O Ano Novo chinês

Nestes dias vazios entre o Natal e o Ano Novo, sobram amenidades  sobre tudo e todos, eu me permito a liberdade de tocar num assunto frequentemente esquecido na mídia, e não por acaso.

Nossas relações comerciais com o mundo e seus desafios.

A mídia quase que as resume às relações financeiras, o que é compreensível, dada a profunda vinculação entre suas posições e o “mercado” das finanças.

Ficar neste campo é tornar-se prisioneiro de uma terrível conjuntura mundial.

Como conviver na simples disputa por capitais se  temos como lidar com um crescimento da economia americana que se dá simultaneamente ao encolhimento ou estagnação do restante da economia mundial: Europa no pântano, China em desaceleração, déficits nos países produtores de petróleo, Rússia em retrocesso  e problemas sérios nos demais países emergentes?

Não é bem assim, porém, quando se pensa em estruturas econômicas  mais do que em conjunturas- que são, de fato, estas.

É preciso lembrar que, apesar da recuperação americana e a desaceleração chinesa, a China termina o ano como a nova maior economia do mundo:  seu PIB, pelos critérios do FMI (que elimina contabilmente os desequilíbrios cambiais) , chegará a US$ 17,6 trilhões, contra US$ 17,4 tri dos EUA.

A aceleração da implantação da operação do “Banco dos Brics”, tudo indica, será acelerada para fazer frente a este “bloco dos eu sozinho” que parece ser a opção norte-americana na economia – até com alguma resistência, reconheça-se, do próprio Federal Reserve, que frustrou o “mercado” ao, até agora, não elevar os juros internos.

Estes mecanismos de cooperação estão ganhando visibilidade.

A China imediatamente ofereceu cooperação aos russos diante do impacto desastroso para a economia do país que teve o desabamento do preço do petróleo.

Mas não parece que isso possa significar um abandono dos seus demais relacionamentos, como faz ao anunciar hoje, através do  China Today, que “a importância da América Latina não tem diminuído devido a prioridades da China em vizinhos asiáticos e os Estados mais importantes”.

Por isso, é de se esperar que Dilma, assim como deu prioridade – até cronológica – à decisão sobre os ministérios da área econômica, compreenda que é vital a indicação de um Ministro das Relações Exteriores que compreenda e faça compreender aos agentes econômicos nacional a importância de uma ampliação do relacionamento com os chineses.

É hora de parar com a ideia de que só é possível vender commodities aos chineses – claro que seu volume é e seguirá sendo imenso – e reclamar da importação de manufaturados que nos desindustrializam.

O intercâmbio entre o Brasil e o seu maior parceiro comercial é tímido e caolho.

O número de empresas brasileiras na China não chega a 100, embora tenhamos capacidades absolutamente necessárias a eles, como tecnologia agrícola, de petróleo, de energia elétrica, entre outras.

Nossa elite – a acadêmica, inclusive – dá atenção quase zero a este gigante: das 75 mil bolsas do “Ciência sem Fronteiras” as concedidas para quem busca conhecimento lá fica em ridículos 266 estudantes, oito vezes menos que na “poderosa” Hungria…

Nem mesmo é preciso falar nas condições excepcionais para o funcionamento, aqui, de joint-ventures com as indústrias chinesas.

Claro que não se vá esperar que a China seja “boazinha” ou caridosa. Isso é próprio da mediocridade. É geopolítica, apenas.

Jeffrey Sachs, um dos mais respeitados analistas da economia mundial, assinalou, faz poucos dias”(…)enquanto a China vem crescendo em termos de economia e de geopolítica, os EUA parecem fazer o possível para desperdiçar suas próprias vantagens econômicas, tecnológicas e geopolíticas. O sistema político dos EUA foi capturado pela cobiça de suas elites ricas, cujos propósitos estreitos são reduzir o imposto sobre os indivíduos e empresas, maximizar suas imensas fortunas pessoais e tolher a liderança construtiva dos EUA no desenvolvimento econômico do resto do mundo. Eles desprezam tanto a assistência dos EUA ao mundo que deixaram as portas abertas para a nova liderança mundial da China no financiamento ao desenvolvimento.

Quem não enxergar isso, não vê o futuro.

Fernando Brito:

View Comments (21)

  • É isto, Fernando.
    Entendo pouco de economia, mas aqui em Brasília percebo a pequenez do empresário do DF.
    3 pequenos exemplos: (1)o Pão de Açúcar vende, aqui, pela internet, mas o desabastecimento é enorme - não dá para fazer compra de mês, por exemplo. Neste final de ano em nenhum dia em que fiz compras, consegui comprar amêndoas sem casca nem com casca (!!!); frequentemente faltam pedaços congelados de frango e por aí vai. (2) A rede Giraffas fica dias sem ter sassame que é o único frango "comível" que eles vendem. E pior, tem o costume de não fornecer cupom fiscal nem quando se pede. (3) A tradicional Casa do Rio Grande do Sul, mesmo com várias reclamações, nunca recolheu um aparelho de jantar cheio de defeitos e nem respondeu à reclamação e muito menos devolveu o dinheiro.
    São pequenos exemplos que mostram a descaso com o consumidor, com o país e com o DF.
    Penso, por isso, que não sabem nem o que é geopolítica. Você tem toda a razão. Por isso seguem políticos e TVs que também não sabem.

