A conclusão – 35 anos depois – da apuração sobre a autoria, intelectual e material, do torpe assassinato de D. Lyda Monteiro, secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, na explosão da carta-bomba dirigida ao presidente da instituição, Eduardo Seabra Fagundes, já nos estertores da ditadura no Brasil, não é o ponto final desta chaga na história brasileira recente.
Agora, cabe à Procuradoria Geral da República – mais especificamente ao Dr. Rodrigo Janot – decidir se o caso vai ou não à Justiça, porque não está coberto sequer pela Lei da Anistia – promulgada no ano anterior ao crime – mas por uma alegação de prescrição que, afinal, só pode ser alegada se aceitar-se como legítima toda a “operação-abafa” que envolveu o episódio por décadas.
Antes de reproduzir um trecho do post de Auler – a íntegra está aqui – não posso deixar de prestar uma homenagem a Aníbal Philot – já morto – com quem trabalhei no início de minha carreira, em 1978, cuja foto histórica do atentado do Riocentro, meses depois da bomba na OAB, permitiu identificar com certeza o autor material daquele crime: o ex-sargento do DOI-CODI Magno Cantarino Motta, o “Agente Guarani”, visto no elevador que conduzia ao escritório do presidente da corporação por um ex-colega de quartel.
Dos olhos da testemunha e das lentes de Philot, que não se esmaeceram, saiu a verdade que tantos tentaram apagar.
O Mensageiro da Morte
Marcelo Auler (trecho)
Ao longo destes 35 anos, muitas pessoas apontaram para o agente “Guarany” como o portador da carta-bomba. O próprio, em 2014, ao ser procurado pela jornalista e pesquisadora da CEV-Rio, Denis Assis, parecia querer falar sobre o caso, mas recuou por interferência de sua mulher.
Havia evidências e testemunhos, faltava, porém, quem o reconhecesse como o homem visto com a carta-bomba na sede da OAB. Isto foi conseguido pela CEV-Rio, na semana passada, quando uma testemunha que se encontrava no prédio da Avenida Marechal Câmara, centro do Rio, e cruzou com o portador da carta-bomba, o reconheceu nas fotos apresentadas por Denise de Assis, na presença de Felipe Monteiro.
O agente paraquedista não agiu sozinho. Segundo depoimento do ex-delegado de Policia Civil do Espírito Santo, Claudio Guerra, o chamado autor intelectual do plano foi o já falecido coronel Freddie Perdigão Pereira, que por muito tempo atuou no CIE (Centro de Informações do Exército), mas também teve participação ativa no DOI-CODI/RJ e na agência do Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Informações (SNI), onde estava quando decidiu pelo envio da carta-bomba.
O terceiro militar envolvido também já está morto. Trata-se do sargento Guilherme Pereira do Rosário, paraqudeista da turma de Guarany, especialista em explosivos. Ele montou o artefato levado por Guarany à OAB, em uma oficina de um primo seu, como revelou à CEV-Rio o ex-delegado Guerra, que convivia com todos eles, principalmente com Perdigão.
Rosário faleceu ao tentar executar um novo atentado que, pelas evidências levantadas, partiu do mesmo grupo de militares: a explosão de uma bomba no show em comemoração ao dia do trabalhador, no Riocentro, Zona Oeste do Rio, em 30 de abril de 1981. Acabou sendo a única vítima fatal da bomba que ele próprio montou. Com ele estava o então capitão Wilson Dias Machado, que mesmo bastante ferido conseguiu sobreviver.
Na noite do atentado do Riocentro, Guarany estava no local. A foto dele acima é um recorte de uma foto maior em que ele aparece ao lado do Puma onde seu colega de farda e de quartel, Rosário, faleceu com a bomba no colo. Segundo explicou à CEV-Rio o coronel Paulo Malhães, o artefato explodiu quando a corrente do relógio do sargento fez o contato com os polos positivo e negativo do artefato.
Como nesta sexta-feira lembrou o jornalista Chico Otávio em reportagem em O Globo, Rosário, dias depois do atentado à OAB, foi encontrado por duas parentes de Lyda Monteiro na beira do túmulo dela, chorando, como se estivesse pedindo desculpas. As duas senhoras só vieram a saber a identidade daquele estranho visitante quando da sua morte no Riocentro, através das fotos divulgadas pelos jornais.
Nas entrevistas dadas à CEV-Rio nos meses de fevereiro e março de 2014, Paulo Malhães, ao ser questionado sobre a possível participação de Guarany na morte de Lyda, admitiu o envolvimento, apenas ressalvando que ele não seria o autor da ideia.
– Eu conheço o Guarany. Pode até ter sido enviado por alguém para colocar essa bomba. Partir dele, não.
