Nassif: Jornalista pode ter sido humilhada a pedido de Barbosa

O blogueiro e jornalista Luis Nassif aventa a hipótese de que a prisão da jornalista do Estadão tenha acontecido por pedido do próprio presidente do STF, Joaquim Barbosa. Repórter do mesmo jornal já foi alvo de descontrole emocional do ministro, que o ofendeu dizendo que ele “chafurdava no lixo”. Nassif explica os indícios que o fizeram acreditar na participação de Barbosa.

Jornalista pode ter sido detida a pedido de Joaquim Barbosa

sab, 28/09/2013 – 08:15

Do Jornal GGN – Pelo relato da correspondente do Estadão, Cláudia Trevisan – que foi detida e algemada pela polícia, ao tentar assistir a uma palestra do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa na Universidade de Yale – a maior suspeita sobre o causador do episódio recai sobre o próprio Barbosa.

A correspondente entrou normalmente em Yale, circulou pelos corredores em que circulam alunos, professores e visitantes.

Ao pedir informações a um policial, foi detida. E as declarações do policial deixam as pistas sobre a origem das denúncias contra a correspondente (http://glurl.co/csC):

“Foi o único momento em que me alterei. Disse que ele não podia fazer isso. Ele respondeu que sim e teve seu êxtase autoritário: we know who you are, you are a reporter (você sabe quem você é, você é uma repórter). Que crime!!!! We have your picture, you were told several times you could not come (Nós temos sua foto, você foi avisada várias vezes que não podia vir)”.

A troco de quê a policia de Yale teria uma foto da correspondente? Foram avisados por quem, se a única pessoa que sabia de sua ida à Universidade era o próprio Joaquim Barbosa?

Mais. Segundo o relato:

“Fui algemada enquanto ele dizia “you know why you are being arrested, no?” (você sabe porque está sendo presa, não?). Ao que eu dizia que não. “You were told several times you could not come here” (Você foi avisada diversas vezes que não poderia vir aqui). Ao que eu repetia que não”.

Ora, pelo relato, a única pessoa que sabia da ida de Trevisan ao evento era o próprio Joaquim Barbosa. Segundo a materia do Estadão

“Ela também havia conversado previamente, por telefone celular, com o próprio ministro Barbosa, a quem solicitou uma entrevista. Barbosa disse que não estava disposto a falar com a imprensa. Claudia, então, informou o presidente do STF que o aguardaria e o abordaria do lado de fora do prédio” (http://glurl.co/csA).

‘Não entrei escondido nem forcei a entrada’

Leia a íntegra do relato da correspondente do ‘Estado’ em Washington, Cláudia Trevisan, enviado ao embaixador Cézar Amaral, cônsul-geral do Brasil em Hartford (EUA)
27 de setembro de 2013 | 19h 04

Cláudia Trevisan – correspondente do Estado em Washington

Caro Cézar, obrigada por sua preocupação e empenho no caso. A história começou na manhã de esta quinta-feira, 26, quando o jornal decidiu que eu deveria tentar falar com o ministro Joaquim Barbosa na Faculdade de Direito de Yale. Ele participava lá de um evento chamado “Global Constitutionalism Seminar 2013”.

Liguei para a diretora de Comunicações da Faculdade de Direito, Janet Conroy, e perguntei se poderia ter acesso ao evento. A resposta foi que não. Segundo ela, o evento era fechado e eu não poderia entrar no prédio. Eu disse que iria mesmo assim e esperaria o ministro na calçada.

Cheguei a New Haven por volta das 14h30 e fui para a Faculdade de Direito. Quando entrei, me dirigi à segurança que estava na portaria e perguntei onde estava sendo realizado o evento. Meu objetivo era ter certeza do local para poder esperar o ministro do lado de fora. Ela disse que não tinha informação sobre o seminário no website da faculdade e sugeriu que eu olhasse nas salas do corredor principal do prédio. Não pediu minha identificação nem impediu que eu entrasse. Pelo contrário.

Portanto, I did not sneaked or broke in (Eu não entrei escondido nem forcei a entrada). Eu andei pelos corredores, olhei pelos vidros dentro das salas, subi dois andares, comprei uma água na cafeteria, sentei no pátio interno e conclui que o seminário não estava ocorrendo naquele edifício.

Sai de lá e fui ao Wooley Hall, uma sala de concertos da Faculdade de Direito onde seriam realizados os eventos de hoje do seminário. As portas do lugar ficam abertas e a entrada é livre. Muitas pessoas usam o hall como atalho entre uma praça e a rua que fica do outro lado. Não havia ninguém para pedir informações na entrada.

Subi as escadas e me dirigi a um policial. Perguntei se o evento estava sendo realizado ali. Ele não respondeu e pediu que eu o acompanhasse, o que fiz sem protestar ou resistir. No andar de baixo, ele começou a me fazer perguntas. Eu não disse que era jornalista, mas falei que estava em busca do ministro Joaquim Barbosa e que pretendia esperá-lo do lado de fora. Informei meu endereço, telefone e voluntariamente entreguei meu passaporte quando ele pediu uma identificação. Quando estávamos já do lado de fora do prédio, pedi meu passaporte de volta e ele se recusou a entregá-lo.

Foi o único momento em que me alterei. Disse que ele não podia fazer isso. Ele respondeu que sim e teve seu êxtase autoritário: we know who you are, you are a reporter (você sabe quem você é, você é uma repórter). Que crime!!!! We have your picture, you were told several times you could not come (Nós temos sua foto, você foi avisada várias vezes que não podia vir). Ao que respondi que sim, era uma repórter, mas não havia sido alertada several times (muitas vezes) de que não poderia estar ali. Ao que ele respondeu que eu seria presa por “criminal trespassing” (invasão criminosa).

