O aniversário do real e o valor do dinheiro. Dinheiro real, aquele que você recebe.

Os jornais publicam  matérias mostrando que a nota de 100 reais, lançada no Plano Real, por Fernando Henrique Cardoso, hoje vale apenas R$ 22.

É verdade.

A inflação, claro, come o valor do dinheiro.

Então, este humilde blogueiro, que tem mania de fazer conta, foi lá na “Calculadora do Cidadão” do Banco Central ver como foi este processo de desvalorização.

E fez a conta para saber quanto aquela nota perdeu em cada governo.

Mas não esqueceu de fazer a outra conta, tão importante ou mais, que é a de quanto dinheiro (o de papel e o verdadeiro, que é o seu poder de compra) recebe.

Acompanhe com atenção.

A azulada pelega de 100 de FHC, em fevereiro de 2002, oito anos depois de sua estréia, tinha sido vítima de uma inflação de 143,3%.

Para comprar o mesmo que 100 reais de 94,  seriam precisos 243, 29 reais.

A nota de 100, portanto,  valia  41,11 reais.

No governo Lula, aqueles R$ 41,11 também perderam valor, é claro.

Até fevereiro de 2011 – iguais oito anos – a inflação pelo IPCA foi de 65,37%.

E a cédula de R$ 100, que já começou este período valendo R$ 41,11, desvalorizou-se para R$ 24,85.

No governo Dilma, com a inflação de 19,74% acumulada até fevereiro e mais 6% de inflação estima da até fevereiro de 2015, a perda será de 27,1%, aproximadamente.

O que faria aquela nota de R$ 100, que FH transformou em R$ 41, que baixou com Lula a R$ 25, vá chegar, ao final do período Dilma, valendo R$ 19,56.

Se eu fosse fazer uma conta desonesta – não sei onde já se viu fazer contas desonestas na imprensa brasileira, né? – poderia dizer que Fernando Henrique tirou 59 reais da nota, ou R$ 7,37 por ano, enquanto Lula tirou bem menos, 26 reais ou R$ 3,66 por ano, e Dilma, em quatro anos, perto de R$ 4,50, ou R$ 1,10 por ano.

Mas não é assim que se avalia, exceto quando se quer fazer comparações desonestas.

O certo é dizer que FHC fez a nota perder 59% de seu valor, ou 6 por cento ao ano, em oito anos.

Que Lula assistiu a uma redução de 39,4% do seu valor, em oito anos, o que dá  4,2% ao ano.

E que Dilma a viu reduzir-se em  21,3%, ou 4,9% ao ano, em quatro anos.

Um pouco acima de Lula, bem abaixo de FHC.

Agora, a trajetória do dinheiro real, para milhões de trabalhadores, aposentados, pensionistas e avulsos: o salário mínimo.

No final do Governo FHC ele era pago com duas daquelas notas de cem reais que, como vimos, valiam R$ 41,11. Então, em valor deflacionado, valia R$ 82,22.

A história de que Fernando Henrique deu ganho real ao salário mínimo está apoiada precariamente no fato de ele ter “herdado” quatro meses de salário a R$ 80, fixado por ele mesmo no finzinho do Governo Itamar Franco.

Já no final do Governo Lula, em 2010, o salário mínimo era de R$ 510, ou pouco mais que cinco notas de cem. Como, no fim deste período, cada uma destas notas tinha valor real de R$ 25, isso equivalia, em dinheiro “forte” do início do real a R$ 127, 50, ou 55% mais do que aqueles R$ 82,22 que Fernando Henrique deixou como herança.

E com Dilma, o que temos hoje?

O salário mínimo passa de sete notas de cem: 7,24 delas, precisamente. Como cada uma delas valerá R$ 19,56, isso dá R$ 141,61, sempre naquele “real forte” do início do plano.

Em percentagem: 11% mais que no final do Governo Lula e 72% mais que no final do Governo Fernando Henrique.

Esta é a verdadeira medida do poder de compra.

Não apenas o da moeda, mas o da moeda que se recebe.

O que, no caso de quem trabalha, chama-se salário.

Mas salário não é santo do altar dos nossos economista, mais devotos do “santo tripé” macroeconômico, não é?

 

 

 

 

 

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • O FHC nunca lançou o real como moeda, ele já tinha deixado o governo para concorrer a presidência. Foi o Ricúpero que lançou a moeda e o presidente era o Itamar (PMDB, não PSDB!).
    Tche, esse era para ser um BLOG de esquerda, e os caras dão corda pro FHC/PSDB... ou simplesmente é a arte de inventar e mentir, mesmo que para prejuizo próprio, e assim manter uma "coerencia da mentira"...rs...?

  • a comparação é ótima.
    o gráfico na figura é péssimo.
    a impressão que passa é que as duas notas do Itamar valem mais que todas as da Dilma.
    sugiro uma figura com as notas todas no mesmo tamanho, sobre fundo branco e com os textos do lado de fora.
    abraço.

  • Concordo, o desenho tinha que mostrar as notas do mesmo tamanho pra dar visualmente o valor da matéria

    • Também concordo. Brito, tá muito confuso. Tudo bem que não sou economista mas tá tão difícil de entender que pior ainda será repassar isso para alguém a quem queiramos convencer.