  • Brito, obrigada pela companhia durante este ano (não desde o início dele, que comecei mais ao meio, creio)e mais que obrigada pelos textos magníficos!E por ser quem é.
    Feliz e próspero Ano Novo!

  • Fernando, mais uma vez você nos traz esperança e razão, verdadeiro contraponto a nossa mídia infeliz. sectária, parcial e desprezível. Ainda temos rezões para acreditar em 2015. Feliz ano novo!

  • Mas isso que está acontecendo faz parte de uma estratégia de dominação e imperialismo.

    Existe um grupo seleto de pessoas que se reúnem há alguns anos com a finalidade de introduzir uma nova política e mecanismos de controle da economia global.Essas pessoas e famílias controlam a União Europeia , recentes administrações dos Estados Unidos, e influenciam decisões da ONU , do Banco Mundial, e do FMI.A Comissão Trilateral, o Clube de Bilderberg, a família Rockefeller e a família Rothschild , entre outros, são os que dominam grande parte do fluxo de capital no mundo, e dominam os meios de comunicação.Usam o jornalismo para ter domínio sobre a opinião pública, gerar confusão.Um exemplo foi a gripe H1N1.A mídia criou uma “epidemia” para que a indústria farmacêutica vendesse vacina.Querem criar uma nova ordem mundial, com um governo único.Os BRICs estão contrariando essa intenção.

    Não é teoria da conspiração, existe um livro chamado A verdadeira História do Clube Bilderberg , Daniel Estulin:

    http://www.nacionalismo.com.br/pdf/livro_01.pdf e outras matérias que falam a respeito.

    http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/reportagens/bilderberg-um-clube-secreto-governa-o-mundo
    http://www.espada.eti.br/trilateral.asp

    As pessoas que se interessam pelo assunto deveriam pesquisar sobre isso.Porque as notícias do ocidente são dominadas por uma meia dúzia de agências de comunicação, e as empresas de imprensa trabalham num mercado de formação de consenso pró império Anglo-sionista-americano.

    Fernando, por favor me corrija se eu estiver errado.

    Tenham um bom 2015!

  • Fernando, obrigado por sua coragem, honestidade e generosidade com o povo brasileiro. Vamos seguir juntos em 2015. Vamos continuar ajudando nosso pais a avançar em direção a um país mais justo. Obrigado e um feliz 2015

  • Fernando,

    tentei fazer um comentário e não consegui , deu a mensagem como já feita.Mas ela não apareceu, por isso vou tentar de novo.Se for duplicada me desculpe:

    O que as pessoas precisam saber é que o comportamento da midia faz parte de uma estratégia de dominação e imperialismo.

    Existe um grupo seleto de pessoas que se reúnem há alguns anos com a finalidade de introduzir uma nova política e mecanismos de controle da economia global.Essas pessoas e famílias controlam a União Europeia , recentes administrações dos Estados Unidos, e influenciam decisões da ONU , do Banco Mundial, e do FMI.A Comissão Trilateral, o Clube de Bilderberg, a família Rockefeller e a família Rothschild , entre outros, são os que dominam grande parte do fluxo de capital no mundo, e dominam os meios de comunicação.Usam o jornalismo para ter domínio sobre a opinião pública, gerar confusão.Um exemplo foi a gripe H1N1.A mídia criou uma “epidemia” para que a indústria farmacêutica vendesse vacina.Querem criar uma nova ordem mundial, com um governo único.Os BRICs estão contrariando essa intenção.

    Não é teoria da conspiração, existe um livro chamado A verdadeira História do Clube Bilderberg , Daniel Estulin:

    http://www.nacionalismo.com.br/pdf/livro_01.pdf e outras matérias que falam a respeito.

    http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/reportagens/bilderberg-um-clube-secreto-governa-o-mundo
    http://www.espada.eti.br/trilateral.asp

    As pessoas que se interessam pelo assunto deveriam pesquisar sobre isso.Porque as notícias do ocidente são dominadas por uma meia dúzia de agências de comunicação, e as empresas de imprensa trabalham num mercado de formação de consenso pró império Anglo-sionista-americano.

    Um Feliz 2015 para você e o Miguel.

  • Cadê o espirito animal dos nossos empresários(tupiniquim).....
    Fernando o pior cego é aquele que não quer ver.
    Feliz 2015 !!!

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