Nós ganhamos Bolsa-Família todo ano… Muito maior, e ninguém me xinga

Recebo um e-mail do Ângelo, um camarada que não vejo há uns 30 anos, mas que foi um dos envolvidos  na primeira “manifestação subversiva ” que vi e entendi, depois de uns “tios” estranhos que passaram uns dias lá por casa logo após o golpe de 64.

Ângelo, seus irmãos – filhos do velho Alberto, um homem admirável – e outros moleques se revoltaram quando os outros moradores de um conjunto de prédios  modestos na Rua Cabuçu, no Lins de Vasconcelos, subúrbio do Rio, decidiram fazer muros em volta dos edifícios, separando a garotada que crescia junto e junto fazia suas traquinagens.

E picharam os muros novinhos: “vocês estão ficando ricos?” “Pensam que a gente é vaca para botar em curral?”

Pois o Ângelo, neste e-mail, chama-me a atenção para algo que nunca vi ninguém dizer, embora obvio.

Que nós, classe-média – e também os ricos – também ganhamos um bolsa família do Governo, bem maior que o dos pobres…

Pois não é que descontamos, por cada dependente, neste ano de 2014, exatos R$ 2.156,52 no imposto de renda, por ano?

Isso mesmo, R$ 179,71 mensais.

Esta lá, na tabela da Receita Federal.

Portanto, é dinheiro que a gente deixa de pagar de imposto e que se soma às nossas disponibilidades, como diz o Ângelo, para comprarmos o que quisermos, do feijão até bebidas e artigos supérfluos.  Ninguém tem nada com isso e os R$ 179, 71  contam para cada filho, não importa se eu tenha um ou 18 bacuris.

Seria dinheiro do Governo e passa a ser meu, seu, nosso.

Mas os pobres do Bolsa-Família só levam R$ 35 por rebento, ou R$ 42, se forem adolescentes.

Com um máximo de cinco semoventes miúdos, aliás.

Somando com o benefício básico, de R$ 77,  não dá nem R$ 300 reais por mês, ou mais um pouco, se tiver criança pequena, etc…

Menos do que eu descontaria com dois filhos, só.

Mas eu também ganhei – e muitos ganham – também o “Bolsa-Escola”, porque podemos abater  mais  R$ 3.230,46 por ano com escola particular por cada filho, ou mais R$ 270 por filho estudando, sem limite de filhos.

Por filho, note bem.

Nem falamos no plano de saúde, aliás.

E aí, diz o Ângelo, eu posso beber umas e outras com essa grana que deixo de pagar de imposto, e ninguém tem nada com isso.

Ninguém nos xinga por isso.

Ninguém diz que a gente se enche de filhos para ficar com mais dinheiro, em vez de recolher impostos.

Ninguém nos chama de vagabundos, de inúteis, de parasitas.

Mas diz dos pobres.

Como pergunta o meu amigo de tempos “imemoriais”: “Quer dizer que bolsa família pra bacana pode, pobre é que é vagabundo e não pode receber?”

Ângelo, você não se corrige, daqui a pouco vai querer pichar uns muros na Rua Cabuçu.

Se me chamar, eu vou com você.

Fernando Brito:

View Comments (45)

  • Genial!
    A sacada é genial, parabéns a quem escreveu.
    Mais um argumento fortíssimo contra os coxinhas.

    • Interessante notar que a restituição do IR nada mais é do que exatamente isso: restituição de parte de renda tributável.

      Quem recebe restituição de IR é porque trabalhou, produziu e pagou tributos. Pagou, inclusive, a mais do que deveria. O contribuinte, como todo cidadão, tem direito a saúde e educação, entretanto, devido à incompetência do Governo em fornecer tais serviços de maneira eficaz e universalizada, o contribuinte é obrigado a pagar por estes serviços duas vezes: publicamente através de tributos e, posteriormente, de forma privada. Por isso o Governo realiza a referida restituição de IR.

      Já o modelo atual do Programa Bolsa Família é de transferência direta de renda, a quem, teoricamente, não possui emprego ou não possui condições de se autossustentar, portanto, a princípio, não produz e é mantido por um dos princípios básicos de qualquer Estado moderno, previsto em nossa constituinte: a assistência social aos desamparados.

      A teoria do autor, sinceramente, me parece aquela velha e simplória história da luta de classes. O autor não se dá ao trabalho de diferenciar tributo e programa de transferência de renda.

      É o típico discurso de intolerância, sem qualquer argumentação plausível, que só serve mesmo para dificultar o diálogo, elemento básico em qualquer democracia.

  • Inteligência é isto!
    Esta é a maneira melhor para derrotar o PIG que faz a cabeça da coxinhada nativa:
    Inteligência!

  • Excelente a constatação de seu amigo Ângelo. E ainda lembremos a alíquota máxima de IR, que é de 27% para quem ganha R$4.300,00 ou 1.000.000,00 por mês. Qual país desenvolvido e capitalista pratica essa mesma alíquota máxima que é tão baixa?

  • Trabalho em Ipanema. O clima de ódio na Zona Sul do Rio está irrespirável. Acabo de ver um senhor de idade se referir à Dilma como "aquela sapata assassina". Triste...

    • Essas pessoas que xingam com ódio a Dilma, são seres doentes de corpo e de alma.

      Não gosto do Arrocho, mas nem por isso tenho ódio dele. não mesmo.

  • Muito boa! Agora, que as mulheres não me xinguem, vou falar de mulheres "dazelite", aquelas que trabalham em altos escalões ou mesmo em cargos menores do serviço público: imagine um salário de 20 mil reais. Imagine (não vamos falar nem em licença prêmio quinquenio e etc) seis meses de auxílio maternidade: 120 mil reais. Sem trabalhar. Dinheiro que os bolsistas teriam que viver cem anos pra juntar!

  • Mãe, vamos comprar o enxoval do bebê que vai nascer lá em Miami?

    Oba, vamos!

    E querem se queixar de desemprego.

    Sai dessa!

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