Moralizou-se a política: sobrou para a ‘açaissessora’ Walderice

Então, Jair Bolsonaro demitiu sua açaissessora  Walderice  Santos da Conceição, que levava água para seus cachorros na casa de praia de Mambucaba, em Angra dos Reis, que, segundo o deputado “de  vez em quando dá água pros cachorros lá” de sua casa de veraneio.

Walderice vai ficar sem os seus R$ 1,351, o imenso “assalto” que fazia aos cofres públicos do país.

Bolsonaro, talvez – e só talvez – ficará sem alguns votos, que não o impedirá nem de dar mandatos para seu filhos nem de achar quem dê água para seus cachorros.

A Folha, naquele elitismo que sua “folhice” a leva a usar , diz que a Wal se dedicava ao “comércio de açaí”. É, tinha uma portinha para vender o tal negócio, quase o mesmo que uma banquinha de camelô, nada que lhe desse mais que uns trocados.

Ontem vi no Metrô um rapaz vendendo headfones a R$ 5 e, tecnicamente, posso dizer que ele se dedica ao “comércio de eletrônicos”…

Vai acontecer algo a Jair Bolsonaro? Acaso vão cobrar que ressarça os cofres públicos por ter dado de beber aos cachorros à custa do Estado ou será só Walderice pagará por isso?

No mesmo dia do desastre da Wal, fica-se sabendo do patrimônio de quase meio bilhão de João Amoedo, o candidato do tal do Partido Novo.

É dele, sem dúvida e foi arduamente construído como diretor de um banco e dono de uma financeira que, como se sabe, são aquelas instituições que extorquem os necessitados, cobrando-lhes os juros da agiotagem que este país denomina de mercado financeiro.

A Wal entrega um açaí e cobra um açaí. A financeira entrega uma geladeira e cobra três.

Não preciso dizer mais e deixo que fale, melhor que eu, sobre isso, o genial Luís Fernando Veríssimo, em sua crônica “E por falar de ladrão de galinhas”:

E POR FALAR EM LADRÃO DE GALINHAS…

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e levaram para a delegacia.
– Que vida mansa, heim, vagabundo ? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para cadeia!
– Não era para mim não. Era para vender.
– Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
– Mas eu vendia mais caro.
– Mais caro?
– Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
– Mas eram as mesmas galinhas, safado.
– Os ovos das minhas eu pintava.
– Que grande pilantra…
Mas já havia um certo respeito no tom do delegado.
– Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega…
– Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio.
Ou, no caso, um ovigopólio.
– E o que você faz com o lucro do seu negócio?
– Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
– Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está
milionário?
– Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.
– E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
– Às vezes. Sabe como é.
– Não sei não, excelência. Me explique.
– É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa.
Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso, finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.
– O que e isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
– Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
– Sim. Mas primário, e com esses antecedentes..

 

 

Fernando Brito:

View Comments (22)

  • Tudo isso por causa de R$ 1.351,00... Bolsonaro você é um lixo de pessoa.

    • Sobrou prá Walderice. Tinha que sobrar prá Walderice. Quando reviveram este caso, fiquei admirado pelo fato de que o Bolsa, com todo o tiroteio que sofreu, continuava ainda garantindo a grana da Wal. Agora até isso desapareceu do Bolsa, em nome de um fingimento vazio e mal maquiado. O povão, que não tem uma gota de moralismo pequeno-burguês, não vai gostar nada disso.

    • Vai ter bolsominions dizendo que é besteira, como se existisse gradação de mais ou menos ético.

    • Tenho absoluta certeza de que o BOÇALNARO vai devolver a grana, por pequena que seja.
      Quem confessou que comeu gente com dinheiro público tem agora uma chance de se redimir.

  • Não fugindo do óbvio: Confesso estar (mal) impressionado com a atenção que todos os blogs progressistas (? progressistas para onde? ) estão dispensando ao próximíssimo registro da candidatura do Lula. Afinal, jornalistas tem que estar a cavaleiro das novidades, ou, em latim antigo, das notitias. Amanhã. Dia de N. Sª. da Glória! E pode ser o PRIMEIRO dia resgatado da glória de um projeto de governo traído, pelos canalhas, canalhas, canalhas. LULA 2018!.

    • Infelizmente, já há pessoas querendo desmobilizar, como o deputado do PT (!) que marcou outro evento para a mesma data e horário, em Porto Alegre.
      Quem puder, vá a Brasília apoiar o registro da candidatura! Sem o povo, Lula não sairá dessa!

    • Você está certo. O foco tem que ser a mobilização para o registro da candidatura de Lula.

  • Quando eu digo que Bolsonaro não aguenta dois meses de campanha, ninguém acredita. Pagando a empregada particular dos seus cachorros de Mambucaba, Angra dos Reis, com dinheiro público na rubrica "assessoria parlamentar". Os cachorros do deputado Bolsonaro foram fundo na fonte da "viúva". #QueCachorradaBolsonaro #AssessoriaCanina

  • Uma delícia este texto do Brito, um rápido complemento à altura da crônica do Veríssimo. Destaque para o adjetivo "folhice", que fez lembrar a cortante acidez crítica do Monteiro Lobato.

  • CERTAMENTE, DEVEM TER AMBOS SE IDENTIFICADO COMO MAÇONS...
    SABEM COMO É ... AQUELE APERTO DE MÃO MAÇÔNICO "ONESTO", HÉTICO, MHORAL, SOLIDÁRIO, E ETERNO...

  • Jo$1000000as de %ouza sempre soube da funcionária fantasma
    do José Serra, mas nunca se interessou pelo assunto; agora, bem ligeiro, está
    lá em sua campanha pelo picolé de chuchu atacando a fantasminha do Bolsosauro.

  • Realmente a coluna valeu para mostrar o mau carater do paspalhao corrupto candidato e do *folhice*, que apos as eleiçoes vai ter que pastar muito no futuro governo sem golpistas.

  • Achei infeliz o texto. Se a assessora tivesse nível superior e ganhasse R$ 10.000,00/mês seria imoral por parte dela, mas como ela ganha uma miséria tudo bem? Sinceramente, ela sabia muito bem que a situação era incorreta. Enquanto toda a forma de imoralidade com dinheiro público - desde a bolsa banqueiro até o “espertinho” que finge estar doente para receber auxílio-doença do INSS não for combatida - não iremos evoluir enquanto nação.

    • Ela ganhava, teoricamente, por serviços de empregada doméstica. Imoral é o patrão dela, em vez de tirar do próprio bolso (sem trocadilho), usar a folha de pagamento de assessores da Câmara dos Deputados - como, de resto, vários empresários Brasil afora fazem, registrando suas empregadas em folha de pagamento de empresas. Já eu penso que antes de se resolver o mau uso do erário é preciso resolver a desigualdade social.

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