isso não é retórica, pois está fazendo um ano que O Globo defendeu, em editorial, que era preciso conter a elevação do mínimo.

Não há a menor dúvida que fazem tudo para que ele e também Joaquim Levy se comportem como “xerifes”, governando de fato a política econômica do país, dançando conforme a música que sai das TVs e dos jornais.

Isso é uma evidente usurpação, pois num regime presidencialista quem define políticas é quem foi eleito para isso: o presidente ou presidenta da República.

Barbosa e Levy são homens públicos experientes, mas não custa lembrar que não existe “bate-papo informal” possível com o nível de intriga que impera hoje nas relações entre a imprensa e o Governo Federal. Esqueçam de falar “em tese”, porque não há espaço para isso.

Na função que ocupam, ninguém espera que sejam “bonzinhos” e “generosos”.

São, afinal, tesoureiros. E tesoureiro “mão-aberta” é a ruína da companhia.

Seu papel, neste momento e sempre, é mesmo o de conter e cortar gastos.

Mas não o de definir políticas salariais que dependem da Presidenta e, aliás, nem só dela, pois foram definidas com os representantes dos trabalhadores.

Mesmo achando que se amplificou um comentário genérico sobre isso, foi bom que tivesse ocorrido logo.

É uma demarcação de poderes que, ainda que evidente, não custa repetir.

Ministro administra, quem governa é quem foi eleito para isso.

Fernando Brito:

View Comments (22)

  • Concordo contigo, Fernando!
    O PIG foi surpreendido pela ação firme de Dilma.
    Uma "demarcação de poderes" oportuníssima!

  • Nestes 4 anos de governo Dilma, vai ser assim. O samba do crioulo doido.

  • Terrivel.Durante a campanha falamos sobre melhor divisao de renda nao foi?

    E muito facil aumentar o saldo positivo do INSS.Acabar com a farra da previdencia privada. E estimular mais depositos no INSS.Nao votei em privada nem em banqueiro.

    • Tem que acertar as contas pública cortando gastos com publicidade. Fácil.

  • E espero que o site nao mude a linha critica.Em alguns a critica e deletada.

  • Já eu espero que o site seja crítico com coxinhas que do vêm aqui apenas para tecer comentários contrários ao governo, sem qualquer sustentação argumentativa ou fática, apenas repercutindo o pensamento ideológico de ultradireita dos jornalistas rola-bosta da grande imprensa. Acho que, em casos assim, Fernando Brito, você não deve publicar os comentários. Com isso você colocará os coxinhas em seus devidos lugares.

    • concordo, Swamy !!!,,,,, vem aqui se fazer de tolinhos, os coxinhas,,, ademais, críticas, todo e qualquer político recebe, por ser vidraça, ,mas com embasamento....

  • "Se Dilma achou “inoportuna” a declaração, mesmo vaga, sobre “novas regras”, tem toda a razão.": pois que ela dialogasse com o Nelson Barbosa sobre essa "inoportunidade". "Diálogo", não foi o que ela prometeu, em várias das entrevistas concedidas à grande mídia, logo após eleita? E ela cai na fofocada da mídia e faz uma descompostura pública ao Nelson Barbosa, um dos poucos ministros bons que ela escalou? Eu, se fosse ele, já a teria mandado às favas e que ela se ajeitasse para arranjar um substito à altura (que tal o Arno Augustin?). Dilma está sendo prepotente. Ela é presidente, não raínha. Dei, pela segunda vez, meu voto a ela. Estou começando a me arrepender mais seriamente que na primeira vez. Ela não aprende, ela não muda, ela não faz política, ela é síndica, e, para síndica, prefiro eleger a do meu prédio aqui, que administra muito bem. Fenando, por favor, seja crítico, também. Você é brizolista, como eu sou. Reconheça quando a autoridade extrapola. Dilma agiu grosseiramente, se comparou a Joaquim Barbosa.