Duas policiais chegaram e ficaram me vigiando. Nesse momento, consegui ligar para o Benoni na Embaixada de Washington e avisar que seria presa. Logo depois, o mesmo policial, DeJesus, voltou, ordenou que eu ficasse em pé de costas para ele e colocasse minhas mãos para trás. Fui algemada enquanto ele dizia “you know why you are being arrested, no?” (você sabe porque está sendo presa, não?). Ao que eu dizia que não. “You were told several times you could not come here” (Você foi avisada diversas vezes que não poderia vir aqui). Ao que eu repetia que não.

Isso ocorreu por volta das 16h15. Em nenhum momento me disseram o “Miranda Rights” (leitura obrigatória dos direitos). Fui colocada em um carro de polícia e esperei por cerca de uma hora. Nesse período, apareceu uma pessoa ligada ao dean (“diretor”) da Faculdade de Direito, que falou com o policial rapidamente. Ele me viu no carro, mas não se interessou por saber minha versão dos fatos (quando estudei Direito, aprendemos a desconfiar de relatos policiais e a valorizar o contraditório).

Por volta das 17h15 fui transferida para um camburão e levada ao distrito policial. Pedi para dar um telefonema, mas não permitiram. Disseram que eu teria que ser “processed first”, o popular fichada. Fui revistada por uma policial e colocada em uma cela, dessas que vemos em filmes americanos. Havia um vaso sanitário e um policial fornecia papel higiênico pela grade. Não havia nenhum privacidade e tinha que “ir ao banheiro” com policiais passando pelo corredor. Fiquei cerca de 3h30 na cela. No total, permaneci quase cinco horas incomunicável. Só pude dar meu primeiro telefone às 21h20, pouco antes de ser solta.

A grande questão é por que fui presa se obedeci ao policial, não ofereci resistência e pretendia sair do prédio. Ao que eu saiba, ser jornalista não é crime tipificado pela legislação americana.

Fernando Brito:

View Comments (74)

  • Acho ótimo saber, com certeza, que por trás dessas violência está Joaquim Barbosa. Por vários motivos: por ele prosseguir mostrando a cara para a imprensa PIG, demonstrando não gostar de democracia, e para que o povo sinta quem realmente é esse homem cheio de moral que aponta o dedo a todo momento pra quem ele bem entende merecedor de suas humlhações. Adorei!
    Continue assim Joaquim Barbosa.

    • É por isso que o Partido Militar Brasileiro quer que ele saia como candidato. Devia aproveitar e chamar o Bolsonaro para vice...

      • E o "jornalista" da in-Veja Carlos Augusto Ramos (vulgo: Carlinhos Cachoeira) para a Secretaria de Comunicação...

  • Interessante a jornalista dizer que aprendeu no curso de Direito a valorizar o contraditório, quando ela e a vítima. Na cobertura do chamado mensalão a empresa para qual ela trabalha a versão equivale a verdade inquestionável. Seria interessante que nas reportagens que ela venha a fazer depois desse fato o contraditório esteja sempre presente.

    • Roberto Civita declarou numa reportagem em 2007 que não precisava respeitar o contraditório - bastava que as pessoas soubessem de antemão a linha editorial das suas publicações. Certamente, essa repórter jamais poderia ir trabalhar na Abril :)

    • É o que respondi, Marina!! Pau que dá em Chico, dá em Francisco!! Esse é o caso típico!!

    • exato!!!! bom para o Estadao da extrema-direita PRO-STATES!!!

  • Nao publica mais essa foto nao, o Miguel. Nao sei porque fiquei com medo!

  • Quero ver OESP cobrar esta prisão de seu barbosa. Bateram palmas enquanto os réus do "mensalão foram barbarizados pelos PGR e STF.

  • ANTONIO CARLOS TEIXEIRA, A repórter foi presa nos EUA, o bastião da Democracia. Se fosse no Brasil, sabes muito bem o que aconteceria. E, enquanto ao ESSE É O NOSSO BRASIL, o país não tem culpa de ter o povo que tem. O BRASIL é um país rico, possui todas as condições para que o povo viva bem. Mas é histórica a exploração que este país teve e tem. Portugal só mandava criminosos para cá, depois foi dividido como uma pizza, teve a escravatura (exploração do homem pelo homem), os estrangeiros mortos de fome que vieram em navios negreiros, portugueses, espanhóis, italianos, japoneses, etc. Só poderia dar nisso, gente podre moralmente, exploradora, que não se manifesta quando há mortandade pela fome, etc. etc. É, meu caro, é o povo, eu, tu ele, nós, que destruímos este país, que tantos estrangeiros querem.

  • Se ele faz isso com uma repórter do Estadão ("mídia amiga"), o que não faria com a mídia independente se chegasse à presidência da república? Vade retro!

  • E viva a Liberdade de Expressão. Talvez a cubana Iohane sanches explique melhor, tal ato de perseguição a jornalistas nos EUA.

  • Xaparral, pelo seu tipo de comentário, vc está mais pra chapadão. O que vc andou tomando para escrever tamanhas sandices !!!???

  • O fato torna ainda mais apropriado o discurso da Presidente Dilma na ONU cobrando do Governo americano respeito aos direitos humanos e espero que o ministro joaquim também vista a carapuça