Minutos depois de duas falas dos presidentes da Rússia e Ucrânia, Vladimir Putin e Volodimir Zelenskiy, admitiram o primeiro ponto de acordo – o estabelecimento de corredores humanitários para a saída de civis e entrada de medicamentos e comida nas áreas de combates – e isso ser confirmado no encontro das delegações dos dois países, a porta-voz do presidente Joe Biden correu para dar um briefing com jornalistas para dizer que os EUA vão propor a expulsão da Rússia do Conselho de Segurança da Organizações das Nações Unidas.
Um disparate completo, claro, até porque, pelos estatutos da ONU, a expulsão da Rússia teria de contar com o voto da…Rússia.
Não há nenhuma razão para que se revise a interpretação sempre dada aqui de que a Ucrânia está sendo levada a um quadro de destruição como “bucha de canhão” da mais ousada tentativa de expansão de poder ocidental, com o objetivo já pouco escondido de criar uma crise de poder interno na Rússia.
Há um processo de “saddanização” de Vladimir Putin, desconsiderando que, com todas as limitações, ele chefia um governo eleito. Não é possível que governos e opinião pública ocidental, que se dizem tão chocados com as baixas civis na Ucrânia possam sabotar a ideia de um cessar fogo, ainda que localizado e temporário, para favorecer a evacuação das três frentes de combate: Kiev, Karkiv e a costa sudoeste, onde ficam os territórios separatistas.
A demora em conseguir um cessar-fogo obrigará, até para que a operação russa não seja exibida pelo Ocidente como um “fracasso” rotundo o que, sem paixões, vê-se que é uma contenção dos russos para que não se apresente um cenário de massacre que um ataque maciço de aviação e mísseis resultaria.
Infelizmente, o mundo está incapacitado para tomar a iniciativa de estimular e avalizar este primeiro fiapo de acordo. A Europa está jogando no chão todos os seus ícones antimilitaristas e falta pouco para que, numa imagem invertida no que aconteceu nos anos 70 e 80, manifestações estejam pedindo “mais mísseis” no continente europeu.