Em entrevista ao Estadão, o pastor Milton Ribeiro, obscuro ministro da Educação do governo Bolsonaro, mostrou que está no cargo apenas para “tapar buraco” numa área que, afinal, não vem ao caso nesta administração.
Há, na sua entrevista, uma coleção de pérolas de covardia: a desigualdade educacional do país “não é um problema do MEC, mas um problema do Brasil”, também não faz parte das atribuições do ministério resolver a falta de acesso à internet de alunos que não conseguem acompanhar aulas online e menos ainda se envolver na reabertura de escolas.
É curioso que a turma que vive dizendo que a Educação deve ser prioridade fique quieta diante de um ministro que acha que o papel do MEC é apenas mandar dinheiro às escolas para “comprar insumos, pequenos reparos, tudo para proporcionar que o aluno volte com segurança, incluindo máscaras”.
Se o papel do ministério é apenas “logístico”, porque não arranjar logo um colega do General Pazuello e pronto? Ah, sim, e abrir uma dúzia de “escolas militares” que são uma espécie de quartel da PM pedagógicos? De preferência, de onde as crianças saiam logo para ir trabalhar, como cansa de sugerir Bolsonaro, que quando não é Pinocchio é Stromboli.
Este ano transcorre o centenário de Anísio Teixeira, ano que vem o de Paulo Freire e, em 2022, o de Darcy Ribeiro, para ficarmos em três educadores que pensavam grande, que tinham sonhos, que mudaram a cara da educação pública.
Que este século se complete sob a gestão de alguém tão miúdo como este cidadão que está no MEC é quase uma maldição do atraso a que está submetido o Brasil.
Não temos uma ideia criativa para mitigar os problemas trazidos pela pandemia? Por que não se usaram as redes de TV aberta – concessões públicas, volto a lembrar – , porque não se criaram canais pedagógicos com conteúdo seriado para que se pudesse acessar nos horários em que a presença dos pais tornava possível o uso de celulares, porque só hoje (sim, hoje, 24 de setembro!) foi colocado na internet o “Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da COVID-19” que está pronto desde julho?
No entanto o senhor Ministro está preocupado em “promover mudanças em relação à educação sexual.”
Segundo ele, a disciplina é usada muitas vezes para incentivar discussões de gênero. “E não é normal. A opção que você tem como adulto de ser um homossexual, eu respeito, mas não concordo”, afirmou ele, que atribui a homossexualidade de jovens a “famílias desajustadas”.
Deus meu, será que este cara está nos anos 60, onde sexo era (ou deveria ser) assunto exclusivo de adultos. De preferência de adultos sórdidos, destes que fazem “brincadeiras” de cunho sexual com uma youtuber de 10 anos, em plena reunião ministerial?
Não é à toa que Ribeiro só tem a dizer de Paulo Freira que era “marxista”, quando seu método é uma das referências da pedagogia em todo o mundo:
Tive a pachorra [paciência] de ler o texto mais famoso dele, que é a “Pedagogia do Oprimido”. Eu desafio um professor e um acadêmico que venha me explicar onde ele quer chegar com as metáforas, com os valores. Ele transplanta valores do marxismo e tenta incluir dentro do ensino e da pedagogia.
Ah, ministro, que análise, que poder de síntese! Ensino e pedagogia são duas ciências descoladas do mundo, das realidades, do ambiente social.
Na próxima cartilha para os meninos e meninas da favela, vamos ao bom e velho método da silabação, apenas: “Vovô viu o fois-gras”, “Eva viu o Google” ou, quem sabe: “Tio Milton está com a pachorra”…