No El País, pesquisa mostra que controle ideológico no MP começa cedo

Quem acha que o Ministério Público vive numa redoma de pureza política e independência  ideológica deve ler a pesquisa, publicada pelo El País, sobre os mecanismos – mais que de controle -de conformação conservadora aplicados sobre os procuradores, realizado pela Cpnectas, uma organização de Direito Humanos com 15 anos de existência e acreditada  com  status consultivo pela ONU.

Em reportagem de Daniel Mello e Eliane Gonçalves, da Agência Pública, ela revela como se forma o perfil conservador dos integrantes do Ministério Público de São Paulo e os cordéis de controle político que conduzem o movimento político que, certamente, ajudam a explicar as escandalosas diferenças de tratamento que lá receberam, por exemplo, a tosca manifestação dos procuradores-patetas no caso do apartamento que teimam em atribuir a Lula e a dormência que marca a apuração dos desvios bilionários do cartel dos trens.

A (de)formação doutrinária , segundo a professora da Faculdade de Direito da USP Evorah Cardoso, começa desde o  período probatório, quando o promotor ainda não tem estabilidade:

” Os promotores novatos precisam enviar relatórios mensais de suas atividades: denúncias realizadas, recursos impetrados, justificativas para processos arquivados. Os relatórios são analisados e o corregedor e seus assistentes atribuem a eles os conceitos ótimo, bom, regular e insuficiente, como um boletim escolar. Rafael Custódio, um dos responsáveis pela pesquisa da Conectas, compara essa estrutura a uma “espécie de Big Brother” que dita o caminho a ser trilhado. “Não está monitorando se o promotor foi pego dirigindo alcoolizado ou se está ganhando dinheiro fora da lei. Está monitorando o teor das manifestações. Esse monitoramento é ilegal. É perigoso. [O promotor] Não tem mais que agir conforme sua cabeça, mas agir pensando no que a corregedoria vai ver.”

Desse modo, os promotores são influenciados, segundo Evorah, a adotar um modo de agir ligado a valores e ideias mais conservadoras e punitivistas, do ponto de vista penal. “

Quem não reza pela “cartilha” vao para a margem. Vira, neste caso, “marginal”, como define a sua situação o promotor Antonio Alberto Machado, que foi para o “desvio” por, segundo ele, “encher a Promotoria de pobre” e defender os direitos sociais:

Como é a vida do promotor que não se alinha ao pensamento hegemônico da instituição?

É uma vida marginal. Marginal no sentido de que você está à margem da ideologia oficial, hegemônica.

Ser marginal tem impacto na carreira?

 Eu tive. Eu fui preterido por oito anos, por exemplo. Fui processado [pela Corregedoria do MP] três vezes.

Preterido como?

Eu não era promovido. Fiquei em Sertãozinho [município de 120 mil habitantes, na região metropolitana de Ribeirão Preto] por oito anos. Muitos promotores que entraram depois de mim na carreira chegaram em Ribeirão Preto muito primeiro que eu.

 Então a antiguidade não é o único critério de ascensão na carreira? Não caminha sozinha?

 Não, não caminha. Ela caminha também por merecimento.

E como se julga o merecimento?

 Merecimento é relacionamento.

Imperdível a matéria, que mostra ainda o troca-troca entre posições no Ministério Público e no Executivo paulista, revelando, segundo um dos pesquisadores. como “o governador gosta dos procuradores”.

A recíproca é verdadeira.

Fernando Brito:

View Comments (14)

  • Agora, no Ministério Público, depois na Magistratura, adiante nos Oficiais Superiores, enfim, em toda cúpula Civil e Militar os donos do mundo (capital financeiro) e seus mordomos e capitães do mato fecham o acesso da população aos mínimos direitos e defesa da cidadania. Depois, quando surgem os Fideis, os Guevaras são monstros ditadores. Quem são os sempre ditadores?

  • Essa pesquisa só mostrou o que todos já sabiam. Quem não se lembra do caso do procurador De Grandis que "esqueceu" nas gavetas as informações enviadas pelas autoridades suíças sobre a roubalheira no trensalão? Os processos irão prescrever, a depender dessa patota de patetas que confunde Engels com Hegels. O pior é ainda ler e ouvir os retardados online e offline falando em aparelhamento do judiciário e da máquina estatal pelo PT, é muita ignorância e cinismo.

      • E da burrice, essa então é infinita (parafraseando Einstein). Basta ver os bucéfalos fascistas que dão as caras por aqui, a indigência intelectual e política seria digna de pena se não fosse trágica para o país.....

  • Esperem um desses coxinhas terem, algum dia, que ficar perante um juiz como réus. Mudarão de ideia em um segundo. Os advogados sabem como é que juiz trata o acusado e seu próprio defensor.
    Em tempo: falem com um amigo advogado e ele lhes dirá.

  • DAVID MARQ, o que posta foto com um pau na mão, leu e não entendeu a matéria. Saiu logo acusando o FB. Coxinha é assim, mistura alhos com bugalhos. Leia de novo, comedor de alfafa.

  • Proposta de emenda constitucional apresentada pelo senador Paulo Bauer (PSDB-SC) impede que quem já chefiou o executivo duas vezes – como é o caso de Lula – possa voltar a concorrer; a PEC, na realidade, explicita o medo do PSDB diante da possibilidade da volta de Lula.

    O Lula não está morto politicamente? Bom, então devo entender que o PSDB não quer a volta do FHC? É isso? Senador Paulo Bauer: você pode enganar coxinhas (isso é muito fácil), mas a maioria da população não se engana com essas manobras. Isso só demonstra que, além do Lula não estar morto, voces sabem que não tem a menor chance de vencê-lo pelo voto direto. Essa PEC é de uma canalhice e de uma burrice (não me surpreendo com isso) sem precedentes. Isso prova que partidos como o seu semore foram contra o povo e à favor das oligarquias.
    Vamos lá coxinhada. Aplaudam mais esse golpe na democracia.

  • Que país é esse?, pergunta a letra da música.
    Eu respondo: um país de merda, onde nem o voto é respeitado.

    • Ou um país de merdas, incapazes de defender seu voto?

  • Se quisermos uma democracia verdadeira no País, será preciso a sociedade se unir e fazer uma faxina completa no Podreciário e no Ministério Público. Ambos os orgãos estão, no estado atual, imcompatíveis com a vida democratica.

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