Nirlando Beirão: Kamel tornou jornalismo da Globo recheio insosso entre novelas

A queda dos índices de audiência do jornalismo de Globo salta aos olhos, mesmo antes que o institudo alemão GfK, contratado por suas concorrentes para medir a audiência das tevês ponha fim ao monopólio dos números do Ibope, parceiro global de longa data nesta atividade, à base da qual se fixam as tabelas de publicidade nas emissoras.

A maior máquina de jornalismo, com muitos dos melhores profissionais do país e recursos quase infindáveis de trabalho, em poucos anos, uma decadência visível a todos.

É verdade que o processo de enfraquecimento do Jornal Nacional, carro-chefe do jornalismo da emissora vem de antes.

O programa onde o que não aparecia “não tinha acontecido” chegou à virada do século com perto de 40 pontos de audiência, na média.

Hoje, mal se sustenta numa média de 25 e há dias em que chegou a apenas 18 pontos.

Será que se pode dizer que foram a internet e a tevê a cabo que fizeram minguar tanto o JN?

Um parte, sim.

Mas não tudo. E a pista para demonstrá-lo está no próprio “perfil comercial” com que a Globo descreve a audiência do Jornal Nacional:

“Em São Paulo, 75% dos telespectadores do Jornal Nacional são das classes ABC; no Rio de Janeiro, 69%; e no Distrito Federal, 70%.”

Ou seja, os grupos sociais que têm acesso a internet e tevê a cabo seguem fortemente majoritários.

As novelas também perderam, mas muito menos.

E Nirlando Beirão, cobra criada do jornalismo aponta, na CartaCapital: não adianta dizer que a queda do JN é resultado de novelas mais fracas em público.

Talvez, quem sabe, o público tenha se cansado de lhe dizerem, todos os dias, há dez anos, que o Brasil vai mal e ficará pior ainda.

Sanduíche à moda da Globo

Nirlando Beirão

Sempre revolucionário – sem mencionar outros atributos seus, como a blindada imparcialidade, o apartidarismo irrestrito e o compromisso em defender os interesses da nação, e não os do casa –, o jornalismo da Globo inverteu a lógica do sanduíche, segundo a qual o recheio deve ser mais saboroso do que as peças que o contêm.

O Jornal Nacional, sob a expertise do chef Ali Kamel, decretou, voluntariamente ou não, outro método de degustação. As novelas das 7 e das 9 é que falam hoje ao apetite – peculiar que seja esse apetite – do telespectador. O JN virou apenas um entremet muito do insosso entre um melodrama e outro.

O Ibope, a quem não se pode atribuir propósito de prejudicar a Globo, indica que a plateia do JN minguou em 30% nos últimos dez anos. Na esteira do show produzido em conjunto pela Globo e pelo Supremo Tribunal, o carro-chefe do jornalismo platinado mergulhou recentemente em inéditos 18 pontos de audiência. Um recorde.

Em prol dos imperativos comerciais (a publicidade brasileira é a última adepta do JN), o jornalismo da Globo inverte mais uma vez a realidade e tenta atribuir às novelas – a que a precede e a que a sucede – a culpa pelo desastre de público. Mas está na cara que, dos vilões que o JN operosamente fabrica, nenhum tem a mesma graça perversa, por exemplo, daquele Félix de Amor à Vida.

Haverá quem queira tributar os tropeços do JN a detalhes menores como, digamos, a credibilidade. Bobagem: credibilidade nunca foi o forte da Globo, mesmo antes do Ali Kamel.

 

Fernando Brito:

View Comments (8)

  • Esta matéria aí é um presente a todos os Brasileiros.
    E principalmente aos Blogs Imundos, Sujos, Sujissímos,
    um feliz Natal...
    O Papai Noel da Globo tem cor....não é Vermelho e Branco
    é BRANCO e VERMElho com estrelinhas..

  • a secom, federal, deveria aplicar um FATOR DE IMPARCIALIDADE ao seu critério técnico de distribuição da verba publicitária do governo federal (administração direta, indireta, autarquias, fundações e empresas, especialmente banco do brasil e cef. índice de 1,00 para aquele veículo que divulga um fato, sem manipulação. aquele outro que veicular o mesmo fato, alterando-o, pró ou contra o governo, sofrerá um REDUTOR. abre-se um CONTA CORRENTE, em dado período, e após apura-se um ÍNDICE que percentualmente significará um REDUTOR ou não da verba. o que não é razoável e afigura-se-nos ingenuidade absurda é continuar financiando aqueles que sistematicamente se posicionam como adversários político e ideológico.

  • A pergunta que não quer calar é, este IBOPE estupendo que havia era realmente verdadeiro ou estão "ajustando" em razão da entrada de novas empresas de pesquisa no mercado?

  • Quando penso na globo me vem de imediato as paredes de suas sedes cobertas de excrementos lançados pelas manifestações indignadas, em resposta à manipulação da opinião pública. Os jovens que fizeram isso devolveram à globo a merda espargida durante décadas ao povo brasileiro: bbb, zorra total, amor & sexo, novelas, jn, só lixo. Sua decadência é uma notícia alvissareira para este fim de ano.

  • Quem diria! A Vênus platinada nem em Irajá dá IBOPE!Pelo menos com tão poucos pontos, a queda será suave. Do chão não passa...

  • O talJN,que de ha muito faço questão de ignorar,é uma obra de ficção da pior qualidade.Sinceramente?Tenho é pena dos que acreditam nessa corja de mentirosos e manipuladores.

  • "Talvez, quem sabe, o público tenha se cansado de lhe dizerem, todos os dias, há dez anos, que o Brasil vai mal e ficará pior ainda".

  • sra ministra da Secom: mande um email pro papa Chico confessando-lhe que tem uma irresistivel vocaçao para freira. Ele vai sugerir-lhe um convento.
    E o bndes tambem está esperando o que, pra dar uma injeçaozinha ao GfK?

Related Post