O “bode” do bode

Aquele sentimento que não pode ser explicado, mas que acomete a gente nas horas em que o cansaço se tornou profundo demais para que passemos a raciocinar com a razão pura é, na linguagem popular, o “bode”.

Não há como negar que todos nós ficamos assim, quando vemos uma monstruosidade, que em circunstâncias normais deveria estar restrita aos programas de “mundo cão” das tardes televisivas, crescer ao ponto de ameaçar  eleger um candidato cujo programa pouco vai além de um “senta o dedo!” ou um “escracha!”.

Chama-se, popularmente, de “bode” o que certa parte da direita está vivendo, também.

Esta eleição ‘estava no papo’, porque sabiam – e faz tempo – que não se deixaria Lula concorrer.

Pintaram e bordaram, tentaram inventar candidatos, ciscaram para todo lado e deixavam um “bode na sala”, como diz a expressão popular sobre o que se coloca num ambiente para que leve a culpa pelo fedor da situação e que podem tornar palatável com sua simples retirada.

Porque, sim, Bolsonaro ia murchar assim que surgisse o candidato da direita “de verdade”.

Os aprendizes de feiticeiro não tinham ideia do poder dos demônios que invocavam.

Agora, de repente, não sabem o que fazer com eles.

Os espetáculos de boçalidade, de misoginia, de brutalidade se sucedem. Em nome da família, cantam que “mulheres de esquerda têm mais pelos que cadelas” e que “Bolsonaro se casou com a Cinderela”.

Garotas de legging e as senhoras de andador da Zona Sul do Rio entregam-se ao mesmo frenesi insano.

Não é um voto a favor de algo, é apenas um voto contra. Contra o convívio civilizado, contra o respeito ao outro, contra a biodiversidade social.

O bode, que seria retirado da sala com a entrada do candidato viável do Inferno, teimou e ficou por lá, com uma legião de gente que se embriagou pelo seu fedor.

Que no entanto, é tão repugnante que está assustando muitos que eram votos certos da direita.

No povão, sobe a onda Lula carregando Haddad em sua crista.

Na classe média, cresce a onda dos que estão de “bode do bode”, daquilo que lhes oferecem como alternativa ao campo popular.

Parece, porém, que é tarde para criarem outra alternativa.

 

 

 

 

 

 

 

 

Fernando Brito:

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  • Na verdade não botaram o bode na sala, colocaram literalmente no trono (acima do 33) e de lá ele não quer mais sair. Mas nós vamos enxota-lo.

  • A economia do bode vai sair do posto Ypiranga. O Brasil vai ser contra mão da história, ?? Não creio!!

  • Agora me diga. Se por um lado é de causar pavor. Por outro lado acho q dá para sentir um pouquinho de satisfAçao, quando vemos o Arnaldo Jabor dar pitis contra o Bolsonaro. Ele que como ngm sabia que o Pt n tinha intenção de transformar o país em uma ditadora, mas nos últimos anos começou a apelar para esse discurso, o que só reforçou as teorias das conspirações que os malucos de extrema direita propagavam, mas a eles não eram dadas atenções. Quando Jabor, Reinaldo Azevedo, entre outros começaram a jogar gasolina na fogueira, achando que o psdb se beneficiaria disso, cometeram um ato burro. Ora, teorias da conspiração e extremismos sobre uma forma de governar levam as pessoas a procurar outro extremo. Se Bolsonaro não existisse, o psdb não ia conseguir nada do mesmo jeito. O pessoal estaria com Magno Malta ou outros da mesma trupe

  • Em primeiro lugar eu me recuso a acreditar que, ao fim e ao cabo, Bolsonaro prevaleça. Não é crível.
    Essa justificativa de um apartheid na sociedade brasileira é superestimado. Há, sim, é inegável, muitas pessoas, principalmente, aquelas de classe média namorando com o desastre. Mas, não pode ser a maioria. Não tem como ser. Seria imaginar que qualquer resquício de bom senso tenha sido abandonado.
    Por outro lado, prudência não faria mal a ninguém. Um movimento no campo da Política, assim com letra maiúscula, que poderia matar esse assunto no primeiro turno seria uma aliança, uma frente ampla, como a construída para enfrentar o arbítrio em 1966. Possível, mas improvável, Alckmin não é um Lacerda e Ciro está a milhas de distância de um JK. Nenhum dos dois abriria mão de suas respectivas candidaturas para, já no primeiro turno, apoiar Haddad e o PT contra a insanidade da extrema direita. Mas, por que não ao contrário? Por que não se unirem em torno de Ciro? podem perguntar. Por duas razões, uma de cunho prático e outra por questão moral. Haddad está à frente na intenção de votos e, portanto, se qualifica para liderar uma aliança de oposição a Bolsonaro. Segundo, mas não menos importante, Lula, O Candidato, em um ambiente político legítimo ganharia a eleição no primeiro turno. Mas, se há uma linha de ação que abriria uma avenida para a reconstrução das bases democráticas, a reconciliação da sociedade e o resgate da Constituição Cidadã, seria essa.
    Está certo, seria esperar demais. Vai sonhando Piragibe, vai...

