No Rio, mais de 40% das mortes vêm de ações policiais

Saem como uma notícia local, na seção de bairros de O Globo, com a falta de importância que têm nestes tempos selvagens, números que seriam manchete escandalosa em qualquer lugar civilizado:

Na área onde atuam os policiais do 12º BPM, que abrange as cidades de Niterói e Maricá, foram registrados, em 2018, 75 mortes em decorrência de ações de agentes do estado, os chamados autos de resistência. O índice é o mais alto dos últimos dez anos e 27% maior do que o do ano anterior (59). Em nenhuma outra região do estado os agentes são responsáveis por uma parcela tão grande de mortes violentas. No ano passado, 43,8% do total de 171 homicídios na região foram cometidos por agentes do estado, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). A média é maior que os 41,6% (556 de 1.334 casos) registrados na capital e os 31% em todo o estado (1.532 de 4.936 casos).

Sublinho, para quem não notou: mais de quatro em cada dez homicídios são cometidos pela polícia diante da resistência – real ou alegada – de criminosos ou de quem se supõem que sejam.

Isso mesmo antes da implantação assumida da política assumida de execuções, anunciada pelo energúmeno que assumiu o Governo do Estado e de terem chegado ao poder os “amigos da milícia”.

Se somarmos aos mais de 40% de “autos de resistência” oficiais as execuções dissimuladas ou de autoria de grupos policiais irregulares – antigamente aqui chamados de “polícia mineira” e, antes, de “esquadrões da morte” – não é nenhum exagero dizer que mais da metade das mortes a bala no Estado tem origem em agentes policiais.

Isso não é apenas genocídio sobre as favelas e periferias onde se dão estes crimes. É o suicídio de uma sociedade civilizada e a confissão de fracasso diante do combate ao crime, porque a banalização da morte só ajuda a  trazer mais brutalidade.

Com prejuízo, inclusive, para as forças policiais, que passam a ser vítimas do “eu te mato, senão você me mata”.

E tome de mais armas e armas mais pesadas, numa guerra civil que nunca terrá fim, por este caminho insano. E de gente burra e má, que grita: “mata mais, mata mais!”

Fernando Brito:

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