O vice-presidente Hamílton Mourão disse que Eduardo Pazuello deve ser punido e usou para isso uma expressão reveladora: “ele colocou a cabeça no cutelo”.
Neste caso, ofereceu-se ao sacrifício da decapitação em nome de algo e de alguém.
Era e é o objetivo do gesto que recebeu no domingo, como antes recebeu a convocação para ser o algoz de milhares de brasileiro, sustentando o discurso “vá para a rua, que a cloroquina te salvará” e retardando o quanto pôde a vacina: “para que tanta pressa. para que tanta angústia?”
Vai ter a defesa do presidente, seja ela ativa ou passiva, com lamentos sobre a perseguição dos seus, até no Exército.
De um outro Exército, que não é o “seu”, no qual Pazuello está alistado e onde recebe o galardão de “general de quatro caveiras”, publicamente concedida ontem, perante suas legiões ensandecidas.
Ao convocar o general para o ato de ontem, Bolsonaro dá mais um passo na subversão da ordem hierárquica das Forças Armadas, como já fizeram antes com a designação do “general para toda obra” Braga Netto.
Os generais da reserva que sobram no Palácio do Planalto são cúmplices desta subversão, e não só agora.
Aceitaram a aventura quando se tratou de ocupar, manu militari, o Ministério da Saúde, mais uma “colina” na sua guerra silenciosa para abocanhar a administração civil do país. Isolaram e deixaram desgastar-se os comandos ativos que se opunham a colocação de um militar da ativa à testa do que era – e ainda é – o principal órgão da República em tempos de pandemia.
Destruíram-no e agora o devolvem, em frangalhos, a um civil manietado até na escola dos auxiliares técnicos de que precisam.
O “cutelo” para Pazuello é leve e sem corte. Os que puseram sua cabeça lá sabem disso e conseguem, a baixo custo, um símbolo para a subversão das cadeias hierárquicas.
Os Bolsonaro, que sonhavam submeter o Supremo com “um um jipe, um cabo e um soldado” estão perto de submeter as Forças Armadas com uma general de três estrelas e um bando de motoqueiros senis.