  • É inevitável um certo tom místico. Impressionante como a "maldade" da direita acabou por aprisionar ela mesma. Há sim uma mudança de voto em faixas da classe média que, normalmente, votariam numa alternativa "não de esquerda", que oscilaria de Alckmin a Marina. Esse voto está convergindo, lentamente, para um voto útil em Haddad. Ainda há chances de um tsunami Haddad no primeiro turno.

    • Acredito que haverão pessoas que votarão 13 ainda no recal de Lula. Acho que Haddad terá no mínimo 30% no primeiro turno.

  • Meu maior medo da eleição do Boçal não é nem das besteiras e ridicularidades que ele fala. Dado os partidos que podem compor o congresso, não acho que ele vai fazer uma maioria que preste. Apenas uma horda de fisiológicos que atenderão apenas a seus feudos. Ainda precisamos ver a composição de quem vai entrar. Mas no senado tá aparentando que vai entrar Dilma, Jacques Wagner, Suplicy, entre outros em outros estados então, haverá uma resistência boa. E o partido que se aliar ao Boçal morre em 2020, pois o único quesito que podem ajudar ele sem se queimar é no econômico, e se o plano deles é ultraliberalizar a economia, o caos econômico que vai ser jogado o Brasil vai fazer até gente que votou nele se voltar contra ele. O partido do judiciário vai atacar ele sem dó para manter a mamata, e sem investimento governamental na economia, o país quebra no final de 2019 com o judiciário pedindo aumentos de 20%, além do legislativo também querendo mais, e dos que querem uma boquinha num ministério. E ele é fraco demais e sem legitimidade para enfrenta-los. O risco maior de guerra civil é se ele entrar. Se ele perder, acho até que ele aceita a derrota, mas reclamando, aí tenta uma prefeitura em 2020 e ganha. Se eleito, as pessoas vêem quão ruim ele é e essa onda morre e vão pra um Amoêdo da vida que se prostra como "novo". Não tenho medo nem acho que ele vai ser capaz de uma ditadura, porque ele vai ver os problemas são bem mais embaixo. Não é 1964, e investidor hoje não gosta de militar no poder, pois vai que ele dá uma de "nacionalista", ainda mais com a mídia e internet hoje podendo divulgar instantaneamente qualquer confusão que ocorre no mundo. The Economist que é uma das bíblias do liberalismo e já botou um medo nos investidores. Ele também nunca teve experiência com Executivo na vida, e ao ver os problemas que isso acarreta, vai sentir saudades do cargo de deputado.

  • Historicamente quando o sistema economico entra em crise, elites e classe média (seus agregados) tratam de arrumar um "bode expiatório". Nos EUA e na Europa, a crise capitalista que se arrasta há uma década, elegeu como "bode expiatório" os imigrantes. Já nos países periféricos, o "bode expiatório" são os pobres. Nos tempos coloniais, serviram como "bode expiatório', indios e depois os negros; nos impérios inca e maia, virgens eram sacrificadas para aplacar a ira dos deuses (quando as colheitas iam mal), e mulheres eram queimadas na fogueira como bruxas (quando doenças infestavam as cidades medievais).....No Brasil, o atual "bode expiatório" está personificado nas conquistas trabalhistas e sociais, genericamente chamado de "esquerdismo", que deve ser morto e imolado no altar do Deus Mercado.

  • A direita mexeu com o 'capeta' que existe nos 'seres humanos'. Agora vão precisar de muito sal grosso.

    • O bom é que os discípulos do capetinha poupam trabalho da oposição, pois se acham muito mais inteligentes do que o "resto" da população e ficam debochando de todo mundo, como no caso da música na praia de Boa Viagem, ontem em Recife.

    • E muita vela Preta!!! O "Coisa ruim tá solto, Saiu lá do inferno de onde deliciava-se com a companhia do Civita "veio".
      Eu acho que o Capeta cansou e veio buscar os Marinhos.

  • Estou participando indiretamente do movimento "mulheres contra Bolsonaro" que vai realizar manifestações em mais de 40 cidades no Brasil e algumas no mundo. Converso, passo mensagens e telefono para minhas amigas dando o caminho da adesão e as estimulo a participar. O eleitorado feminino é aproximadamente metade do masculino. Este movimento poderá derrubar de vez esta pústula plantada pelas elites e classe média brasileiras que se chama Bolsonaro. Mas o que poderia surgir do "domingão na paulista" promovido pelos coxinhas? A direta no Brasil, psdb, neoliberalismo, governo do presidente ladrão, judiciário e seus anexos não podem dizer que não foram responsáveis por isso e a maneira de fazerem engolir de volta esta merda que criaram é votar maciçamente em candidatos do campo progressista que deixará claro a derrota deste golpe infame, tão infame como todos estes mencionados que o promoveram.

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