O Banco dos Brics não é o “FMI dos pobres”.

Há muito pouca informação sobre o papel que terá o banco criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Os papéis, melhor dizendo.

O primeiro deles é ser um banco de desenvolvimento, para financiar projetos de volume e maturação que passem dos limites dos bancos de desenvolvimento locais ou de outros países em desenvolvimento que a eles se apresentem como candidatos ao crédito.

E fazê-lo de forma que beneficie os parques produtivos, tecnológicos e de prestação de serviços dos próprio Brics. E, até mesmo, a venda de matérias primas, em acordos que envolvam grãos, petróleo, minérios.

Não sei qual a forma técnica de compensar a relativa fixidez da moeda chinesa, mas também ajuda este processo o fato de que, ao contrário dos diversos mecanismos de fomento mundiais, que operam com ativos atrelados ao dólar,  balizar sua operação numa cesta de moedas nacionais que, grosso modo, flutua sempre na mesma direção, sem grandes disparidades entre si, é claro.

O segundo papel é formar uma espécie de “colchão” contra ataques especulativos sobre as moedas nacionais dos países membros, certamente por dois caminhos.

Um, o de permitir avançar para um comércio internacional que já não se faça exclusivamente com o dólar sendo a referência.

Outro, através de um mecanismo de compensação monetária, à base de trocas de moeda nacional comprometidas com recompra futura.

Funciona assim: o país A, em dificuldades momentâneas, entrega  moeda nacional a este fundo e recebe divisas em outra moeda, que pode ou não ser o dólar, comprometendo-se a recomprá-las mais adiante.

Claro que haverá limites para este tipo de operação, definidos com proporção ao que cada país aportou para um “funding” do Banco e seu arranjo de compensação.

Estes são os mecanismos econômicos.

Mas há os políticos.

O primeiro e mais evidente é que se cria, na prática, uma ação comum dos Brics nas negociações econômicas – sejam as financeiras, sejam as comerciais – e este bloco é de um tamanho que não há como ser ignorado ou confrontado totalmente nas mesas de economia mundial.

E, mal vem a ser criado, o banco terá um grande desafio: contrapor-se aos efeitos da retirada (anunciada, mas ainda incerta) da oferta de liquidez exercida pelo Tesouro americano através do “quantitative easing”, que mantém a taxa de juros da economia dos EUA com taxa próxima de zero há seis anos e, com isso, faz com que os dólares se lancem aos mercados internacionais em busca de remuneração maior.

O empresariado brasileiro, com sua visão de mula de carroça, certamente vai demorar a compreende o que a criação deste banco representa para a atividade e a internacionalização da economia brasileira.

Se é um exagero qualquer comparação com o acordo de Breton Woods que, logo após a II Guerra, transformou o dólar em meio de troca mundial e consolidou a hegemonia financeira norte-americana através do FMI.

Os Brics, somados, possuem um PIB de 15,8 trilhões de dólares, quase o mesmo dos 16,8 trilhões de dólares do PIB dos EUA.

E, claro, nosso “jornalismo econômico” trata com mais destaque o fat ode o Brasil ter cedido à Índia a presidência da nova instituição do que seu potencial, em si.

Talvez porque ache que o papel de um presidente de Banco é, mais ou menos, os de “arranjar uns negocinhos para os amigos e, quem sabe, um anúncios bem bonitinhos. Um instituição financeira multinacioanl  como esta, obviamente, é regida por critério técnicos extremamente rígidos e por decisões políticas exaustivamente negociadas entre seus membros.

Não funcionam na base do “Dr. Roberto mandou”. Nem o  Setúbal, nem o Marinho.

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • "E, claro, nosso “jornalismo econômico” trata com mais destaque o fato de o Brasil ter cedido à Índia a presidência da nova instituição do que seu potencial, em si."

