Na maré baixa de Bolsonaro, as sujeiras aparecem

O bom amigo Paulo Henrique Amorim – sua morte completará agora em julho três longos anos – usava a expressão “detrito sólido de maré vazante” para se referir à Veja e tinha toda a razão em entender que era na maré baixa que apareciam, por toda a parte, as sujeiras antes submersas nas águas do poder.

O que está acontecendo com Jair Bolsonaro é algo semelhante: à medida em que seu governo vai sendo drenado da possibilidade de perpetuar-se, mais e mais imundícies vão aparecendo e ele só tem defesa na inacreditável sucessão de absurdos que diz, num vai-e-vem que não para.

Pôs a cara, tirou-a, colocou a mão e agora o corpo inteiro na encrenca em que se meteu o ex-ministro Milton Ribeiro com os pastores espertalhões do MEC e diz que “não tinha o mínimo indício de corrupção” contra ele, apesar dos áudios que, todos os dias, surgem na imprensa.

Prometeu aumento aos policiais federais, não deu, disse de novo que daria e, agora, culpa os demais servidores públicos que iriam “parar o Brasil” e, volta a acenar – à beira das eleições – com uma “dobra” do vale-refeição. Dê ou não dê, desagradou a todos, mais do que se nem tivesse falado em reajustes.

Vocifera contra a política de preços da Petrobras, mas seu indicado para a presidência de empresa nega ter sido orientado a mudá-la e seu ministro das Minas e Energia jura ao Congresso que o governo não pode interferir nos preços.

Bolsonaro insiste nas mesmas cantilena de uma suposta fraude que estaria sendo montada contra ele e ressuscita a ameaça de “apresentar provas” de que teria vencido a eleição em primeiro turno em 2018. É discurso para os fanáticos e não produz efeito.

A campanha de Jair Bolsonaro – se é que se pode chamar assim o seu périplo por eventos evangélicos e solenidades em quartéis – limita-se a tentar reter o que lhe resta para forçar um segundo turno eleitoral e abrir um guerra “de salvação” contra um comunismo que sacode como um espantalho diante dos fanáticos e dos desinformados.

É a cortina de fumaça com que tenta esconder os fracassos e escândalos dos seus três anos e meio de poder, nos quais a vida dos brasileiros só piorou.

Mas a maré está baixando e eles cada vez mais aparecem e, se não convencem a parcela da população que está siderada pelo ódio, também não lhe permitem recuperação.

Fernando Brito:
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