MP buscou o poder, achou a servidão

Era para ter escrito mais cedo, mas todos veem que não anda fácil acompanhar o Festival de Besteiras que Assola o País.

É a notícia da Folha de que, para indicar o novo Procurador Geral da República, Jair Bolsonaro exigirá dele a indicação de subprocuradores de pensamento conservador. Ou melhor, gente que se alinhe com o desprezo a direitos humanos, a minorias, ao meio ambiente e onde mais o Ministério Público atue.

Que o ex-capitão pense assim, no seu raciocínio totalitário, nada surpreende. É próprio das mentes incapazes de aceitar a diversidade humana.

Mas é dolorosamente irônico que a adesão ao Ministério Público a um projeto em que pensavam em surgir como os grandes donos da verdade, senhores do que se deve e do que não se deve fazer, árbitros supremos da honra alheia o tenha levado à posição de capacho do presidente da República, montando sua estrutura interna como se fosse uma simples repartição do Planalto.

O mesmo Ministério Público que nos governos petistas – que os promotores elegeram como seu pior inimigo – gozou de completa liberdade de se organizar – e de, inclusive, escalar os monstrinhos de Curitiba para os cargos que ocupam.

No Os Divergentes, Helena Chagas, a quem tantas vezes aplaudo neste blog, acha que Bolsonaro vai se frustrar, porque será impossível “domar” a independência dos procuradores – “é mais fácil hoje que o procurador chefe seja enquadrado por seus chefiados do que o contrário”, diz ela.

Infelizmente, acho que não.

É ser otimista quando à penetração do protonazismo dentro da elite do estado brasileiro e isso não se restringe ao MP, mas inclui a magistratura, a Polícia Federal, a Receita, e boa parte das ditas “carreiras típicas de estado” e as a ele paralelas, como a advocacia.

Salvo honrosas e dignas exceções, a elite brasileira emburreceu e aderiu ao pensamento primário e odiento, no qual o povo – a turba ignara e indolente – é o mal do país, servindo o chicote para fazê-la cumprir suas funções.

Virou questão de casta, onde naturalizou-se para uns o direito natural à fartura e para outros a fatalidade da miséria. Por isso não conseguem mais fazer causa comum nem mesmo na institucionalidade.

Ao contrário da fábula do cão e do lobo, a vida farta fez aceitar a coleira e agora, como a traduziu Lobato, “agradará ao senhor e à sua família, sacudindo a cauda e lambendo a mão de todos.”

Fernando Brito:

View Comments (15)

  • Como tratar dentro da lei os foras-da-lei (MP, PF, Judiciário, FFAA) quando o Estado e as instituições se desmancham?

  • Essa PGR é um caso perdido. Mesmo que Dallagnol e Moro saiam de cena, nada vai mudar. Continuarão agindo como se nada tivesse mudado e, por trás dos panos ou mesmo descaradamente, vão continuar trabalhando para bolsonaro e compactuando com todos os absurdos desse governo.
    Estou perdendo as esperanças, porque mesmo nas ruas as pessoas parecem achar que nada de tão grave está acontecendo, a ponto de terem que tomar alguma atitude.
    O fascismo vai vingar no Brasil e vai durar por muito tempo. Só as próximas gerações é que, depois de muitas tragédias, vão lutar e conseguir recolocar esse país no rumo da civilização.

      • Olha Sérgio, ouso dizer que a razão está com a Emília. O povo brasileiro, em sua maioria, não está nem aí pelo que está se passando no Brasil.

        • "O povo brasileiro" é muito abrangente.
          Nem todos têm o nosso entendimento e coragem.
          Eu ainda acredito nos dois terços que não votaram nesses CANALHAS FDP !

      • Também não sou tão pessimista assim, embora acredite ser preciso que os apoiadores do golpe cheguem ao fundo do poço para darem valor ao que perderam.

  • Assistindo à série Bolívar, dizinham o povo da época não estava preparado para uma república. Acho que até hoje isso não evoluiu.

  • Perfeito o artigo.
    Procuraram o poder, elegeram o inimigo representante do povão, e acabam na sarjeta fazendo o papel de chicote do tirano, vassalados. Tiranetes. Fora das leis era o que se podia esperar.

  • Tenhi a impressão de que duvido de todo o sistema judiciário: nem me sinto seguro de recorrer ao Procon nem ao Juizado de Pequenas Causas, Pjustamente por ume experiência que acabo de passar com o Tribunal Especial-Sp: estão todos dominados,

  • Estamos ou não estamos em plena IDIOCRACIA?
    Não há a menor diferença entre o brasil de hoje e o pesadelo pós apocalíptico de burrice que assolou e devastou o planeta em 2505, segundo o filme de 2006.
    Só que aqui a estupidez total chega quase 500 anos adiantada, graças a esse grupo de tapados,idiotas e mafeitores que tomaram o país com o voto de milhões de estúpidos sem noção.

  • Quiseram tomar o poder; agora estão desmoralizados e vassalos do bozo.
    Sair do cumprimento do que define a lei dá nisso.
    O poder do judiciário é o cumprimento da lei, caso contrário se desmoralizam, e pior, viram bandidos perigosos.

  • Trabalho na receita federal e concordo que o bolsonarismo é muito forte e quase unanimidade nesse órgão. E considero que tão cedo não haverá mudança, pois defendem absolutamente tudo o que o bozo faz.

  • Estava esperando o momento em que iriam resgatar a memória de Stanislaw Ponte Preta!!! Nunca foi tão exato!!!

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