    Se o Brasil não tivesse cedido a presidência da nova instituição à Índia, o PiG através de seus urubólogos de plantão, estaria acusando Dilma de querer aparelhar o Banco com os companheiros petistas.

    É fazer como foi feito na Copa das Copas, os cães ladram a caravana passa.

  • Vamos nos livrar da constante ameaça americana de tascar uma "scarlet letter" sobre quem o Obama ou qualquer outro presidente terrorista americano acha que deve, como aconteceu com a China em 2005.
    Basta de dólar! Basta de hegemonia americana!

  • É o novo Breton Woods com 7 anos de atraso que o capital internacional movido ao neoliberalismo já deveria ter posto em ação desde 2008, no amago da crise econômica americana e europeia.

  • na verdade o Brasil na eminencia de perder o governo para os neoiberais entreguistas nao pode mesmo presidir este bancoo certamente haveria quebra de contratos importantes para funcionamento do projeto estes caras se ganharem as eleiçoes vao botar para quebrar o Brasil contudo, pois nem a vice presidencia eles ofereceram vao direto sem oposiçao com apoio da ultra-esquerda vai da m................

    • Perder o governo para os neoliberais? Vira essa boca (dedos) para lá! Pé de pato, mangalô três vezes!

    • Creio que você quis dizer "iminência", que significa "prestes a", "perto de". Eminência é sua santidade Francisco. Agora, tanto quanto sua ortografia, sua profecia está errada.

  • Fernando, o que voce tem a dizer sobre a materia vinculada no JB online, sobre uma suposta pesquisa que mostra o brasileiro raivoso com a perda da copa(alias , contrariando tudo que vem sendo escrito pela midia) e assim dando uma bola nas costas da Dilma, que cai para 30%. Achei todo o artigo uma barbarie jornalistica. Parece que o JB , enfim , jogou a toalha. Vai mesmo terminar como um simples bog do pig.

  • Mas que diferença observamos do nosso desempenho como País nos últimos 15 anos. De credor do FMI, o qual ditava a política econômica de arrocho financeiros que devíamos seguir, a uma situação de pagador de todas as dívidas, na etapa seguinte uns dos financiadores desse mesmo Banco e agora um dos criadores de um novo sistema de fomento do desenvolvimento Mundial. De nação subjugada aos interesses internacionais, nos reerguemos e somos protagonista internacionais. Agora que se aproxima as eleições seria bom que o povo Brasileiro percebesse a diferença de país.

    • Bom dia, perfeita a sua analise. É exatamente isto que ocorreu com o nosso país ao longo destes 15 anos.

  • E o imbecil/mau-caráter do Heródoto, da Record News, achou um imbecil especialista (ou vice-versa), que descobriu o que motivou a reunião dos BRICS do Brasil: "Dar fôlego ao seu Putin que está isolado pelos usa e seus amestrados na UE". Fecho do Imbecil Heródoto: Há assim tá esclarecido! Num tem jeito. A gente assiste essas merdas de jornalixo só pela obrigação de conhecer os argumentos dos inimigos do Brasil. Mas dá um asco!

    • Mesmo que esse seja um dos motivos, o que tem de ruim nisso? O Putin é autoritário e preconceituoso? A China é imperialista, escravocrata e desumana? A Índia é uma icógnita? A África do Sul ainda se debate com seu passado? Ótimo, digamos que sim então vamos enumerar quantas vidas os EUA dizimaram no mundo todo. O quanto as Américas foram espoliadas pela Europa. Amo, adoro e me satisfaz ver o Brasil apenas uma posição atrás da Inglaterra (e vamos passar logo logo), pq o Brasil só tem 500 anos e a Inglaterra tem quantos? Por quantos anos eles massacraram colônias? Quanto roubaram de riquezas naturais. Tudo isso pra que? Pra virar cachorrinho de madame do EUA. O que o une o Brasil aos outros BRICS é o sentimento comum e a nova ordem política mundial e não suas diferenças.

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