Ontem, antes da revelação pela manchete de O Globo, de que a renúncia de Eduardo Cunha era o resultado de um acordo com Michel Temer, tinha começado a escrever um post dizendo que nada que viesse dos dois merecia credibilidade.
São, afinal, dois personagens que escalaram a política pelo caminho da sombra e, a esta altura, não podem mais fazer nada à luz do dia.
No essencial, são semelhantes e, em muito, siameses.
A ascensão de Cunha, do anonimato à liderança do PMDB e, daí, à presidência da Câmara, deu-se sob as bênçãos de Temer, presidente do PMDB.
A ascensão de Temer, em compensação, foi patrocinada e operada por Eduardo Cunha, aboletado sobre o poleiro sujo do comando da Casa.
Embora, hoje, as curvas dos dois sigam tendências inversas, não desapareceram os liames que os unem.
Cunha, o “foguete” de 2015 – enquanto Temer era o “vice decorativo”, sua autodefinição – está em inevitável queda.
Temer, o novo velho da política brasileira, prepara-se para subir ao pódio presidencial sem ter disputado a prova.
Mas segue o dilema.
Cunha quer que Temer faça por ele; Temer assusta-se com o que Cunha pode fazer com ele.
Engana-se quem acreditar que Temer precisa de Cunha para definir quem presidirá a Câmara, disputa na qual a influência de Cunha tornou-se, na prática, minúscula.
Cunha é o rei morto, Temer, o rei posto.
O que há é um claro – embora jamais verbalizado em público – é um jogo de chantagens e dissimulações, um verdadeiro xadrez, como tem sido a feliz expressão do Luís Nassif.
O tabuleiro sobre a mesa é nada, os pisões, chutes e pontapés abaixo dela são quase tudo.
E o jogo jogado é o da traição. Neste, Temer é um craque e Cunha, mais cedo ou mais tarde, o desafiante.
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Em artigo hoje na Falha de são Paulo , o Jornalista , Jânio de Freitas fala “ Caça ao Tesouro “ referindo se a riqueza de Cunha acumulados visíveis e não acháveis ao longo de 20 anos na política , sem contar quando era pupilo de PC Farias e Garotinho então apenas um amador .
Como bons professores assim e a acumulação precisa de um outro professor parceiro para colocar seu plano de poder em marcha . Já revertida a sua posição no botim , que antes era minoritário passando a ter a parte do leão.
Juntando a sua perspicácia em sintonia empreendedora de empresários brasileiros acostumados a negociar e a ter grandes lobistas na sua contabilidade para resolver problemas diversos junto a governos . Cunha eliminou vários concorrentes em comissões diversas na câmara , as empresas o procuravam ou procuram diretamente .
Aonde está o tesouro de Cunha ? pergunta se . Tirando se uma babinha para esposa e filha com depósitos diretos em suas contas , grande parte do “Tesouro de Cunha “ foi investido em mandatos parlamentares . 150 ou mais deputados receberam ajuda direta das propinas de Cunha. Identifica r e o que fazer com eles ? . Ninguém tocou neste assunto ainda nem mesmo o procurador geral da republica , Rodrigo Janot . Na realidade nem se sabe tocarão , talvez não venha o caso , pois tal comprovação anularia a votação do dia 17 de Abril de 2016 autorizando o andamento do afastamento da presidenta eleita.
O investimento de Cunha mesmo fora do comando da câmara está lá a disposição do professor parceiro , e ainda mais continuarão trabalhando para que ele mantenha o mandato de deputado , pois todos eles sabem inclusive o professor parceiro com quem estão lidando.
Os nossos heróis procuradores jamais farão a conexão ou a investigação das doações de Cunha direta ou via partido vindo das empresas que ele achacava. Não por falta de inteligência . Mas a palavra mais falada entre eles . “ Não vem ao caso “ .
Já tinha pensado bastante sobre isso, claro que o investimento de Cunha mais lógico teria sido na compra de deputados. Mas o Jânio foi genial em ligar este fato a uma suposta "busca do tesouro" de Cunha. Com este título, pode-se propor ao Ministério Público um caminho de investigação seguro e altamente promissor. Só seria necessário agora estabelecer o liame forte entre Cunha e um dos seus "adeptos". Porém, toda essa mina inesgotável de captura de corruptos poderá não interessar mais à justiça, se prevalecer o acordo que dizem que foi feito entre gente do judiciário, a quase totalidade da grande mídia, alguns círculos empresariais e os políticos corruptos que agora estão no poder.
"Engana-se quem acreditar que Temer precisa de Cunha para definir quem presidirá a Câmara, disputa na qual a influência de Cunha tornou-se, na prática, minúscula." Não foi isso que falou Cunha em sua entrevista de renúncia, caro Brito. Cunha ressaltou que a Câmara estava "acéfala", referindo-se à breve interinidade de Maranhão. O que Cunha quis mesmo dizer, e se expressou com clareza, foi que sem o seu comando, sem o comando de Cunha, a Câmara fica e continuará a ficar, acéfala. Ali estava presente, digamos, não uma ameaça, mas uma ponderação. Esta ponderação foi endereçada às forças políticas que querem que Temer tenha governabilidade. Esta governabilidade só seria assegurada, se na eleição para a presidência da Câmara fosse eleito um títere do poder indisfarçável que Cunha exerce e exercerá sobre aquela casa. Se Cunha não fizer o sucessor, hipótese nem de longe aventada pelos partidos de sustentação a Temer, não haverá governabilidade. Isso significa que Cunha, mesmo que seja com um celular de dentro da prisão, como fazem os chefes criminosos comuns, comandará a Câmara dos Deputados.