  • Parabéns pelo post, mostra o pq da inflação, devido à alta absurda do SM, acima da inflação e, principalmente, da produtividade do trabalhador. É impressionante como no Brasil os princípios macroeconômicos são desrespeitados. Salário nao gera desenvolvimento, lucro, poupança e investimento sim. Mais uma vez, parabens pelo post.
    Atc
    Dilter Folha

    • E como é que alguém pode poupar sem ter salário, companheiro ?!? Ahhh.... claro, vivendo de rendas, recebendo herança ou dividendos de ações, enfim sendo um rentista, né!?!? A meu ver os princípios macroeconômicos, que são iguais para todos, são: Câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário, coisa que o 'FDP, digo, fhc' só adotou por imposição do BILL CLINTON, em 1998, como condição pra liberar o empréstimo do FMI que o reelegeu. O que o BRASIL precisa é reduzir esse SUPERÀVIT PRIMÁRIO absurdo, feito para garantir a grana dos BANCOS e reduzir também os JUROS, que não controlam inflação pôrra nenhuma, e aumentam cada vez mais a remuneração dos BANCOS; só assim sobra dinheiro para investimentos. O resto é trololó de tucano rentista sem voto...

      “ANOS tuKKKânus LEWINSKYânus NUNCA MAIS !!! NO PASSARÁN !! VIVA GENOÍNO !! VIVA ZÈ DIRCEU !! VIVA A LIBERDADE, A DEMOCRACIA E A LEGALIDADE !! VIVA LULA !! VIVA DILMA !! VIVA O PT !! VIVA O BRASIL SOBERANO !! LIBERDADE PARA JULIAN ASSANGE, BRADLEY MANNING E EDWARD SNOWDEN JÁ !! FORA YOANI e MÉDICOS COXINHAS !! ABAIXO A DITADURA DO STF DE 4 PARA A GLOBO !! ABAIXO A GRANDE MÍDIA CORPORATIVA, SEU DEUS 'MERCADO' & TODOS OS SEUS LACAIOS & ASSECLAS CORRUPTOS INIMPUTÁVEIS !! CPI DA PRIVATARIA TUCANA, JÁ !! LEI DE MÍDIAS, JÁ !! ******* "O BRASIL PARA TODOS não passa no SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO - O que passa SISTEMA gloBBBo de SONEGAÇÃO é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"

  • Outra comparação interessante é demonstrar quantas cestas básicas podiam ser adquiridas com o valor do salário mínimo durante o governo FHC e qual é a quantidade que pode ser adquirida no momento.

  • Espero que um dia a correlação de forças permita que o Brasil tenha juro zero e inflação zero, como qualquer país decente. Desvalorizar a moeda é desvalorizar os salários. Melhor ter aumentos menores de salário que sejam reais. Desvalorizar a moeda é desvalorizar salários e aposentadorias. Voto na esquerda porque acredito que o governo só não baixou ainda mais os juros, mantendo a necessidade de expandir a base monetária, em razão dos acordos que fez com parte da direita para manter a governabilidade. Mas a verdade é que a inflação só existe porque existe gente poderosa que ganha muito dinheiro com ela.

  • Fernando,
    Um argumento que poderia ser usado, tanto de uma parte quanto da outra, é que as moedas naturalmente depreciam com o tempo - umas mais, outras menos. O próprio dolar de 2014 vale apenas 0,63 dolares de 1994.
    A chave da comparação está, então,nas taxas de depreciação por um período determinado.

    Ajudando nas contas: se compararmos com a depreciação (devido à inflação) do dolar no mesmo período teríamos:

    US$ 1,00 em 2014 = US$ 0,63 de 1994 (2,37% de inflação média anual no período)

    Comparando por períodos (FHC/Lula/Dilma):

    US$ 1,00 em 2002 = US$ 0,83 de 1994 (2,43% de inflação média anual no período)
    US$ 1,00 em 2010 = US$ 0,82 de 2002 (2,54% de inflação média anual no período)
    US$ 1,00 em 2014 = US$ 0,93 de 2010 (1,92% de inflação média anual no período)

    http://www.dollartimes.com/calculators/inflation.htm

    Portanto, ninguém poderia alegar a conjuntura monetária internacional, pois essa esteve relativamente estável em todo o período(pelo menos no caso do dolar).
    Sobra, portanto, comparar a capacidade do poder de compra. E a conta que você fez mata a charada, com a superioridade dos governos trabalhistas. Mas de uma mídia partidária que distorce até os desenhos dos gráficos e a matemática, nào dá para esperar melhor coisa...

  • A imprensa começou a fazer reportagens sobre o plano real, certamente com a tentativa de sustentar as candidaturas do PSDB. Então, virá, por aí, muitas outras "histórias de carochinha", para serem contadas, principalmente para os jovens, que não passaram por aquele tempo. Temos que ficar atentos.
    Acrescento, aqui, a este excelente texto, que o real de FHC era uma moeda fictícia, mentirosa, IRREAL, pode-se dizer. Foi uma saída, boa é verdade, no momento de intensa inflação, mas obtida pela âncora cambial - dinheiro emprestado do FMI - que suportava artificialmente um real com valor superior ao dólar!
    Era para ao longo do plano ir fazendo desvalorização, pois a sua meta era possibilitar, pelo menos, temporariamente, um chega para lá na inflação dita inercial ( expectativa de inflação) que era o seu motor maior
    FHC quis se reeleger e não deixou o real se desvalorizar, emprestou demais, ficamos devendo tudo que jamais iríamos pagar, vendemos ativos, despejamo-nos de nossos bens soberanos, para terminar os dias de seu governo, deixando-nos um País falido.

    • Muito bem, bem analisado. O FHC quebrou o país duas vezes, é necessário bater nisso muitas vezes, existe um vídeo no Youtube.

    • O que mais escuto é: O FHC fez o plano real, o Lula herdou a estabilização, etc,etc...Bueno, o Sarnei fez plano(aliás 2!), o Collor fez plano! E daí? Criar moeda, meio mundo já fez. O Brasil quebrou com todos estes planos: Sarnei, Collor e FHC(3 vezes). O resto é conversa pra boi dormir.

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