Nada mais doloroso que ver o partido de Leonel Brizola, ao qual pertenci por 30 anos, ser a força política que deu a Jair Bolsonaro o apoio que ele, de outra maneira, não teria para jogar nas costas do próximo governo uma dívida de bilhões.
Sem os 15 de deputados do PDT, a PEC dos precatórios teria 297 votos e ficaria longe dos 308 necessários à sua aprovação, já às duas horas da manhã.
O pior é que não foram “traições” que, uma ou outra, sempre podem acontecer em partidos, heterogêneos como nossa legislação os permite ser. Acontece e estão aí os dois votos do Partido Democrata que impedem a aprovação do projeto de Joe Biden facilitando o acesso dos norte-americanos mais pobres a saúde e educação.
Foi um acordo formal da liderança e, portanto, da direção partidária, sob o argumento pífio de que haveria uma prioridade – e nem tanta – com a transferência de recursos dos precatórios (adiados) para os professores. Ora, isso não resiste a um peteleco, pois, se pagos, nada impediria que os recurso fossem destinados aos professores, o que aliás já está previsto nas leis relativas ao Fundef, hoje substituído pelo Fundeb.
E o placar apertadíssimo mostra o quanto valeu a adesão dos dirigentes pedetistas.
Há, portanto, “batata nesta chaleira”, diria o meu velho líder Leonel Brizola, se estivesse aqui e não distante e sem meios para manter seu partido na rota da decência.
Tem toda a razão o deputado Paulo Ramos, em dizer que foi “uma vergonha” e que quer ver como isso vai ser defendido pelo candidato pedetista (pós-Brizola) Ciro Gomes nos palanques. E foi um consolo ver pedetistas históricos, como Pompeo de Mattos votarem contra a orientação de um comando partidário que, embora fale muito em Leonel Brizola, não pratica seus princípios de honra e lealdade.
Como também será consolador estar, daqui a pouco, em São Paulo, para assistir à filiação de um dos netos de Brizola que não transige com o dever de estar ao lado de quem representa a esperança do povo brasileiro em livrar-se deste governo nefasto.
Leonel Brizola Neto, ex-vereador carioca, que deixou o Psol, filia-se ao PT, na sede nacional do partido, para estar, como sempre fez, ao lado do povo brasileiro. É, para quem acompanhou por mais de 20 anos o dia a dia do velho líder, um afago ver que seu nome estará inscrito entre os que travarão a batalha pelo Brasil, já que as duas siglas a que dedicou a sua vida – o PTB e o PDT – foram postas a serviço dos inimigos do povo trabalhador.