Não há chance de união para Temer, por Luís Costa Pinto

Imperdível a leitura do artigo do sempre lúcido Luís Costa Pinto, no El País da qual transcrevo o trecho final, onde ele aborda as perspetivas do homem que, meses atrás, começava a cantilena ambiciosa anunciando que se precisava de alguém para “unir o país”. Tudo o que ele não pode pretender ser, agora e nunca mais. Menos ainda com a incômoda e  “dura de matar” companhia de Eduardo Cunha.

Um panorama terrível para o Brasil e olhem que o Lula Costa Pinto nem colocou nele um tempero altamente possível: a pimenta das ruas, cujo grau de ardência habita o campo do imponderável.

Triunfo sem glória, vitória sem heróis

Luís Costa Pinto, no El País (trecho)

Não há chance de o Brasil de 2016 se unir em torno de Michel Temer, o vice-presidente que deve assumir o posto de presidente interino da República nas próximas três ou quatro semanas. Ao contrário de Itamar, o paulista Temer é o centro de uma vasta rede de raposas políticas que compartilham ambições semelhantes, porém cada um deles guarda no bolso direito dos paletós bem cortados fórmulas divergentes para o exercício do poder. Hábil operador político, Michel Temer carpiu a armadilha que capturou a presidente no processo de impeachment. Mas os 146 votos dados contra o impeachment (137 “não”, 7 abstenções e duas ausências) e uma incipiente adesão à tese de antecipação das eleições presidenciais, mesmo entre integrantes do bloco majoritário que aprovou a abertura do processo, são obstáculos sólidos à construção tranquila e rápida de um eventual “Governo Temer”. A chave para o sucesso de Temer certamente será a recusa em buscar a difícil unanimidade em torno de si. Caso a busque, não a encontrará e ficará tentando dialogar com quem lhe imporá monólogos.

A partir de hoje Michel Temer será instado a dar opiniões e a esgrimir soluções para o país nos campos da economia interna, das relações externas e da segurança pública, do combate à corrupção e da saúde, por exemplo. Um eventual governo sob sua liderança, contudo, só se iniciará depois que o Senado confirmar a abertura do processo admitido na Câmara. Para isso terá de transpor duas votações por maioria simples (em que vence quem tem 50% mais um dos votos dos senadores presentes às sessões). Em 1992 o Senado admitiu o processo e afastou Collor num prazo de 48 horas. Agora, serão transcorridos cerca de 20 dias em que o país conviverá com uma presidente virtualmente afastada, um presidente interino virtualmente sagrado e um Senado povoado por biografias astutas e prontuários experientes sedentos por impor seus ritmos e ritos à evolução do calendário – ampliando ou reduzindo o prazo da posse de Temer. Divisões de poder e o desencadeamento de novas e esperadas fases da Operação Lava Jato, além da publicidade de novos e cada vez mais constrangedores detalhes de delações premiadas, também turvarão a cena política das próximas semanas e conferirão pitadas ainda mais dramáticas ao enredo político do Brasil.

Frio, dono de um sorriso cínico e “usufrutuário” de polpudas contas na Suíça, investigado como beneficiário de empresas offshores no Panamá, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e elemento decisivo na escalada que pode levar Temer à cadeira de Dilma no Palácio do Planalto, poderia ser o herói destinado a ter sua saga narrada num obelisco improvável na Praça dos Três Poderes. Não o será: em que pese o Brasil figurar como o único país que ergueu um obelisco para celebrar uma derrota – o do Ibirapuera, em São Paulo, construído para eternizar o levante constitucionalista de 1932 esmagado sem dó por Getúlio Vargas – obeliscos costumam ser planejados para marcar triunfos gloriosos. Nem Cunha é herói, uma vez que possui o DNA dos vilões e o olhar frio dos psicopatas, nem o triunfo da oposição sobre um governo abúlico, no último domingo, foi um épico glorioso. A Nação que assistiu serem dados 367 votos a favor da abertura do processo de impeachment de uma presidente eleita com mais de 54 milhões de sufrágios há menos de 18 meses está dividida e sem perspectiva de se unir. Está sem líderes no horizonte, sem projetos que amalgamem a sociedade, carente de base onde assentar a pedra fundamental de qualquer monumento. E construir futuros é um desafio monumental. Temer tem contra si, agora, a marcha implacável do tempo para evitar que a História, ao fim e ao cabo, termine escrita pelos vencidos na batalha de 17 de abril. Afinal, a guerra não acabou ali.