  • "Se Dilma achou “inoportuna” a declaração, mesmo vaga, sobre “novas regras”, tem toda a razão.": pois que ela dialogasse com o Nelson Barbosa sobre essa "inoportunidade". "Diálogo", não foi o que ela prometeu, em várias das entrevistas concedidas à grande mídia, logo após eleita? E ela cai na fofocada da mídia e faz uma descompostura pública ao Nelson Barbosa, um dos poucos ministros bons que ela escalou? Eu, se fosse ele, já a teria mandado às favas e que ela se ajeitasse para arranjar um substituto à altura (que tal o Arno Augustin?). Dilma está sendo prepotente. Ela é presidente, não rainha. Dei, pela segunda vez, meu voto a ela. Estou começando a me arrepender mais seriamente que na primeira vez. Ela não aprende, ela não muda, ela não faz política, ela é síndica, e, para síndica, prefiro eleger a do meu prédio aqui, que administra muito bem. Fenando, por favor, seja crítico, também. Você é brizolista, como eu sou. Reconheça quando a autoridade extrapola. Dilma agiu grosseiramente, se comparou a Joaquim Barbosa.

  • Fora de pauta...
    Esta é uma campanha meritória.
    Putin, novamente, faz os EUA e a Europa de bobos.
    E mostra porque sua popularidade não baixa de 65% há doze anos: tem coragem.
    A Televisão Russa – RT, noticiou agora há pouco que a Rússia ganhou 20 bilhões de dólares em dez dias com a recompra refinarias russas e outros ativos de gás e petróleo, privatizadas por investidores ocidentais por Yeltsin após o fim da URSS.
    Putin, ( que apenas sorria durante as coletivas nas quais jornalistas ocidentais debochavam da queda do rublo rente ao dolar), aproveitou a desvalorização da moeda russa e a queda do valor desses ativos e de suas ações provocada pelos Estados Unidos através da queda artificial dos preços do petróleo e fez uma jogada de mestre: recomprou a parte dos investidores americanos e europeus.
    Será que não podemos ( ou devemos ?) fazer o mesmo com as ações da Petrobrás, que se desvalorizaram pelas manobras dos “inimigos de fora” que a Senhora Presidenta citou em seu discurso de posse?
    Será que não se o governo brasileiro não fizer o mesmo, no futuro, não poderá será acusado de não tomar atitude correta do ponto de vista do interesse nacional e de promover a gestão temerária do patrimônio?
    http://actualidad.rt.com/actualidad/162182-putin-maestro-petroleo-rublo

    • Excelente, bom também para os BRICS= Brasil ea Petrbrás, que deve fazer o mesmo, compra as ações da Petro em baixa, dos especuladores americanos !!!!

  • Ministro aceita ou rejeita convite para "estar" Ministro. Dilma - podes crer - disse o que queria para "controlar os gastos". As linhas gerais ela deu na campanha.
    Não acredito que o recém empossado Ministro tenha corroborado com o discurso do PIG - que perdeu a eleição mas quer impor a "visão econômica" dele e do Mercado - sabedor da "visão econômica" de Dilma, a eleita. Pra mim, é pura intriga, advinda de uma distorção de informação conveniente. Isso o PIG faz como ninguém.
    O PIG - porta-voz do Mercado - quer se achar vencedor da eleição indireta ao crer que Levy e Barbosa irão mandar. Pelo contrário, para Dilma, eles serão os auxiliares, como Ministros o são, para cumprir o programa de governo.
    O próximo passo do PIG é dizer que Barbosa - quem irá definir o planejamento do próximo mandato de Dilma, dentro das diretrizes estabelecidas por Dilma - não manda nada, que tudo está centralizado em Dilma, que ela é personalista. Plantar intriga, alimentar intrigas, esse é o papel do PIG, na busca de impor a agenda dele.
    Assim opera o PIG. Disso sabemos. E isso não funciona com Dilma - ou só funciona quando for conveniente pra ela.

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