Um dia, surgirá alguém com talento e fantasia para escrever sobre a Inquisição do Terceiro Milênio.
Porque é assim que temos, hoje, também um Tribunal do Santo Ofício, que exige o temor e o respeito incondicional ao novo deus, o Deus Mercado, e aos dogmas de sua adoração.
O “eu sustento que a finalidade da Ciência é aliviar a canseira humana” que Brecht colocou nos lábios de Giordano Bruno e que o levaram ao fogo equivale, hoje, a sustentar que a finalidade da riqueza é aliviar a miséria da humanidade.
Os sacerdotes desta religião torcem o nariz diante de notícias como a que dá, hoje, a Folha, de que a Presidente Dilma Rousseff “ainda se mostrava inflexível na determinação de preservar os programas sociais”. Isso, afinal, “impedirá que se chegue ao corte de R$ 20 bilhões, definido como mínimo para que o anúncio seja considerado robusto”.
E se insurgem contra qualquer possibilidade de que, em lugar de cortes que aumentem o sofrimento dos pobres, arrecade-se o necessário à “robustez” das contas públicas com míseros reajustes na estrutura dos impostos que privilegia os ricos.
Quem disser o contrário – e até o atual papa o diz – é um herege.
O presidente da Whirpool – dona da Cônsul e da Brastemp – diz que “não há espaço para aumentar impostos” e resume: “queremos superavit” cortando despesas. Quando Lula e depois Dilma cortaram o IPI de seus produtos e entupiu-se de vendas, este senhor certamente não ficou assim, amuado.
A nova Inquisição, com seus ternos bem-cortados e seu fundamentalismo, constrói, com a ajuda de uma mídia histérica, a ideia de que o imposto é “pecado”, valendo-se da corrupção que desviou deles migalhas ante as montanhas que lhes consumiram as parcas melhorias no ensino, na saúde, na habitação, na infraestrutura. E, claro, do Himalaia dos juros pagos pelo Estado Brasileiro, dízimo supremo que a Nação paga aos sacerdotes da fé mercadista.
Exige, não menos, que Dilma abjure de seus compromissos e crenças, e que tire daqueles que a levaram ao poder.
Não porque isso vá economizar mais cinco ou dez bilhões de reais, mas porque isso vai agravar – com a ajuda dos que não compreendem que estamos diante de escolhas de vida ou morte – o desgaste político do Governo diante daqueles que o apoiaram e ainda apoiam ou podem voltar a apoiar.
E um passo a mais no verdadeiro auto de “fé mercadista” que se deseja: lançar à fogueira qualquer governo que não seja a ela submissa, não por necessidade, mas por natureza.
Afinal, mesmo coagido, um governo pode abjurar de suas crenças sociais tal como Galileu abjurou da ideia de que a Terra era fixa e o centro do Universo.
Murmurando, à espera do tempo, que, apesar disso, ela se move.
E que se mova, com a volta de Lula.
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Então, por dedução simples, concluo que se a Dilma ainda resiste a mandar às favas todo o investimento em políticas sociais, caso venha a presidenta a cair, assumirá sabe-se lá quem? Certamente quem não resistirá e mandará os milhões de pobres e miseráveis de volta ao seu "lugar" de sempre, o lugar em que sempre estiveram ao longo dos 500 anos desta nação. Ou seja, qualquer substituição será para pior. Quanto à questão de aumento de impostos que a meu ver seria cobrar impostos dos ricos na mesma proporção que se cobra dos pobres e da classe média, então, na realidade o tal exemplar idêntico ao Skaf quer é que não se venha a cobrar impostos sonegados, já que o sonegômetro está aí para mostrar que mais de 500 bilhões é o montante do desvio. E quem sonega tanto e em tamanha proporção não pode ser pobre.
Brito, confesso que a angústia é o pior dos sentimentos.
O rentismo é a maior bolha no mundo de hoje, em segundo lugar o Dólar.
No setor de alimentos a especulação no setor é 4 vezes maior que a produção real de alimentos.
A produção de alimentos corresponde a 10 bilhões de toneladas anuais, a necessidade do planeta é de 7 bilhões, mesmo assim a insegurança alimentar assola a humanidade.
Há uma ofensiva clara, claríssima da máfia anglo-sionista sobre o Brasil, pois depois da capitulação da Grécia podem voltar seus olhos naturalmente ao "gigante" sudamericano, como diz o El Pais !
Mas esta ofensiva só pode ser vencedora se Dilma Rousseff ceder, algo que parece inevitável a esta altura do jogo. Entretanto, não bastará, as forças desejam que ela seja alijada do poder, expulsa como cão leproso para evitar a todo e qualquer custo o LULA em 2018, assim a questão a ser posta é ...até que ponto vale dobrar-se aos interesses dessa corja de agiotas ?
Fogo neles Dilma, fora Levy, esse canalha tucano ! Levantemos nossa Nação entre as grandes !
Por fim, mais uma vez peço apoio aos ilustríssimos leitores deste blog à PEC 186 , pela autonomia do FISCO.
#PECDAEFICIÊNCIA
Dilma entregará tudo o que o mercado e a oposição exigem e, a seguir, será descartada pelos representantes do tal deus mercado.
Fica, uma vez mais, a lição de que lideranças políticas têm que defender sua ideias no palanque e praticá-las no palácio.
A soberba e o isolamento são maus conselheiros, pois afastam companheiros e estimulam adversários.
Ministros fracos e incompetentes são gatos aduladores que retratam bem a fábula sobre gatos e cachorros, em que estes seriam leais aos donos da casa e, aqueles, apenas à casa.
Brito, na época do mensalão, escrevi um versos cujo o título era "Nova Inquisição". Depois de algumas estrofes, terminava assim:
Mas hoje brotam sinais,
de uma nova inquisição.
Com a imprensa na direção,
travestida de vestais.
Recheando os jornais,
com éditos de acusação,
num tribunal de exceção
que prescinde dos rituais.
Obediente aos cabedais,
dos que manejam o timão.
Parece que vem de outrora,
este ar de Santo Ofício,
auto de fé que é propício
aos interesses de fora.
Que querem trazer na espora,
os que vivem em sacrifício.
Pois sempre foi de seu vício,
o tronco, o laço e a esfola.
Quem bate, não sente a sola,
nem os pregões do silício.
Mas se a justiça é cega,
pra não ver quem vai julgar,
é também de se esperar
que não vá no "pega-pega",
dos que brotam da macega,
prontos para condenar.
Sem ao menos analisar,
desfazendo quem alega,
e já prontos para a prega,
dos que vão crucificar.