Na escola primária, ainda, ouvi perplexo os versos de Castro Alves à bandeira – ainda a Imperial – com aquele lamento do “antes te houvessem roto na batalha/ Que servires a um povo de mortalha!”. As palavras eram complicadas para o menino, mas a ideia, não.
Valheu-lhe para, durante toda uma vida, entender que povo e pátria são uma só ideia e que a bandeira brasileira será o “manto impuro de bacante fria” quando não abrigar e acolher seu povo.
Pois mais de meio século depois, é no poeta que eu penso, vendo o auriverde pendão da minha terra ser tripudiado, na praça-centro do país, servindo de estandarte do ódio, das armas, da violência, da escuridão, do obscurantismo e da morte.
Sim, da morte que deveria enlutar o país, pelos 580 mil que se foram, certamente por serem “fracos, maricas”, o que a vergonha humana que no governo se instala é a maior razão dos óbitos, o medo. Como aos negros na travessia, “,que morram alguns, e daí?”
E o sentimento que vem, angustiado, é de que a bandeira brasileira foi sequestrada, usurpada por uma gente má, que há muitos anos escondia-se nas frestas da Nação e agora, como ratos, invadem a nossa capital.
Gente que tem tudo – picapes de luxo, caminhões possantes, motos que urram – mas que não se satisfaz senão com a escravidão dos trabalhadores e a procuração de Deus que afirmam ter para lançar-nos ao inferno da intolerância.
Querem fuzis e fome, pistolas e doença, são patriotas de bandeira americana, com o paraíso em Miami e a polícia como lei. Os chapelões com que desfilam protegem o vazio de suas mentes.
Passou da hora de análises políticas, passou da hora de manifestos e abaixo assinados.
A pátria-mãe, gentil, está nas mãos dos brutos.
Retirá-la deles é um dever. Rejeitar a ditadura, como recusar a escravidão, não é ser de direita ou de esquerda, é escolher a civilização e a barbárie.
O grito deste Sete de Setembro não é o da independência. é o da selvageria e ao capitão deste navio negreiro em que querem nos tornar, atiraremos ao mar pelo voto.