Nos jornais, a pressão das elétricas por dinheiro.

Ontem, eu já cansei a paciência dos leitores com este tema, mas é preciso insistir, porque as pressões das empresas (privadas e estatais estaduais) por reajuste tarifário são e vão se tornar mais intensas, com o argumento aterrorizante de que os reservatórios das  hidroelétricas ficarão secos e que é preciso “racionalizar” o consumo de energia.

Claro que essa racionalização se traduziria em benefícios fiscais ou puro subsídio para o setor. Como se sabo ano passado.e, parte das geradoras, sobretudo as de governos estaduais tucanos, como os de São Paulo e Minas, não aceitaram o plano de redução tarifária feito por Dilma Rousseff .

E jornais, como faz o Globo hoje, entram neste mecanismo de pressão justamente no primeiro momento do ano em que as condições hidrológicas se aproximam do normal e aliviam a situação crítica de parte do sistema de armazenamento das hidrelétricas.

Pela primeira vez desde o início do ano, o volume armazenado no Sudeste aumentou – subiu 0,2% ontem, chegando a 34,9% ontem, contra 34,68 da véspera – e, mais importante, a afluência de água se aproxima da vazão prevista pelo ONS para o mês, que é de 67% da média histórica. Ontem estava em 55%, com tendência a chegar, no final de semana, acima de 60%. Em fevereiro, a vazão afluente fechou o mês com apenas 38% da média.

O mais importante, porém, é que a queda de temperatura já provocou o corte de  “5% a 10% da carga” e isso permitiu que a geração hidráulica no Sudeste – ajudada pelo manejo de energia gerada no Sul, onde as chuvas vieram mais cedo – baixasse de uma média de 23,7 MWmédios por dia para cerca de 21MWmédios na última sexta-feira, índice que preferi usar pelo fato de termos tido o carnaval na semana, o que jogaria a média muito para baixo, em torno de 19 mil MWmédios.

A necessidade de produção de energia, em todo o Brasil, que há um mês andava na casa de 50 mil MW médios, caiu a 44 mil MWmed na última sexta-feira, novamente deixando de lado os dias de carnaval, quando andou em torno de 40 mil MWmed.

A verdade é que tínhamos chegado ao final do ano com uma situação que, se não tivesse havido o descomunal e incomum bloqueio de alta pressão que secou o sudeste por 45 dias, já estaríamos numa situação que permitiria o desligamento  progressivo das usinas térmicas. Este foi o preço da estiagem no setor elétrico. O resto é gula financeira e política de urubu, como faz hoje a Miriam Leitão, dizendo que o setor elétrico não funciona porque as pessoas têm medo de falar com a Presidenta dos problemas.

Isso é verdade, mas só numa coisa: Dilma entende especialmente deste riscado, depois de anos como Secretária e depois Ministra de Minas e Energia. Não adianta vir de conversa mole para cima dela, que vai sair espanado.

Porque, como deixa claro Miriam Leitão,  mesmo já não jogando suas fichas no “vai ter apagão”,  o assunto é dinheiro…

Ninguém tapa o sol com a peneira, é obvio que o regime de chuvas este ano foi desastroso, mas daí a dizer que haverá “apagão” é, com os dados que se tem até agora, puro terrorismo pluvial.

Fernando Brito:

View Comments (7)

  • Talvez esteja chegando atrasado ao tema, mas, o fato é que com ou sem Miriam Leitão o governo continua cedendo aos interesses privados. Parece que continua faltando explicação, comunicação por parte do governo ou a oposição está, mesmo, certa em desancar o governo por incompetência. A propósito, o que mudou na Secretaria de Comunicação?

  • Me lembro quando discutíamos se íamos ou não fazer algo, ou se íamos viajar ou não...e ficava aquele alvoroço, quem podia falar mais alto falava, até gritava, em meio a risos e enfases...
    Depois de discutir exaustivamente, como se estivéssemos numa democracia do lar..
    As vozes se direcionavam ao meu PAI, e então PAI...dá ou não...
    ----N Ã O----.
    Pronto acabava a folia...
    Minha Presidente quando abre a boca, é mais ou menos assim..

  • Vc só pode cobrar o que vende. Se não tiver geração, não haverá o que vender pelas distribuidoras. Agora fazer uma Taxa Apagão Antecipada, para manter o lucro projetado das distribuidores, achando que a galinha não vai botar o ovo é achar que estão lidando com otários. Já chega a taxa que pagamos em 2001, pela incompetência do FHC e de seus iluminados de Harvard. Naquela oportunidade faltou foi geração e gestão e pagamos o pato, com apagões, redução compulsória do consumo, gastos com trocas de lâmpadas e as vezes luminárias, pior é que esses moços estão querendo voltar e tem incautos que embarcam nessa canoa furada, tenham a santa paciência.É preciso diferençar a quem cabe e quais são as responsabilidades da geração e da distribuição da energia elétrica que chega na casa do consumidor. O Jornal faz terrorismos dizendo que tudo é responsabilidade do governo e não é verdade absoluta. Temos tidos muitos cortes de energia por falta de manutenção preventiva e investimentos das distribuidoras. O cidadão comum as vezes não sabe desses detalhes e embarca novamente na canoa furada do pessoal das "forças ocultas" , segundo o homem da vassoura. Tristes memórias.

  • A solução DEFINITIVA para a questão elétrica será a chamada geração distribuída. Trata-se de geração de energia elétrica em cada casa ou cada quarteirão. O governo federal começa a dar atenção para essa forma de geração elétrica. Por ora, dependemos de obras gigantescas e caras, e somos pressionados pelos intere$$e$ dos governadores tucanos e seus amigos rentistas. A CESP, por exemplo, está nas mãos de bancos suíços (!!) como o Credit Suisse e outros.

  • uma notícia hoje (no JB) me deixou com a pulga atrás da orelha: decreto da Presidenta autoriza repasses para as companhias elétricas que não aderiram á renovação da concessão nos termos estabelecidos há uns meses atrás. Vale dizer, as 3 companhias elétricas dos estados tucanos de MG, SP e outro que não posso afirmar com certeza, agora querem ajudinha federal para arcar com custos de usar termelétricas. Mas se recusaram a rebaixar tarifas quando o governo lhes ofereceu uma boa situação, preferindo continuar com as tarifas mais altas. Gostaria de que você, Fernando, esmiuçasse um pouco essa tigela de angu. Tem caroço?

  • A bomba-relógio que o PSDB armou com a privatização do sistema elétrico começou a mostrar seus efeitos. FHC doou usinas e redes prontas, e nosso amiguinhos receberam reajustes de tarifas da ordem de centenas por cento, por lei, inclusive durante o governo Lula, que não poderia quebrar o contrato sob pena de pesadas multas. Não havia obrigação nenhuma de se investir em produção de nova energis. Quê tipo de governante sabota o futuro de seu país?

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