Descaradamente oportunista, a aparição de Sergio Moro hoje, no Senado para defender o “teto de gastos” excluindo dele o pagamento do auxílio extra aos beneficiários do Bolsa Família (com uma pequena ampliação das famílias atendidas) proposta na famosa PEC dos Precatórios.
Por partes.
Em primeiro lugar, desde que deixou a condição de juiz para ser ministro – e também desde que deixou o cargo, um ano e meio atrás – Moro jamais disse alguma coisa sobre economia ou sobre a situação dramática vivida pelos brasileiros mais pobres. Nada, zero, caluda total sobre uma tragédia que não começou no dia em que ele largou o cargo em dólar de uma multinacional dedicada a cuidar dos esqueletos das empresas que a Lava Jato faliu, jogando centenas de milhares ao desemprego.
Logo, uma aparição cínica e hipócrita, de alguém que nunca parece ter se importado com isso.
Dois: é óbvio que é preciso quebrar o teto de gastos para atender a um programa de emergência social e excluir os precatórios do teto, embora seja uma proposta a ser discutida, não evita o fato de que os gastos públicos, pagando-os, implica um aumento das despesas e, portanto, o rompimento do teto de gastos.
A menos que se considere o teto uma espécie de hímen complacente, que preserva uma virgindade contábil das contas embora o que a ortodoxia considere “pecado” tenha sido praticado, diante de um impulso vital irresistível.
Propor que se atenda com uma manobra pontual o auxílio que o governo propôs como temporário é concordar com a transitoriedade do auxílio. E “pular” o problema de que despesas públicas têm de apontar sua fonte de custeio, a menos que, por serem de emergência apenas, dispensem esta exigência constitucional.
Há mais, porém, Moro diz que é preciso “compaixão” com os pobres. Não, é preciso inclusão, porque a pobreza não tem de ser assistida como fazê-lo fosse uma esmola e sim como a sua integração ao consumo, à educação, , aos serviços públicos.
Não é, por mais meritória que seja a atitude de quem o faz, uma distribuição de “quentinhas”, porque isso se esgota no gesto humanitário, mas não gera políticas públicas de superação da miséria.
Nisso Moro não toca, nem poderia tocar, porque foi o homem que transformou em malditos os investimentos públicos, como se todos eles fossem apenas gazuas para a corrupção.
Nada, porém, o impede de representar o papel de demagogo, a defender políticas que não compreende ou sente em si, mas que fareja como possibilidades de dar-lhe algum verniz da preocupação social que nunca teve e, ao mesmo tempo, de uma austeridade que é impensável a alguém que foi ser diretor de uma empresa que geria as construtoras que ele, como juiz, levou à concordata.