Moro a Deltan: o celular de Cunha “não vem ao caso”

Novos diálogos revelados pelo “Vaza Jato” do The Intercept, agora com o site Buzzfeed, mostram que Sérgio Moro agiu para que no pedido de prisão preventiva de Eduardo Cunha não fosse solicitada a apreensão de seus aparelhos de telefone celular.

O motivo, provavelmente, era evitar que da perícia pudesse resultar o encontro de mensagens que envolvessem o ex-presidente da Câmara e artífice do impeachment com autoridades do governo Temer que levassem o caso para o STF, por foro privilegiado dos envolvidos.

No dia 17 de outubro de 2016, Moro assinou o mandado de prisão de Eduardo Cunha, que já havia sido cassado e perdido o foro especial, mas não incluiu a ordem de apreensão dos seus celulares.

Ao tomar conhecimento da ordem, Deltan Dallagnol tentou argumentar com o “chefe”:

• 11:46:44 Deltan: Mas amanhã não é a prisão?
• 11:46:51 Deltan: Creio que PF está programando
• 11:46:59 Deltan: Queríamos falar sobre apreensão dos celulares
• 11:47:03 [Moro]: Parece que sim.
• 11:47:03 [Moro]: Parece que sim.
• 11:47:07 Deltan: Consideramos importante
• 11:47:13 Deltan: Teríamos que pedir hoje

Moro responde e diz:

• 11:47:15 [Moro:] Acho que não é uma boa

17 minutos depois, Deltan se “despenca” para conversar pessoalmente com Moro e, depois de voltar à PGR e “amansar a tigrada”, manda ao juiz nova mensagem:

• 14:16:39 Deltan: Cnversamos [Conversamos] aqui e entendemos que não é caso de pedir os celulares, pelos riscos, com base em suas ponderações

Recebe, então o “OK” de Moro.

A operação tramada entre ambos é, no mínimo, de tentativa de ocultação de provas, isto é, crime de obstrução da Justiça praticado pelo próprio juiz.

A Força Tarefa e Moro defendem-se – claro, depois de negarem veracidade às mensagens – dizendo que os celulares de Eduardo Cunha já haviam sido apreendidos.

De fato foram, mas 10 meses antes. Ou seja, havia quase um ano de contatos armazenados nos novos aparelhos que foram retirados da investigação, causando surpresa ao próprio Eduardo Cunha, ao ser preso, por não entender a razão de não ter sido obrigado a entregar seus telefones.

As baterias começam a mudar de alvo: do cruzador Deltan Dallagnol semidestruído para o encouraçado Sergio Moro, ainda apenas danificado.

Fernando Brito:

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  • É o Marreco de Maringá, o Savonarola Moro começando a ir a pique.

  • Será mesmo que o motivo era só o processo ser levado para o STF, por conta de foro privilegiado?
    "Só" é força de expressão, porque mesmo só isso já seria grave.
    Mas acho que tem muito caroço nesse angu.

  • Bolsonaro tem motivos pra manter moro ao sol até derreter. Livra-se do encosto para a vaga no STF e vai à forra no desprezo com que foi tratado por ele no aeroporto de Brasília, em 2017.
    Os dois se merecem.

  • Os dez meses em que usou os celulares após a apreensão dos celulares anteriores correspondem ao período do impeachment. Poderia conter a compra de votos, mas também conversas com Aécio? Aécio foi cúmplice ativo do Cunha na farsa do impeachment. E se tivesse também alguma coisa sobre o FHC, que não pode ser 'melindrado'? Será que Moro não fez isso também para proteger seus amigos políticos golpistas? Lembrando que ele desaconselhou a delação premiada do Cunha e absolveu Claudia Cruz que só foi condenada um ano depois porque o MPF recorreu da absolvição e o TRF-4 a condenou. Como diz aqui a Emilia tem caroço no angu.

  • Fica explicado porque Moro aliviou a barra da Claudia Cruz, enquanto que quanto à D. Marisa, só faltou pedir para exumar o corpo para que fosse cumprir pena na cadeia.

    Claudia Cruz, a "pobre coitada", a "ignorante" ex-jornalista da Globo, que esbanjava dinheiro porque achava que o salário de deputado do marido era infinito.

  • É importante lembrar que o juizeco não aceitou acordo de delação do Cunha . Terá motivos obscuros?

  • Nos celulares do Cunha deveria estar toda a história da tal "solução Temer", com detalhes. Era um risco político extremo, para o golpe de estado disfarçado de impeachment. O veto à apreensão prova que Moro era um agente político central no engendramento do impeachment, e também que comandava as ações importantes do Ministério Público.

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