O povo escreve a história com as suas próprias pernas. As lideranças, quando surgem, são apenas a expressão visível da vontade popular. O tempo em que mudanças profundas ocorrem não é, necessariamente, o tempo que nos é dado viver. Retrocessos e avanços estão continuamente sendo produzidos em cada pedaço de chão do planeta. E antes de termos nascido e depois que viermos a morrer, fatos memoráveis aconteceram e acontecerão em muitas e imprevisíveis direções.
Sei pouco, mas o pouco que sei basta para compreender que quando as pessoas que comandam as instituições de um país e que deveriam garantir a estabilidade social, econômica e política, se dedicam a usá-las unicamente em benefício próprio e de grupos, para subjugar ainda mais quem pouco tem, estão assinando a sua própria sentença, pondo a própria cabeça a prêmio. Com sorte, morrerão antes. Mas pode ser que ainda em vida compartilhem situações ocorridas em países muito próximos e outros mais distantes, onde poderosos acabaram presos e até mesmo condenados à prisão perpétua (como aconteceu na América Latina), sem falar naqueles que levaram ex-dirigentes à pena de morte. Não estou dizendo que isso acontecerá no Brasil (que não tem pena de morte, a não ser para pretos e pobres, executados neste país todos os dias). Faço apenas o registro que já aconteceu, em vários países. Mas é próprio de quem tem o poder, achar que nunca corre riscos.
No entanto, quanto mais poderoso alguém se sente, a ponto de fazer escárnio da maioria da população, como agora assistimos cotidianamente com parlamentares, juízes, procuradores, empresários e tantos outros que tripudiam sobre a desgraça de quem quase nada ou pouco tem, mais encorajam a revolta de quem tem sede de justiça. E desta vez, porque queimaram as pontes e destruíram os pactos, a alternativa de reconstrução pode não ser pela via da conciliação, como outrora aconteceu, em tantos momentos da história do país, desde a Independência, anunciada por um nobre português (ora pois!), passando pela Proclamação da República, redemocratização, anistia a torturadores e tantos outros episódios em que o povo, ou não participou ou não foi ouvido.
Mas, embora encobertas pela história oficial, não faltam revoltas e movimentos de insurreição, como as guerras de Canudos, do Contestado, a Sabinada, a Balaiada, a Revolta da Chibata, Insurreição Pernambucana, Revolução Farroupilha e segue uma lista que não é pequena.
Apesar de todas essas e outras insurgências que desafiaram os poderes estabelecidos, é fato que temos uma história marcada por (falsos) consensos, geralmente à revelia do povo, negociada pelos donos do “andar de cima”. Entre a paz e a convulsão social, difícil prever desdobramentos. Cada povo constrói a sua história. Mas nada garante que essa “paz” – tantas vezes sangrenta – seja eternamente duradoura. Melhor não abusar.
Por isso, quem hoje ri, pode chorar. Quem é herói, pode virar vilão. A história caminha por vias tortas e instáveis. Quem pensa que pisa chão firme, esquece que o fundo da terra é feito de lava incandescente, sempre prestes a explodir. Em pouco tempo, sociedades podem dar vazão a forças incontroláveis. Às vezes, cortando cabeças de reis e rainhas, nobres e plebeus, aqui e acolá. Ou levando países a guerras civis e outras experiências traumáticas, com manifestações de ódio. Onde havia paz e serenidade, pode sobrevir hostilidade e pânico. Do céu ao inferno, é mais perto do que muitos imaginam.
Abrir os livros de História é mergulhar, não raro, em períodos de grandes horrores. Já seria o suficiente para ninguém abusar da paciência de quem é continuamente violentado em seus direitos. Muito menos subestimar o destemor e a coragem, como já nos ensinou há 2.500 o general Sun Tzu (A Arte da Guerra) do inimigo a quem não é oferecida uma saída, porque nessa situação, “ele lutará até a morte” com uma bravura e uma potência que talvez nem soubesse de que é capaz.
E os donos do golpe simplesmente não oferecem nenhuma saída à população que não seja a de abrir mão de direitos, caminhar rumo à miséria e viver oprimida. Num país rico e desigual, os golpistas empurram o povo para um lugar onde a resposta mais justa e previsível é o uso da violência contra quem o violenta. Apostar continuamente na apatia de quem assiste, com fome de justiça, ao banquete dos poderosos, é uma aposta arriscada demais para um país que dispõe de tantos recursos para distribuir melhor a renda e evitar o caos.
Celso Vicenzi é jornalista, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Cataria e escreve em seu blog.
View Comments (25)
Tudo certo no na premissa da existência de um Povo.
Mas onde só existe uma população que às vezes é chamada de povo, fica difícil de creditar.
MTST com Boulos e MST com Stédile: Luta de mais de vinte anos para o MST ainda é demonizada na mídia nativa e ignorada pelos blogs sujos, infelizmente ..
Vale e reflexão sobre as raízes do viralatismo brasileiro em obra a ser ainda escrita : ...
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/05/o-problema-nao-e-o-brasil-e-voce.html
MTST com o incansável e valoroso Boulos sempre na Luta agindo e sem tempo pra perder.
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/08/mtst-protesta-na-residencia-de-deputados-que-votaram-para-salvar-temer-de-ser-investigado
Isto se a gente fosse um povo.