Além de Guerra, dois outros companheiros de Guarany revelaram à CEV-Rio que é ele quem aparece no retrato falado feito na Policia Federal, em 1990, em um segundo inquérito o qual, controlado pelo próprio Perdigão, tentou jogar a responsabilidade no americano Ronald James Watters, que acabou inocentado pela Justiça por falta de provas.
Valdemar Martins, também paraquedista da turma de Guarany e Rosário, no último dia 3 confirmou o que já havia dito em 2014 à Denise Assis:
-Na época em que eu estive ai dando o depoimento para vocês, vi algumas fotos. Falei que era o Magno Cantarino Motta. Um agente que era sargento paraquedista, que serviu na mesma unidade que eu, junto com o Guilherme Rosário, ai no Rio de Janeiro. Era o agente Guarany. Confirmo que era o Magno Cantarino Motta, sargento paraquedista que serviu na minha unidade.
-Então podemos considerar um depoimento oficial para a CEV-Rio, uma declaração sua de que reconheceu aqui na sede da Comissão o paraquedista Magno Cantarino, o agente Guarany, como autor da entrega?
– Sim.
Sim, o autor da entrega. Mas não o único autor do crime.
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Forças armadas de primeira. Uma quadrilha de bandidos terroristas a serviço de uma potencia estrangeira contra o povo que pagava o salario dessa canalha. Traidores. Depois os outros é que são terroristas. Bandidos!
Um sargento, um subalterno (que me perdoem os subalternos do bem) que além de tudo explode um bomba que ele fabricou no seu próprio colo. Isso não pode ser somente ironia. Tem outro nome. Burrice, minha sugestão.
Pela minha idade, 67 anos, me recordo perfeitamente dos dois episódios. Fico imaginando a tragédia que teria acontecido, se esses facínoras tivessem conseguido levar a cabo o que pretendiam no Rio Centro. Me recordo ainda, do desespero da globo defendendo os criminosos, dando espaço ao coronel Job Lorena na tentativa de transformar esses bandidos em vítimas dos "comunistas". Se muitos desses coxinhas soubessem um pouco da história, acho que pensariam diferente hoje.
Se as FFAA tivessem vergonha por terem agido contra o Brasil e sua gente, não teria imposto a ''lei'' da anistia encobrindo até crimes contra a humanidade e teriam reabilitado os militares que defenderam a nossa Constituição. Os golpistas degradaram as FFAA à condição de organização criminosa ao serviço deles mesmos e do capital transnacional. Gregorio Bezerra declarou que ficara impressionado com uma situação sem precedentes. Ele foi testemunha do degrado a que chegara as FFAA. Como escreveu um escritor, ''se se contabiliza o dano a toda uma geração, pela queda vertical da qualidade do ensino, do avanço do pensamento social, que em 64 virou coisa de comunista, como se os comunistas não fossem uma instância legítima de ser, então os atingidos são milhões na ditadura''. Sobre o papel ''modernizante'' do poder militar, a história ensina que foi para satisfazer o apetite de um poderoso bloco de interesses capitalistas transnacionalizado levados à frente na base da porrada, corrupção desenfreada, controle repressivos e... bombas. Malditos sejam os ''guaranys''. SAPERE AUDE!
Oi Fernando
"Que pena que no carro nao estava no lugar da vitima, o LULA e a Dilmãe, o brasil estaria bem melhor"
O Nível já foi bem melhor.
Um censura sobre alguns, seria bem vinda.
O 247 baixou por qui.
Saudações
Uma pergunta : Onde anda esse facínora, hoje? Fica a pergunta.
A classe dominante (civil, militar, política, eclesiástica) do Brasil, focada nos interesses do capital internacional, dá por assente que o seu povo não é seu e decidira transformar essa abstração em realidade. Uma oficialidade recalcada, vingativa, subdesenvolvida, inculta, paranóica e covarde interpreta — ainda hoje — o mundo do alto do seu status de elite, convicta que o civil é incompetente por natureza (foi com constrangimento que vi no doc. ''A noite que durou 21 anos'', o terrorista Newton Cruz, general, estigmatizando a multidão da Central do Brasil no discurso do Jango. A cara magra do boçal lembrava um velho galo garnizé mas sobretudo a sua boca era o perfeito exemplo do esfíncter anal e suas palavras eram flatulência. Um general que não tinha idéias nem podia tê-las. O traço comum entre todos eles era a merda na cabeça: o guarany pode confirmar. A lei da anistia tem que ser revogada.
Ora, era apenas ação de arruaceiros! Coma a do Instituto Lulla!
Pera ai....35 anos apos uma testemunha lembra do rosto de alguém? Lembrou do rosto agora ou ha 35 anos atras do rosto de 35 anos atras? Perderam a noção?
Como diria o capitão do quartel onde servi em 1979 não confunda militar com bandidos de farda de uma quartelada gaúcha.