Fernando Brito:

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  • Não é só o obelisco de São Paulo erigido em nome de uma fragorosa derrota. No Rio de Janeiro, na Praia Vermelha, há um monumento espetacular lembrando a Retirada da Laguna, episódio da Guerra do Paraguai. Ali, estátuas impressionam em torno de uma terrível batalha perdida.

  • O que eles querem é conseguir chegar ao governo até às Olimpíadas, para estufar o peito e dizer que é obra deles. Daí com a ¨plim-plim¨ dando uma força, é só dar aquele sorrisinho de canto de boca e posar para a foto e vídeo.

    • Bel o que temos a fazer é impedir
      que as Olimpíadas aconteçam aqui.
      É fácil...
      É só irmos para as ruas todos os dias
      demonstrando nossa insatisfação que o
      Comitê cancela o evento no Brasil, por falta
      de estabilidade política.

  • Discordo do "sem líderes no horizonte". Lula é o nosso maior líder e tem grandeza em todos os sentidos de sua reconhecida liderança.

  • Mas não disseram que Cunha seria preso segunda à tarde? Já foi preso?

  • Coruja é símbolo da Sabedoria na cultura chinesa. Impressionante ! Ao tempo em que a vida faz abrir o mapa do infeno do lado de dentro, a Sabedoria voa alto do lado de fora.

  • Me envergonho de ser brasileiro e viver num pais onde congresso e judiciário repletos de bandidos.

  • Sem contar que ficarão infelizes PP, PRB e PSD quando perceberem que os grandes nacos ficarão com PSDB, DEM, PPS

  • Muitas vezes piratas conseguiam tomar um grande navio cheio de riquezas e eles acabavam se matando entre si na divisão do butim. temer não é nada, não tem liderança nenhuma. Vai ficar nas mãos de gente como cunha, da mídia e seus paus mandados do psdb e da justiça.

  • Com Dilma sendo afastada, Temer terá 3, 4 meses de lua de mel com o mercado e para acenar positivamente no lado social.
    Se der sinais sólidos de governabilidade, coalisão e encaminhar o Brasil para uma agenda positiva, não há a menor chance à Dilma no Senado/STF.
    Tudo o que Dilma e PT desejam, agora, é que Temer seja tão ruim ou pior que ela foi nesse período de afastamento.

    • Ahahah acenar positivamente no lado social! Ele já acenou, desinformado: "Sacrifícios amargos". Se você soubesse do que se trata o plano dos golpistas, não teria escrito esta bobagem.

      • Eu li a Ponte para o Futuro. E gostei do que li.
        Não é para ser lida como um passo a passo rígido a ser implantado em curto período de tempo, deve ser lida como um norte que levará a um Brasil melhor.
        Sacrifícios haverão, no curto prazo, mas os programas sociais não estão nessa lista (Bolsa, MCMV, FIES, etc...)

        • Se liga Bruno, a bolsa caiu hoje, o dólar subiu, quando devia ser o contrário depois de ontem.
          Investidores internacionais dizem que não vão investir num governo Temer pela insegurança , justamente pela possível crise social e caos que trará e se hoje já é pior avaliado que o governo Dilma, imagine depois (com sacrifícios, sei).

        • Bruno você está imaginando que a economia vai bombar para os pequenos/médios empresários, porque o salário dos empregados vai encolher. Não se esqueça que se o salário do pobre encolher ele para de comprar muitas coisas, aí o mercado encolhe. Com o encolhimento, os pátios das fábricas de automóveis ficam lotados, aí elas fecham as fábricas e se deslocam para os mercados mais rentáveis. mais empregos desaparecem. Menos dinheiro no mercado, mais desemprego em seguida e assim por diante...Voltaremos a andar em carroças...
          Se torrarem as reservas com besteiras, logo logo virá o FMI para nos "ajudar" que nem na piada do cachorrinho...
          Quem está escrevendo estas linhas gosta também de mortadela e vota no PT, mas aprecia também um bom vinho chileno com camembert francês...
          Ah, detalhe, não precisa de governo para viver, mas não pretende ser assaltado em tudo o que é cruzamento de nossas cidades. A felicidade deve ser para todo mundo se não dá merda!

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