Se você não se considera povo vc é o quê ? Por favor Leia o link anterior onde encontrarás tua resposta (sobre viralatas que de maneira esquizofrênica estão alheios a si mesmo). Ou vc é um robô ? Claro, se assim for vc verá que o texto do link discorre exatamente sobre essa narrativa criada para robôs que continuam a se reproduzir eternamente.
Aqui está PEDRO HOLANDA; Leia com atenção ...
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/05/o-problema-nao-e-o-brasil-e-voce.html
Um dia depois de reunião secreta de Dodge com Temer, PGR reabre caso antigo contra Lula
Escrito por Miguel do Rosário
Um dia depois da subprocuradora-geral da república, Raquel Dodge, reunir-se secretamente, à noite, no Palácio do Jaburu, com aquele que a escolheu, Michel Temer, a Câmara de Combate à Corrupção da Procuradoria Geral da República (PGR) decide desarquivar um caso antigo contra Lula. O caso foi investigado exaustivamente e jamais se encontrou qualquer prova. Tanto que foi arquivado. E agora ele é desarquivado, como forma de fustigar Lula, líder nas pesquisas, e desviar a atenção popular do escândalo envolvendo Michel Temer, cujo assessor foi flagrado com uma mala de 500 mil reais. É o primeiro movimento daquela que será a […]
(...)
FONTE [LÍMPIDA!]: blog 'O Cafezinho'
]
NA HORRENDA & TÉTRICA FOTOGRAFIA ACIMA
http://www.ocafezinho.com/wp-content/uploads/2017/08/933expresso-1-compressed.jpg
Contextualizar a historia: como o empresariado brasileiro e estrangeiro participou da ditadura para compreender como o golpe de 2016 é a sequência natural desse apoio.
https://youtu.be/r-63QX3FtyU
TOLEDO: DODGE AJUDOU TEMER A PARECER MAIS FORTE E RESILIENTE
"Ao submeter-se ao cenário montado pela Turma do Pudim, a futura procuradora-geral fez a alegria dos teóricos da conspiração", afirma o colunista, para quem a "Operação da Turma do Pudim para desacreditar a Procuradoria Geral da República e salvar Temer está sendo um sucesso"
10 DE AGOSTO DE 2017
O jornalista José Roberto de Toledo avalia que, com o encontro fora da agenda que teve com Michel Temer na calada da noite no Palácio do Jaburu, a nova procuradora-geral da República, "na melhor das hipóteses, ajudou Temer a parecer mais forte e resiliente" (
(...)
FONTE: https://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/311066/Toledo-Dodge-ajudou-Temer-a-parecer-mais-forte-e-resiliente.htm
Verdade Messias, mas verdade mesmo é que o povo não é bobo. Lembra da Diva Guimarães ? É só escuta-la de novo para ver que aos seis anos de idade ela ja tinha entendido o papo furado dos "missionários" e até Deus lhe parecia um ator bem pouco confiável. Se uma criança de 6 anos entende isso tudo podemos crer que os Lulas são milhões e milhões. Não haverá ovos suficientes nem tomates podres para armar tantas mãos e mentes conscientes. À luta !!!
Marcondes de Oliveira: comentário perfeito que foge às conclusões falsas e restritivas do preconceito dos viralatas do cotidiano. Essa visão limitada pela falta de leitura dos mais básicos e primários livros sobre a historia passada e presente desse país gigante ... rsrsr
* das conclusões ...
Das revoltas listadas pelo autor do texto, algumas não são populares. Farrapos foi organizada por estancieiros. Outras foram populares, mas muito restritas localmente e de participantes. As duas únicas de volume foram canudos e contestado. Em ambos os casos, o Estado castigou covardemente os revoltosos. Esse é o tratamento do Estado brasileiro (ou colonial) com os pobres quando esses se revoltam. Quando a revolta é por cima, há sempre um acordo. Não seria diferente desta vez, caso os pobres se revoltem. Seriam fortemente reprimidos e taxados de terroristas bolivarianos.
Nessa terra abençoada por Deus e comandada pelo demo, quem faz agitação política é a elite e a classe média. Ambas são cúmplices da pouca vergonha que se instalou no Brasil.
Por essas razões muito bem ilustradas no seu post o MST, com 20 anos de luta, continua sendo sistematicamente assassinado e nem sequer aparece no texto apesar de terem tido muitas conquistas. O mesmo para tantos outros movimentos sociais de base: as mulheres feministas e negras tb lideram a ação política de mais peso na contemporaneidade mas sem muito apoio ou visibilidade. Claro, a esquerda progressista se mostra como sempre completamente colonizada pela direita reacionária, conservadora e assassina. Hoje, contudo, esses horrores estão sendo desnudados. Só nos resta: ou luta ou escravidão e barbárie para todos não alinhados aos 1% ...
É por aí que vejo!!
Concordo Alcides. Este texto, além de ter a maior concentração de lugares comum por parágrafo já lido, é de um otimismo polianesco. Será que devemos esperar que os anjos digam amém e aí a história se autentica? Será que o autor se esqueceu que quem conta a história são os vencedores? Não fosse assim viveríamos num mundo menos imperfeito.
Bom relembrar a historia de roma, naquela parte do grande incêndio...
Restarão só escombros, mas nos reconstruiremos o país sem os parasitas.
Boa tarde,
Já fui mais direto que o texto em tempos anteriores a esses! Disse que aqui só uma revolução francesa... Riram de mim, agora querem, eu aceito se quinzi for meu junto com o mineirinho!